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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

2287 - Imaginot?

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4087                               Data: 12 de dezembro de 2012
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EM PARIS,  NA SEGUNDA  GUERRA  MUNDIAL

De repente, eu e Elio nos vimos como hóspedes de uma estalagem parisiense nos tumultuados dias que antecederam a Segunda Guerra Mundial.
-Carlos, há muitos comunistas neste lugar.
-Também há anticomunistas, se você procurar bem.
Nossos cochichos foram abafados por Antoine, um impulsivo moço de 25 anos de idade, que gritou em voz alta:
-O camarada Stalin assinou um pacto com Hitler de não agressão.
E concluiu:
-Nosso líder quer preservar o povo soviético da guerra.
Honoré, um anti-Stalin empedernido, de pouco mais de 20 anos, retorquiu com a voz estentórica.
-Os dois fatiaram parte da Europa: A Rússia fica com a Finlândia, a Letônia e a Estônia; e a Alemanha fica com a Lituânia.
Iniciou-se uma discussão em que quase todos os hóspedes se envolveram; muitos defendendo Stalin, outros, atacando-o.
-Elio, como dizia Nélson Rodrigues: “Nada mais cretino do que a paixão política. É a única sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem”.
 Fui, então, para o meu quarto, enquanto o Elio, avesso a discussões, também se retirou, mas para se encontrar com uma costureira que morava  perto da estalagem.
E as notícias e mais notícias dos jornais nos chegavam. A Alemanha entrou na Polônia, logo a França e a Inglaterra, seus aliados, declaram guerra aos nazistas. A Rússia, por sua vez, invadiu a Finlândia, mas encontrou uma resistência heroica.
-Os finlandeses lutam até de esquis e os soldados de Stalin morrem como moscas. - vibrou Honoré.
-Com meia dúzia de combatentes, a Finlândia logo cederá. - desdenhou Antoine com um sorriso na comissura dos lábios.
-Importa aqui a França. Nós temos de pegar em armas para defender o país de Napoleão. - vociferou um senhor, chamado Goriot.
Antoine sussurrou alguma coisa que foi captada pelo Elio.
-O que ele disse? - perguntei.
-Disse que nem francês o Napoleão era.
Surgiu Honoré com um rifle na mão, conclamando a todos o seguirem:
“Allons  énfants de la Patrie, le jour de gloire est arrivé.”
 Ninguém o seguiu, a não ser o senhor que citara Napoleão, e se dizia adepto de De Gaulle.
As notícias assustadoras vinham num crescendo. A força bélica nazista se espalhou pela Dinamarca e, em seguida, pela Noruega. Ingleses e franceses minaram os mares da Noruega para que os alemães  não alcançassem o aço da Suécia e, assim, robustecessem ainda mais a sua máquina de guerra.
Honoré e o senhor gaullista  retornaram à estalagem. Antoine, vendo-os, ironizou:
-Já acabou a guerra?
-Ainda não chegou a Paris. - replicou o rapaz.
Elio, que saíra mais uma vez para se encontrar com a costureira, apareceu logo depois com uma novidade.
-Carlos, eu vi a Ilsa e o Rick, passando num carro, apaixonadíssimos.
Mas não era hora de romantismo; Hitler penetrara na Bélgica e na Holanda.
-Logo, eles estarão aqui. - alarmou-se a dona da estalagem.
-Temos a Linha Maginot (*) para contê-los. - frisou o senhor gaullista.
Apesar da minha admiração pelo seu patriotismo, tive de tapar a boca para não rir.
Logo Dunquerque, a cidade do norte da França, que serviu de base dos navios aliados, na Primeira Guerra Mundial, sofria um devastador ataque dos “Stukas” alemães.
Antoine lia essa notícia acima e acrescentava:
-Chovem bombas alemãs sobre 270 mil ingleses e 110 mil franceses.
Depois, ele lia sobre a espetacular “Retirada de Dunquerque”, quando navios ingleses conseguiram, com êxito, resgatar os soldados aliados que se encontravam encurralados.
Antoine, que estava presente, se manifestou:
-Não se ganha a guerra com retiradas.
-Citando Churchill?... - ironizou Honoré.
-Deus me livre. A Inglaterra não moveu uma palha para defender os republicanos espanhóis da sanha de Franco na guerra civil. - retrucou Antoine.
-Ora, soldados de Stalin, e mesmo generais, envolveram-se nessa guerra ao lado dos republicanos, você queria que a Inglaterra se aliasse a eles? - argumentou Honoré.
-Vocês verão que logo Franco colocará a Espanha do lado de Hitler e de Mussolini. - previu o stalinista.
-Franco poupará o povo espanhol, que mal saiu de uma guerra fratricida. - mostrou-se melhor profeta Antoine.
-Vocês falam da Espanha, enquanto as tropas nazistas já se encontram praticamente em Paris. - interveio Goriot, veterano da Primeira Guerra.
-Tem razão, vou pegar a minha arma. - ergueu-se, resoluto, Honoré.
-Eu já estou com a minha pronta para ir para as trincheiras.
-Ele não sabe que esta guerra será bem diferente da outra. - sussurrou-me o Elio nos ouvidos.
Os dois, minutos após, saíram, e a dona da estalagem interpelou Antoine:
-E você?... Não vai com eles?...
-Tenho muita leitura para pôr em dia. - justificou-se.
-E tem mesmo, Elio; se ele for ler todos os volumes de “O Capital” mais as interpretações de Lênin e outros intelectuais da esquerda sobre o socialismo, só terminará a leitura em meados de 1945.
-Você, Carlos, se dá bem com um e com o outro, embora eles sejam tão antagônicos.
-Como eu não expresso paixão política, Antoine pensa que simpatizo com o comunismo, e o Honoré, imagina que gosto do liberalismo.
Passaram os dias, não muitos, com todos os que ficaram na estalagem apreensivos, pois a guerra já atingira Paris. Foi quando o Elio surgiu esbaforido no meu quarto, o que me assustou, caindo das minhas mãos um livro de Voltaire.
-Carlos, eu namorava a costureira, quando tiros e mais tiros espocaram. Corri, e só quando cheguei aqui percebi que esquecera a minha namorada.
-Ela aparecerá. - animei-o.
Ela apareceu, jurando que nem sequer um botão da camisa do Elio ela costuraria. Também apareceram Honoré e o velho Goriot, com a expressão desolada.
-Perdemos momentaneamente, mas não daremos o gostinho a Hitler de olhar Paris da Torre Eiffel.
Goriot completou as palavras de Honoré:
-Bravos franceses cortaram todos os cabos da Torre, o assassino não verá Paris do alto.
Os alemães voltaram a sua atenção para a Inglaterra e as incursões da Luftwaffe eram constantes.
-Os ingleses resistiram a Napoleão. - mostrou-se Goriot confiante.
Honoré, enquanto isso, juntava-se à Resistência e vez ou outra aparecia. Antoine se dedicava à leitura.
Quando soubemos que Hitler enviara soldados para combater na Finlândia, que ainda provocava estragos entre os soviéticos, Antoine se manifestou:
-Não estou gostando nada disso.
Antoine apareceu na estalagem, dias depois, com a notícia:
-Hitler invadiu a União Soviética.
Antoine olhou fixamente para Honoré e lhe perguntou:
-Existe arma para eu lutar contra os nazistas?
-Existe.
-Dê-me, então e vamos à luta.

