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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

2274 - reprovações

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4074                                 Data: 28 de novembro de 2012
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SABADOIDO AINDA MAIS DOIDO
2ª PARTE

Diante da tela do computador, cliquei no vídeo do Dieckmann, antes li a advertência do Godard de Santa Teresa, que se tratava de um longa metragem (14 minutos) e era recomendável (as palavras foram outras) conhecer o  DS.
Será o Citroën, será o Jaguar?... - titubeei.
Assisti ao vídeo e não vou tecer considerações agora sobre ele, prefiro ouvir antes a palavra do crítico de cinema do Biscoito Molhado que, por ora, se ocupa de um opúsculo sobre o genial Orson Welles.
Assim sendo, abri outra mensagem eletrônica que trazia um vídeo anexado. Tratava-se de casos em que mais ou menos dez pessoas escapavam de morrer por décimos de segundo de acidentes horrendos. Enviei-o ao Elio Fischberg que, mais tarde, me remeteria a sua reação prenhe de interrogações sobre uma força maior acima de nós.
Vozes veladas, veludosas vozes, como no poema de Cruz e Sousa, chegaram-me aos ouvidos; mais uma sessão do Sabadoido se iniciara.
Lá cheguei queixando-me de dores nos tendões das axilas do braço direito. Luca, ao ouvir-me, sobressaltou-se:
-Não fale em dores, porque já penso em antecipar a minha consulta médica. Esse problema de infecção que acometeu o Luís Fernando Veríssimo me arrasou e eu tive de tomar um tylenol.
Lopo e Vagner riram, mas o Luca não passou recibo.
-Tenho medo e assumo o meu medo de doenças.
-Carlinhos, você chegou aqui sem se queixar de dor alguma. - voltou-se a Gina para mim.
-É uma dor intermitente; vai e volta. O problema é que durmo de lado sobre o braço. Uma colega minha de trabalho, por dormir sobre o braço, faz fisioterapia, disse-me ela.
Antes de todo o pessoal chegar para o Sabadoido, eu e a Gina, comentando o churrasco de aniversário da minha sobrinha, no dia 14 de novembro. Gina se deteve nos comentários do médico que a festa compareceu, tio do marido da aniversariante.
-Ele disse que a pressão dele não saída de 15 por 10.
-Ele também não rejeitava nada que vinha para comer. - acrescentou com a expressão irônica.
-Mas rejeitou a carne que estava salgadíssima. - contrapus.
-Depois de comer algumas. - pilheriou a minha cunhada.
-Ele falou que a pressão dele é de negro, que não se tratava de preconceito, pois há esse termo na literatura médica.
-Quando ele falou em pressão de negro na literatura médica, tentei falar do exame de próstata, que ocorre, nas pessoas de raça negra, antes dos brancos, mas ele entrou com o teste de esforço a que foi submetido.
-Ficar 10 minutos na esteira e a pressão arterial não sair de 14 por 10, é estranho. - comentou a Gina.
-De fato, é um caso insólito, mas ele é médico neurologista, não iria usar a imaginação com isso. - ponderei.
Voltemos ao Luca que, agora, falava da Rosa, e de como um espicaçava o outro através de cartas.
-Ela não admite que a poesia do Carlos Drummond de Andrade tenha valor e, sempre que pode, faz uma crítica, mesmo que velada a ele.
-Luca, Rosa é muito ligada a versos com rimas e métricas, embora o Drummond tenha escrito vários deles assim. - contemporizei.
-Eu lhe mandei, então, o poema do Drummond “Comunhão”. O poeta sonha com fantasmas sem rosto, que o rodeiam e se torna um deles.
E prosseguiu:
-Ela leu, e me escreveu que não era hora de assustá-la depois do mal que a acometera recentemente.
-E o que ela teve? - quis saber o Lopo.
-A pressão arterial dela virou montanha russa e andou com a visão turva. - antecipei-me ao Luca, embora ele soubesse bem mais do que eu do estado dela.
Nesse ínterim, Luca passou-me as mãos o Cartuxa de Parma, de Stendhal, que Rosa lhe aconselhara ler por ser melhor do que “O Vermelho e o Negro”. Folheei o livro e me detive nas palavras escritas na apresentação.
-Viu, Carlinhos, que Stendhal influenciou Tolstoi, Balzac e outros monstros sagrados da literatura.
-Eu nunca vi esse livro em sebões, pois tive curiosidade de lê-lo por causa dos comentários elogiosos que apareciam nas resenhas dos jornais. - manifestei-me.
-“O Vermelho e o Negro”, do Stendhal, que você leu não foi emprestado por mim?
-Sim, lá na década de 70.
Nesse instante, avancei a minha cadeira e procurei encostar a minha costa no seu espaldar. Como arrastei a cadeira, todos notaram o meu gesto.
-Carlinhos tem o mesmo problema de coluna do Joaquim Barbosa. - pilheriou o Claudio.
-É claro que todos aqui viram a posse do Joaquim Barbosa como presidente do Supremo Tribunal Federal?
Todos responderam afirmativamente a pergunta do Luca com um menear de cabeça, menos o Vagner, que não se encontrava presente.
Claudio tomou a palavra:
-Admiro muito o Joaquim Barbosa, mas ele não pode presidir o STF com o temperamento irritadiço dele.
-É que nós fazemos logo a comparação com o Aires Brito. - interveio o Lopo.
-Aires Brito era sereno, nunca perdia a tranquilidade. -elogiou o Luca.
-Parecia padre. - acrescentei.
-Mas o Aires Brito era sólido nas suas convicções, fazia-se respeitar pelos seus pares. Houve um momento do julgamento do mensalão em que chamou a atenção do ministro Lewandowski, quando ele passou a falar da biografia de um dos réus, levando quase uma hora para isso. - disse o Claudio.
-A intenção do Lewandowski era protelar ao máximo o julgamento até a aposentadoria do Aires Brito.
-Sim – atropelou-me o Claudio – porque o Aires Brito votou, na maioria das vezes, com o relator.
-Ele pretendia que a votação da dosimetria do núcleo político ocorresse sem o Aires Brito. - continuei.
-Mas o Joaquim Barbosa é perspicaz, antecipou a dosimetria do José Dirceu, do José Genoíno e do Delúbio Soares.
-E ele podia fazer isso. - disse o Lopo.
-O Toffoli condenou o José Genoíno, o Lewandowski absolveu. - lembrou o Luca.
-O Toffoli condenou com o objetivo de dar a pena mínima ao José Genoíno e o Lewandowski, absolvendo, perdeu a oportunidade de também abaixar a pena do presidente do PT. - assinalou o Claudio.
-O Toffoli é piranha velha. - diagnosticou o Luca.
-Sim, mas o Lewandowski tem o notório saber jurídico.
-Sem dúvida, concordou o Claudio.
-O Toffoli, nas duas vezes que fez prova para juiz, foi reprovado. - arrematei.



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