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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

2275 - joguei no milhar


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4075                               Data: 29 de novembro de 2012
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SABADOIDO AINDA MAIS DOIDO
3ª PARTE

-Luca, você também considera o jogo do bicho um esporte? - reportei-me ao BM dos taxistas em que reproduzi as falas do Machado.
-Inteiramente. - respondeu com ênfase.
-Ele disse que o jogo do bicho é um esporte. - frisei.
-Concordo, mas você deu uma floreada nas palavras dele.
-Luca, eu reproduzi fielmente as frases ditas pelo Machado. - protestei.
-Sim, mas eu jogo no bicheiro de um lugar e ele, de outro.
-Tudo bem; só nessa parte eu inventei que ele falou que vocês frequentavam o mesmo bicheiro; foi uma dedução minha. Já que ele afirmou que o via muito no Méier.
-O que o Machado falou está certo. O dinheiro jogado não compromete o orçamento da casa, por que, então, não tentar a sorte?
-E o bicho não é um jogo continuado. - reforçou o Claudio a argumentação do Luca.
-O Caetano Veloso escreveu, no domingo passado, que esteve em Las Vegas e viu velhinhas nos caça-níqueis.  Elas perdem todo dinheiro da aposentadoria nisso.
-Esse é o jogo continuado em que você tenta a sorte minutos depois de perder e isso não acontece com o jogo do bicho. - seguiram as palavras do Claudio às minhas.
-Já vi gente arruinar-se com vários jogos, nunca com o jogo do bicho. - interveio o Lopo.
-Há pessoas que apostam até a casa nos cassinos que há por aí.
Pretendia reportar-me aos anos em que frequentei diariamente uma corretora de valores e presenciei perdas terríveis de dinheiro no mercado de opções da bolsa de valores, mas o Luca continuava com a palavra.
-Como houve gente que perdeu tudo no jogo de ronda.
E voltou-se para nós:
-Vocês conhecem ronda?
-Era praticado por quase todos os meliantes do Cachambi; resultou até na morte de um bicheiro e num tiro no pé do Paulinho Pé Grande, por vingança, que nada tinha a ver com o bicheiro morto.
-Quem mandou ele ter pé grande, Claudiomiro. - pilheriou o Luca.
-Quando escrevi que se gasta 100 reais com um remédio que não cura e, então, o médico troca por outro, sendo assim jogado fora a quantia anterior, enquanto o dinheiro da aposta no bicho ainda dá a esperança  de ser multiplicado, transcrevo o raciocínio do Machado. - insisti em mostrar que não descambara para a ficção neste BM.
-Eu concordo com ele. - bradou o Luca.
E prosseguiu com veemência:
-O banqueiro sempre tem a vantagem, sabemos disso. Você joga num bicho e o banqueiro tem 24 chances contra uma; joga no milhar, são 999 chances dele contra uma sua. Mas há casos de se acertar no milhar. Claudiomiro já acertou, eu já peguei várias vezes invertido.
-O Vicente acertou um milhar na cabeça. - reportei-me a um colega da Chaves Pinheiro.
-Ele jogava pouco.
Depois desse aparte, Luca nos sabatinou:
-Vicente só jogava num milhar, alguém aqui sabe?
-8024. - respondeu o Lopo.
-Isso mesmo, sempre que vejo um resultado de bicho, sei quando ele ganha ou não.
-E mais; quando ele estava com muito pouco dinheiro, ele fazia parte do seu jogo.
-Como eu não entendera as palavras do Lopo, Luca me explicou:
-Você aposta, por exemplo, dez reais em alguns bichos, ele pedia, então, para acrescentar os, digamos, cinquenta centavos dele.
-Vicente fez muito isso. - manifestou-se o Claudio.
-Vocês viram o Globo Repórter de ontem?
Parecia que o Luca mudava abruptamente de assunto, mas não: o assunto era ainda bicho, no caso, uma cachorra (fica aqui o palpite).
