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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4073 Data: 27 de
novembro de 2012
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SABADOIDO AINDA MAIS DOIDO
-O que mudou no futebol? - perguntou o
Luca
-Não se pode atrasar a bola para o
goleiro intencionalmente.
E o Claudio prosseguiu respondendo:
-O goleiro não pode bater a bola no
gramado para devolvê-la ao jogo pelo tempo que quiser.
Saiu logo da poeira do meu cérebro um
Botafogo e América, no fim dos anos 50, em que Adalberto ,
goleiro botafoguense, fez, segundo o locutor, uma cera de 18 minutos usando
esse expediente.
-Não é mais impedimento se o jogador estiver
na mesma linha dos defensores. - manifestou-se o Lopo.
-A bola. - respondeu o Luca a sua
própria pergunta com os comentários que seguem:
-Hoje, a bola não é de couro, como
antigamente, com isso, o seu peso é menor e não aumenta quando fica encharcada.
Antes, quando chovia numa partida, a bola adquiria um peso absurdo.
-Passava de meio quilo. Vá cabecear uma
bola de mais de quinhentos gramas... Receba uma bolada nos peitos... E tem
mais: na bola de couro, grudavam aquelas pedrinhas do chão que machucavam os
jogadores. - interveio o Claudio.
-Lembram-se das peladas de terças e
sextas-feiras no campo Cachambi nos primeiros anos da década de 70? É claro que
vocês se lembram pois participavam delas. - disse voltado para os meus dois
irmãos.
E prossegui:
-Numa dessas peladas, um perna de pau
desses chutou tão mal, que a bola subiu e, quando desceu, arrebentou o farol de
um carro que passava na Avenida Suburbana. O Carlinhos Chamicha deu um salto
sobre o muro e voltou com a bola debaixo do braço, rindo e chamando por um
fictício Seu Freitas. Ele logo explicou para os peladeiros o que fizera. Disse
para o motorista que o responsável pelo jogo e pela bola era o Seu Freitas, e
que ele pagaria o prejuízo.
-Carlinhos Chamicha tinha essas
espertezas. - comentou o Lopo com o mesmo sorriso que aflorou no rosto de todos
os presentes, quando eu trouxe à baila mais uma façanha de uma das
personalidades mais marcantes do bairro.
-Aquela bola de couro, G 18, arrebentava
mesmo o farol de um carro. - frisou bem o Claudio, que lidou com ela em campo
mais do que todos ali.
As minhas reminiscências não se
esgotaram.
-Não sei se o Claudio ou o Lopo ficou,
por um tempo, encarregado de guardar lá em casa a bola dessas peladas de terças
e sextas.
Nem perguntei se se lembravam, pois a
resposta seria óbvia. E continuei:
-Um dia, peguei essa bola e passei a
fazer embaixadas. Sabe que os dedos do meu pé, onde a bola batia, sangraram.
-Era muito pesada. - acentuou o Luca.
No entanto, aquele dia de Sabadoido não
começou com o futebol como assunto, e sim o cinema.
-Cláudio, assisti a um filme, anteontem,
no Telecine Cult, que não me era inédito, pois já vi umas cinco vezes. -
disse-lhe, pouco depois de ele abrir o portão da sua casa e franquear a sua
cadeira na cozinha para mim.
-Qual o filme.
-A General do Buster Keaton.
Assisto a esse filme desde o tempo em que era chamado O General.
-Mas o certo é A General, pois se
trata do nome de uma locomotiva. - afirmou, embora ainda haja controvérsias
quanto ao gênero, masculino e feminino do título da película.
-Antes do início do filme, o Marcelo Janot
o comentou.
-Marcelo Janot só aparece com seus
comentários, no Telecine Cult, quando o filme é bom. - assinalou.
-Ele disse que muitos que ficam
apreensivos com as cenas arriscadas do Indiana Jones do Spielberg não
sabem que Buster Keaton já fazia isso em 1927e sem dublê.
-E tem mais Carlinhos: trata-se de uma
perseguição de locomotivas, que é bem mais perigosa do que a de carros, que
aparecem em quase todos os filmes americanos de aventura. - assinalou.
-Marcelo Janot citou Orson Welles, que
considerava A General o melhor filme sobre a Guerra
Civil dos Estados Unidos, cem vezes melhor do que E o vento levou.
-E o vento levou é melodramático. - disse o Claudio com certo
desdém.
-Gravei a fita e entreguei para a mamãe
ver.
-Ela viu?
-Viu e disse que igual ao Carlitos não
existiu.
-O Carlitos descambava muito para o
sentimentalismo, o Buster Keaton era o chamado Cara de Pedra, pois estava
sempre sério, o que o tornava mais engraçado. - comentou.
-A mãe me contou umas dez vezes que,
quando menina, era chamada para ir ao cinema, impunha uma condição: “Só se for
“Calito” ou “Zé Mujica”.
-Ela já me contou isso, também.
-Eu quando entrego a gravação de uma
ópera para a mamãe assistir, ela diz, depois, que gostou, mas que seria melhor
com o Pavarotti.
Cláudio interrompeu o fluxo desse
assunto para informar que o Daniel fora trabalhar.
-Não entendo; a Casa da Moeda quase deu
um feriadão parecido com o que houve, esta semana, em Niterói.
-Aliás, o pessoal de Niterói ficou
praticamente sete dias de papo para o ar. - interrompeu-me.
E ele agora vai trabalhar num sábado?...
-Daqui a pouco Daniel está aqui. -
ponderou.
Nesse instante, Gina entrou na cozinha.
Aproveitei e me dirigi também a ela.
-O Daniel reclamou de eu não ter gravado
a peleja entre o Fluminense e o Palmeiras. Gravei, então, Fluminense e
Cruzeiro, e trouxe o disco do DVD. Não tenho culpa de o Fluminense ter perdido,
mas a festa da taça, que aconteceu depois, está neste disco. Vocês podem, pelo
menos, assistir a essa parte.
-Eu fui ao Engenhão no Fluminense e
Cruzeiro.
-Eu sei, Gina. Vi várias fotos suas, do
Daniel, da sua irmã, da sua sobrinha, dos seus sobrinhos-netos, com bandeiras e
camisas do Fluminense, festejando o título, no Facebook.
-Nesse jogo, o time do Fluminense ainda
estava com o pensamento na festa da churrascaria. - criticou o Claudio.
-O Fred não largava a taça. O Gérson,
comentando pela Band News, bradou contra o jogador: parecia que ele sozinho
ganhara o título.
-Carlinhos, outros jogadores seguraram a
taça. - retorquiu a Gina.
-Eu vi o Fred com as mãos grudadas nela,
depois, pode ser... Outra coisa: os jogadores queriam dar a volta olímpica, mas
a muralha de repórteres e fotógrafos impedia.
-Eles são uns chatos. - rezingou o
Claudio.
-O Daniel liberou o computador?- perguntei.
-Pode ir lá. - disse a Gina.
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