Total de visualizações de página

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

2280 - considerações menos relevantes

-->
-----------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4080                               Data: 05 de dezembro de 2012
-----------------------------------------------------

SABADOIDO DE CASABLANCA À BRASÍLIA
3ª PARTE

Claudio não abriu a garrafa de uísque, que o Luca ganhara numa rifa e lhe dera. Tratava-se de uísque nacional, que o gozador do Lopo diria (não no Sabadoido) que foi elaborado com águas do Tietê e envelhecido em tonéis de folha de flandres. Talvez meu irmão tivesse visto o filme “Nem Tudo é Verdade” - elaborado em cima das filmagens do Orson Welles no Brasil – em que é atribuída ao cineasta a frase que o Brasil tem o melhor uísque falsificado do mundo, pois o Claudio  não desdenha o nacional.
Enquanto trazia três copos com uma bebida de menor teor alcoólico, só eu e o Vagner não bebemos, ocorreram algumas conversas paralelas.
-E a Rosa, Luca, melhorou do sobe-desce da pressão arterial?
-Ela tem ido à banca de jornais do Edson. Eu escrevo, porque não escuta e ela responde com a voz firme.
Até parece a comunicação do Beethoven com o sobrinho. - pensei.
-Ela não larga a implicância com o Carlos Drummond de Andrade.
-A Rosa tem de manuscrever muitas cartas, pois faz bem a ela e todos nós participamos da sua imensa erudição.
A outra conversa paralela, sobre futebol, foi travada entre o Lopo e o Vagner; com o retorno do Claudio, o tema futebolístico tomou conta de todos.
-Luís Peru (um ex-morador da Chaves Pinheiro) até que não jogava mal.
Lopo concordou com o Luca, mas fez uma ressalva: ele se escondia quando as jogadas eram disputadas com rispidez.
-Certa vez, a bola rodou na frente dele, que ficou perdido como um peru bêbado, daí surgiu o apelido “Luís Peru”.
-Foi assim mesmo, Lopo?- surpreendeu-se o Luca tanto quanto eu e o Vagner.
Enquanto ele confirmava, vinha à minha mente o surgimento do termo “frango”: Ubirajara, quando agarrava no Bangu, foi pegar uma bola como uma dona de casa pega um frango no galinheiro, e a mesma passou por ele, entrando no gol.
-Luís Peru jogou muitas partidas com a gente no Lar de Júlia.
Por que o Lopo trouxe à tona as nossas pelejas dominicais no Lar que abrigava crianças órfãs? Claudio evocou os nossos piores momentos.
-Lembra-se, Luca, da sua tentativa de suicídio?
-Que tentativa de suicídio foi essa, Claudiomiro?
-Quando você quis encarar o Kung Fu.
Kung Fu, ou Eduardo– cabe aqui um parêntese – tinha mais ou menos 1,85m de altura, pesava uns 90 quilos, distribuídos pelo corpo trabalhado pela musculação e era praticante de judô.
-A bola estava na altura do meu rosto, então, eu vejo aquela perna subindo e descendo, quase me acertando...
-Parecia um lance em que o Júnior Baiano tentou tirar a bola do Bebeto. - interrompi o Luca com essa lembrança.
-Eu disse, então, para ele não jogar os seus recalques para cima de mim.
-Você levantou a voz e o chamou de recalcado. - ressuscitou a cena o Claudio com risinhos de sadismo.
-Você tentou mesmo o suicídio, Luca. - colocou o Lopo mais lenha na fogueira.
-Soube pelo Sérgio, o que morreu, que ele extravasou a fúria no pobre do Careca, seu cunhado. Agarrou-o pelo pescoço, fechou a mão, como se fosse desferir um soco, enquanto berrava: “Aquele bunda mole gritando comigo...” Isso tudo segundo o Sérgio. - repeti.
-Luca, ele não sabia jogar futebol, não entrou na bola com a intenção de machucá-lo. - tornou-se sério o Claudio.
-E por isso vai arrancar o meu pescoço?
Também abanei as cinzas de um caso que ocorrera, não no Lar de Júlia, mas no campo Cachambi.
-Houve um que também mostrou coragem, não tanto quanto o Luca: o Seu Renato, pai do Rogério. Ele apitava um jogo em que os jogadores de ambos os times se queixaram tanto, que ele largou o apito chamando todos de velhas parideiras que não paravam de reclamar. E lá estavam jogando Seu Onofre e outros tanques de guerra.
Claudio retornou aos meados da década de 70 e ao Lar de Júlia com a expressão endiabrada.
-E a briga do Carlinhos com o Maninho?
-Essa briga... disse o Lopo rindo, acompanhado por todos, também o Vagner que, apesar de não jogar, estava sempre presente.
-Com o Carlinhos não houve nem conversa, ele partiu logo pra dentro. - comentou o Luca.
Foi o momento em que deixei de ser um animal racional para ser apenas um animal. - pensei, sem me manifestar.
Lopo ainda escarafunchou o passado, evocando um primo do Reinaldo, Carlinhos, cujo nome até o Luca esquecera. Enquanto ressuscitava os feitos nada nobres desse meu xará, Claudio levava os copos vazios para trazê-los cheios até a metade.
-E o pibinho?!...
Há dois anos, Luca falou quase a mesma coisa?
-E o pibão.
Tomei a palavra.
-Luca, no segundo mandato do Lula, ele contou muito com a sorte; a China comprava maciçamente as mercadorias brasileiras, elevando os preços à altura. O minério de ferro, por exemplo, eu lidei com a tonelada a 4 dólares, na SUNAMAM e, com a demanda chinesa, passou em muito os 100 dólares.
-O pibinho foi 0,6% no trimestre. - insistiu.
-O mundo está em crise e o Brasil sofre as consequências.
 Enquanto eu justificava, conservava no pensamento as palavras irônicas do ministro Guido Mantega contra o Credit Suisse, quando essa instituição bancária previu esse PIB. Guido Mantega, aliás, rabiscara uma garatuja contra o Plano Real, no surgimento do mesmo, já demonstrando que a ciência econômica não é o seu forte.
A seriedade do Sabadoido, nesse momento, foi quebrada por uma piada que corre pela internet:
“A professora perguntou aos alunos numa aula qual foi o filósofo grego que disse: só sei que nada sei”. Joãozinho se levantou e disse: Caramba, eu não sabia que o Lula também é grego.”
-E as corrupções de Brasília continuam se espalhando... disse o Lopo.
-O Joaquim Barbosa resolverá isso tudo. - afirmou meu irmão de um modo que não podíamos identificar se era sério ou gozador.
-Ele não será presidente do Brasil se não quiser.
-Lopo, não é o perfil do Joaquim Barbosa, ele diz o que pensa, não é político, além disso, parecerá que atua no STF com intenções que não é só fazer justiça. Não fica bem. - expus o que pensava.
-O mensalão recomeça esta semana. A Glória duvida que alguém seja preso. - disse o Luca
-O Joaquim Barbosa está doido para ferrar o Valdemar da Costa Neto. - interrompeu-o o Claudio.
-É o cúmulo que o mais corrupto de todos pegue prisão em regime semiaberto. - indignei-me.
Bem ainda houve algumas considerações menos relevantes e logo se encerrava a primeira sessão de dezembro de 2012 do Sabadoido.


Nenhum comentário:

Postar um comentário