(*) o Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO, por coincidência, recebeu o seguinte texto sobre a Linha Maginot e decidiu ser apropriado reproduzi-la:



A Linha Maginot (em francês: ligne Maginot) foi uma linha de fortificações e de defesa construída pela França ao longo de suas fronteiras com a Alemanha e a Itália, após a Primeira Guerra Mundial, mais precisamente entre 1930 e 1936.

O complexo de defesa possuía várias vias subterrâneas, obstáculos, baterias blindadas escalonadas em profundidade, postos de observação com abóbadas blindadas e paióis de munições a grande profundidade.

A linha Maginot não evitou a derrota da França no início da Segunda Guerra Mundial, em 1940, na medida em que as divisões alemãs contornaram-na atacando a região de Sedan, além da sua extremidade oeste.

Um erro estratégico
A principal razão para a falha da linha Maginot é o fato de não se estender até ao Mar do Norte. Por diversas razões, entre as quais a falta de tempo e de financiamento, a sua construção foi interrompida a 20 km a leste de Sedan, em Montmédy, fazendo face à fronteira alemã, ao Grão-Ducado de Luxemburgo e a uma parte da fronteira franco-belga. O segmento Longuyon-Lauterbourg era particularmente reforçado, com edificações equipadas de artilharia pesada, enquanto que as defesas do Reno e a oeste de Longuyon eram menos fortes. Certas partes não haviam recebido o equipamento que lhes era destinado no momento da declaração da guerra.

Além disso, a neutralidade da Bélgica confortava os argumentos daqueles que não acreditavam em uma ofensiva inimiga a oeste da linha Maginot.

Foi assim que se desenvolveu um sentimento de segurança com a linha Maginot, onde praticamente cada francês estava convencido de que estava protegido de toda agressão alemã. No entanto, era preciso alguma ingenuidade ou incompetência para imaginar que a linha pudesse resistir suficientemente a um ataque violento e localizado, apoiado pela artilharia pesada e pela aviação moderna. Sem contar com a tática alemã do Blitzkrieg e de contornamento da linha pelas Ardenas. No pior dos casos, a linha poderia conter um ataque surpresa frontal durante o tempo necessário à França para organizar uma mobilização geral.

Neste contexto, os pedidos ansiosos do general De Gaulle e de Paul Reynaud em 1935 em favor do desenvolvimento de divisões blindadas para assegurar a defesa do território não coberto pela linha Maginot faziam sentido, mas não foram ouvidos. O general Maurin, então ministro da Guerra, durante um debate no Parlamento, respondeu a Paul Reynaud : « Como se pode ainda pensar em termos de ofensiva quando gastaram-se milhares de milhões para estabelecer uma fronteira fortificada ? »

No dia seguinte a essa declaração, Hitler rasgava simbolicamente o tratado de Versalhes e instituía a conscrição compulsória para 500.000 homens.


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