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domingo, 3 de fevereiro de 2013

2313 - coleguinhas na ilha deserta


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4113                   Data: 14  de janeiro  de 2013
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SABADOIDO ONDE CANTA O SABIÁ

Fiz a minha entrada no Sabadoido no momento em que o Claudio e o Luca discutiam o sexo dos sabiás sob os olhares atento do Vagner.
-Claudiomiro, o Tom Jobim disse para o Chico Buarque que sabiá, na letra da música deles, tinha de ser feminino.
-Tanto pode ser feminino quanto masculino, mas se fala mais o sabiá. - redarguiu  o Claudio.
-Sim, quase todo o mundo fala o sabiá.- intervim.
-Olha que foi o Tom Jobim. - frisou o Luca ao mesmo tempo em que folheava um livro sobre o compositor que ganhara da Glória.
Em seguida, leu que ele implicou com Chico Buarque, quando este se referiu à ave canora no gênero masculino, argumentando que na maior parte do Brasil se fala a sabiá.
-Se ele diz a maior  parte do Brasil... (coloquei nas reticências meu ceticismo).  Nos lugares que conheço, diz-se o Sabiá.
Às minhas palavras, seguiram-se as dos meus irmãos, referindo-se ao estado onde nasceu o poeta Gonçalves Dias.
-No Maranhão, também se fala no masculino.
Então, a figura do centenário cronista capixaba Rubem Braga, que tanto exaltou a ave, até no batismo da sua editora, no gênero masculino, entrou em pauta.
 -O Rubem Braga escreveu 15 mil crônicas, mas não escreveu nenhum livro.
-Luca, existem os livros de crônicas. - aparteei.
-Isso, há os livros de crônicas, os livros de poemas.- ratificou  o Claudio.
-Você quer dizer que ele não escreveu nenhum romance, Luca.
-Claro, juntando as crônicas do Rubem Braga se fazem vinte livros. O Luís Fernando Veríssimo, o João Ubaldo Ribeiro, o Zuenir Ventura, o Carlos Heitor Cony escrevem crônicas, mas também fizeram romances; Rubem Braga, não, ele se dedicou apenas às crônicas.
Em seguida, reportando-se a uma resenha sobre o cronista que o Globo editara nesse dia, falou que ele era péssimo em matemática, no colégio, mas redigiu uma redação, ainda garoto, que foi publicada em Cachoeira de Itapemirim.
Depois, reportou-se a si próprio.
-Certa vez, a professora me mandou resolver um problema de matemática no quadro negro, e eu fazia tudo errado, Ela chamou um aluno que passava pelo corredor, e ele, que era da série abaixo da minha, resolveu. Então, ela disse que eu era burro, pois o menino sabia mais do que eu. Sempre fui atrevido, e repliquei dizendo que a professora dele sabia ensinar.
Nem tivemos tempo de aguardar a reação avinagrada da professora, pois a oratória do Luca fluía rapidamente.
-Ela bateu, então, com o apagador na minha cabeça.
E chegou, por fim, à comparação com Rubem Braga.
-Tive, também, uma redação que foi considerada  a melhor de todas.
A palavra e o novo assunto passaram para mim.
-Ontem, ouvi das 18h às 19h, na rádio CBN, uma entrevista com o pianista João Carlos Martins e, por coincidência, assistiria, pouco depois,  a um programa com ele na TV Senado.
Nesse instante, surgiu uma conversa paralela entre a Gina e o Vagner, mas como o Luca e o Claudio prestavam atenção em mim, segui adiante.
-João Carlos Martins contou fatos que eu desconhecia. O pai dele teve câncer no estômago e o médico, antes da cirurgia, afirmou que ele tinha só seis meses de vida. Ele retrucou: “o senhor não me conhece”.
-Morreu com 102 anos de idade e de outra  coisa.- antecipou-se o Claudio, que já conhecia essa história.
-Morreu de acidente. - acrescentei.
Como o Luca também mostrou que não ignorava essa superação do pai do valente pianista, perguntei:
-Então, vocês sabem também das prostitutas bolivianas que compareceram a um concerto dele, quando tinha 19 anos de idade?
Como titubearam em responder, reproduzir o caso tentando, em espanhol, repetir o grito de incentivo de uma delas, quando ele tocou as primeiras notas do Concerto nº 1 de Tchaikovsky.
Prossegui:
-Na rádio CBN, pediram para escolher quem era o melhor de uma espécie de duelo; dois entrevistadores respondiam primeiro e, depois, João Carlos Martins  com a participação da plateia.
-”Beatles ou Rolling Stones?” - eles responderam Rolling Stones, a plateia gritou Beatles e João Carlos Martins ficou com os Beatles. “Arthur Rubinstein ou Glenn Gold?” - eles confessaram a sua ignorância, e o pianista ficou com Glenn Gold, que considera o mais criativo intérprete , no piano, do século XX.  “Herbert von Karajan ou Leonard Bernstein?” - os entrevistadores revelaram também a sua ignorância e o João Carlos Martins ficou com o Leonard  Bernstein.  “Chico Buarque ou Caetano Veloso?”...
-Caetano Veloso.- interrompeu-me o Luca.
-João Carlos Martins ficou com os dois.
Aproveitando o tema, Luca se referiu a perguntas feitas recentemente ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
-Indagado quem escolheria, entre Sarney, Collor e Lula, para ficar numa ilha deserta, FHC escolheu o Sarney.
-Eu escolheria o suicídio. - pensei, sem me manifestar.
-Ele explicou que, com o Sarney, teria uma companhia para conversar sobre literatura.
-Ouvido, o Sarney declarou que eles palestrariam muito sobre Sérgio Buarque de Holanda, um dos ídolos do Fernando Henrique. - interrompi o Luca.
-Com quem vocês ficariam entre Sarney, Lula, Fernando Henrique e Collor?- interrogou-nos o Claudio.
 -O Fernando Henrique, sem a menor dúvida. - assinalou o Luca, e eu concordei logo.
-Eu preferiria o Lula, porque teria companhia para beber.
Meu irmão leva muito a sério aquela frase dos marqueteiros: “Nós viemos aqui pra beber ou pra conversar?” - pensei, enquanto ele apresentava uma justificativa tosca para a sua preferência depois de ingerir uma dose de uísque.
-Mesmo sabendo que o Lula foi uma decepção,eu ficaria com ele. Quando publicaram a sua fotografia, de bermudas, carregando uma caixa de  isopor com biritas, ele me comprou.
 -Fernando Henrique preferiu a Ísis Valverde...
Não deixei o Luca terminar:
-Foi perguntado a ele por quem optaria para uma ilha deserta: Gisele Bündchen e outra celebridade feminina, cujo nome esqueci, e ele respondeu Suelen.
-Você não assiste à novela, Carlinhos; Suelen é a personagem da Ísis Valverde.
E prosseguiu o Luca:
-A resposta da Ísis Valverde, quando soube da opção por ela foi um encanto: “Por que tão longe?... Podemos ficar num local mais próximo.”
Depois de encerrar a sua conversa paralela com a Gina, Vagner interveio para maldizer o Big Brotlher Brasil. Em seguida, ergueu-se da cadeira, preparando-se para deixar o Sabadoido.
-Tão cedo assim, Vagner? - surpreendi-me.
-Vagner tem segredos... - disse a Gina de uma maneira jocosa.
-São segredos, Carlinhos. - aproveitou ele as palavras da Gina.
Luca apenas sorria, enquanto a expressão do Claudio era carrancuda.
-Se era para ir embora logo, por que veio?- perguntou meu irmão quando a Gina já abria o portão para a sua saída.








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