-O Globo Repórter mostrou uma cadela, Lilita, 
-Meu filho (Rafael) tem agora outro cachorro.
Luca ouviu o aparte do Lopo e foi adiante:
-A Lilita é uma cadela que pega uma trouxa de comida e sai com ela sem comer nada. Aquilo era insólito, e uma câmara de filmar passou a acompanhar a Lilita desde o momento em que ela pegava as trouxas de comida. Sabe o que ela fazia?
-Era uma pergunta retórica para ressaltar o feito da cadela.
-Ela ia para um lugar vazio e lá outros cachorros e até gatos comiam o que estava na trouxa.
-Qual é a raça da Lilita? - perguntei
-Vira-lata. Eu só gosto de cachorro vira-lata.
-É a raça dos cachorros mais inteligentes. - manifestou-se o Claudio.
Lopo se afastou para atender o celular, como bem antes fizera a Gina, que ainda não havia retornado. A conversação enveredou novamente para o mensalão.
-Essa história de sobra de campanha vem de um tempo para cá.
-Luca, o Jânio Quadros já fazia isso; ele desviava o dinheiro da campanha eleitoral dele para a Suíça; quando a filha Tutu Quadros denunciou esse delito à imprensa, ele a internou num hospício.- intervim.
-O que é o cúmulo do cinismo é o advogado defender o réu com o argumento de sobra de campanha.
-Isso porque o crime prescreveu, Luca.
-Eu sei, Claudiomiro, mas é um crime.
E emendou a pergunta:
-Todos aqui viram a posse do Joaquim Barbosa como presidente do STF?
 -Eu vi. - era o Lopo que retomava à sua cadeira na sessão do Sabadoido.
-Houve um momento que a câmera da televisão focalizou a ministra Ellen Grace... Com todos os 63 anos dela, ainda é uma mulher atraente.
-Ela namora o Fernando Henrique Cardoso.
-Não, Carlinhos, ela está com o Roberto D' Ávila.
Em seguida, o Claudio também me corrigiu.
-Pena que eu não ouvi todo o hino nacional tocado no bandolim. - lamentei.
-Hamílton de Holanda é um grande bandolinista. - vibrou o Luca.
-O Joaquim Barbosa frequenta as rodas de choro de Brasília. - tentei falar, mas o Luca exaltava a atuação do ministro Luiz Fux, como músico, no coquetel oferecido ao novo presidente do Supremo Tribunal Federal.
-Essa parte do coquetel eu não vi nada. - lastimei.
-Pena, Carlinhos, porque o Luiz Fux deu um espetáculo tocando e cantando.
-O Ayres Brito disse, numa entrevista, que o Joaquim Barbosa mostrou uma inteligência brilhante, quando pegou esse caso do mensalão como relator- disse o Claudio.
-De fato, ele pegou 50 mil páginas de um processo e conseguiu ordenar aquela barafunda toda com divisões em núcleo financeiro, núcleo político, núcleo publicitário, núcleo operacional...
-Ele soube fatiar bem. - concordou o Luca comigo.
-E a Dilma com aquela cara amarrada. - criticou a Gina, mesmo sabendo que a presidente não compareceu ao coquetel.
Claudio voltou a alertar sobre o temperamento irritadiço do Joaquim Barbosa.
-Ele, como presidente, vai ter de se controlar.
-Ele consegue. - contemporizou o Luca.
-E o pior problema dele não será o Lewandowski, e sim o ministro Marco Aurélio Collor.
Parece que o meu irmão adivinhava, pois seis dias depois, o ministro Marco Aurélio, no momento de estabelecer a dosimetria da pena do deputado João Paulo Cunha, alegando que, com a aposentadoria do ministro Ayres Brito, a votação ficara empatada em 5 a 5 e, por isso, votava pela absolvição do réu. Mostrou que o seu cérebro não processa mais as inúmeras disposições legais, o que lhe provoca diarreias jurídicas.
Joaquim Barbosa prontamente reagiu a esse absurdo:
-”Ministro Marco Aurélio, eu adoro a objetividade e detesto a perda de tempo.”
Até o bíblico Jó se irritaria também.

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