Total de visualizações de página

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

2273 - grama que pesa


-------------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4073                                 Data: 27 de novembro de 2012
--------------------------------------------------------------------

SABADOIDO AINDA MAIS DOIDO

-O que mudou no futebol? - perguntou o Luca
-Não se pode atrasar a bola para o goleiro intencionalmente.
E o Claudio prosseguiu respondendo:
-O goleiro não pode bater a bola no gramado para devolvê-la ao jogo pelo tempo que quiser.
Saiu logo da poeira do meu cérebro um Botafogo e América, no fim dos anos 50, em que Adalberto, goleiro botafoguense, fez, segundo o locutor, uma cera de 18 minutos usando esse expediente.
-Não é mais impedimento se o jogador estiver na mesma linha dos defensores. - manifestou-se o Lopo.
-A bola. - respondeu o Luca a sua própria pergunta com os comentários que seguem:
-Hoje, a bola não é de couro, como antigamente, com isso, o seu peso é menor e não aumenta quando fica encharcada. Antes, quando chovia numa partida, a bola adquiria um peso absurdo.
-Passava de meio quilo. Vá cabecear uma bola de mais de quinhentos gramas... Receba uma bolada nos peitos... E tem mais: na bola de couro, grudavam aquelas pedrinhas do chão que machucavam os jogadores. - interveio o Claudio.
-Lembram-se das peladas de terças e sextas-feiras no campo Cachambi nos primeiros anos da década de 70? É claro que vocês se lembram pois participavam delas. - disse voltado para os meus dois irmãos.
E prossegui:
-Numa dessas peladas, um perna de pau desses chutou tão mal, que a bola subiu e, quando desceu, arrebentou o farol de um carro que passava na Avenida Suburbana. O Carlinhos Chamicha deu um salto sobre o muro e voltou com a bola debaixo do braço, rindo e chamando por um fictício Seu Freitas. Ele logo explicou para os peladeiros o que fizera. Disse para o motorista que o responsável pelo jogo e pela bola era o Seu Freitas, e que ele pagaria o prejuízo.
-Carlinhos Chamicha tinha essas espertezas. - comentou o Lopo com o mesmo sorriso que aflorou no rosto de todos os presentes, quando eu trouxe à baila mais uma façanha de uma das personalidades mais marcantes do bairro.
-Aquela bola de couro, G 18, arrebentava mesmo o farol de um carro. - frisou bem o Claudio, que lidou com ela em campo mais do que todos ali.
As minhas reminiscências não se esgotaram.
-Não sei se o Claudio ou o Lopo ficou, por um tempo, encarregado de guardar lá em casa a bola dessas peladas de terças e sextas.
Nem perguntei se se lembravam, pois a resposta seria óbvia. E continuei:
-Um dia, peguei essa bola e passei a fazer embaixadas. Sabe que os dedos do meu pé, onde a bola batia, sangraram.
-Era muito pesada. - acentuou o Luca.
No entanto, aquele dia de Sabadoido não começou com o futebol como assunto, e sim o cinema.
-Cláudio, assisti a um filme, anteontem, no Telecine Cult, que não me era inédito, pois já vi umas cinco vezes. - disse-lhe, pouco depois de ele abrir o portão da sua casa e franquear a sua cadeira na cozinha para mim.
-Qual o filme.
-A General do Buster Keaton. Assisto a esse filme desde o tempo em que era chamado O General.
-Mas o certo é A General, pois se trata do nome de uma locomotiva. - afirmou, embora ainda haja controvérsias quanto ao gênero, masculino e feminino do título da película.
-Antes do início do filme, o Marcelo Janot o comentou.
-Marcelo Janot só aparece com seus comentários, no Telecine Cult, quando o filme é bom. - assinalou.
-Ele disse que muitos que ficam apreensivos com as cenas arriscadas do Indiana Jones do Spielberg não sabem que Buster Keaton já fazia isso em 1927e sem dublê.
-E tem mais Carlinhos: trata-se de uma perseguição de locomotivas, que é bem mais perigosa do que a de carros, que aparecem em quase todos os filmes americanos de aventura. - assinalou.
-Marcelo Janot citou Orson Welles, que considerava A General                o melhor filme sobre a Guerra Civil dos Estados Unidos, cem vezes melhor do que E o vento levou.
-E o vento levou é melodramático. - disse o Claudio com certo desdém.
-Gravei a fita e entreguei para a mamãe ver.
-Ela viu?
-Viu e disse que igual ao Carlitos não existiu.
-O Carlitos descambava muito para o sentimentalismo, o Buster Keaton era o chamado Cara de Pedra, pois estava sempre sério, o que o tornava mais engraçado. - comentou.
-A mãe me contou umas dez vezes que, quando menina, era chamada para ir ao cinema, impunha uma condição: “Só se for “Calito” ou “Zé Mujica”.
-Ela já me contou isso, também.
-Eu quando entrego a gravação de uma ópera para a mamãe assistir, ela diz, depois, que gostou, mas que seria melhor com o Pavarotti.
Cláudio interrompeu o fluxo desse assunto para informar que o Daniel fora trabalhar.
-Não entendo; a Casa da Moeda quase deu um feriadão parecido com o que houve, esta semana, em Niterói.
-Aliás, o pessoal de Niterói ficou praticamente sete dias de papo para o ar. - interrompeu-me.
E ele agora vai trabalhar num sábado?...
-Daqui a pouco Daniel está aqui. - ponderou.
Nesse instante, Gina entrou na cozinha. Aproveitei e me dirigi também a ela.
-O Daniel reclamou de eu não ter gravado a peleja entre o Fluminense e o Palmeiras. Gravei, então, Fluminense e Cruzeiro, e trouxe o disco do DVD. Não tenho culpa de o Fluminense ter perdido, mas a festa da taça, que aconteceu depois, está neste disco. Vocês podem, pelo menos, assistir a essa parte.
-Eu fui ao Engenhão no Fluminense e Cruzeiro.
-Eu sei, Gina. Vi várias fotos suas, do Daniel, da sua irmã, da sua sobrinha, dos seus sobrinhos-netos, com bandeiras e camisas do Fluminense, festejando o título, no Facebook.
-Nesse jogo, o time do Fluminense ainda estava com o pensamento na festa da churrascaria. - criticou o Claudio.
-O Fred não largava a taça. O Gérson, comentando pela Band News, bradou contra o jogador: parecia que ele sozinho ganhara o título.
-Carlinhos, outros jogadores seguraram a taça. - retorquiu a Gina.
-Eu vi o Fred com as mãos grudadas nela, depois, pode ser... Outra coisa: os jogadores queriam dar a volta olímpica, mas a muralha de repórteres e fotógrafos impedia.
-Eles são uns chatos. - rezingou o Claudio.
-O Daniel liberou o computador?- perguntei.
-Pode ir lá. - disse a Gina.




Nenhum comentário:

Postar um comentário