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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

2279 - os dodecafonas


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4079                               Data: 04 de dezembro de 2012
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SABADOIDO DE CASABLANCA À BRASÍLIA
2ª PARTE

A conversação sobre a participação no Sabadoido do pianista e, agora maestro, João Carlos Martins se alongou:
-Eu cheguei a assistir a um trecho dessa entrevista. - lembrou-se o Claudio.
-Vi até o fim, mas sem me sentir bem com aquele massacre dos entrevistadores.
Eu ouvia o Luca, enquanto saía dos escaninhos da minha memória o que o Pasquim fizera com o compositor Ivan Lins, mas como eu já me pronunciara a respeito com um programa televisivo, calei-me.
 -Até do ensinamento que ele leva às crianças pobres reclamaram.
Nem sei quem disse a frase acima, pois tomei a palavra.
-Anteontem, por coincidência, topei, casualmente, com um concerto na TV a cabo em que a maior orquestra da América Latina, a OSESP, regida pelo John Neschling executou um choro de Villa Lobos, que perdi, Maracatu do Chico-Rei, e também Linha de Passe de João Bosco e Aldir Blanc, Aquarela do Brasil de Ary Barroso e outras peças da música popular brasileira com arranjo sinfônico. O público, cheio de crianças, delirou. Assim que eles aprendem a aprimorar o gosto musical.
-O John Neschling não saiu da orquestra depois de uma confusão por  lá?
-Não foi coisa de grande monta como aqui. - respondi a meu irmão.
-Ele foi casado com aquela gracinha da Lucélia Santos. - manifestou-se o Luca.
-E teve um filho com ela. - quebrou o Lopo o seu silêncio.
-O Fischberg me enviou um vídeo com o choro “Pedacinho do Céu” do Waldir Azevedo e vieram outros vídeos juntos...
-Porque era do youtube. - atropelei o Luca.
 -E eu descobri uma entrevista do Tom Jobim. Disse o Tom que eles trabalhavam com 36 notas, mas veio um professor que facilitou tudo com 12 notas... Como é a palavra?...
Voltou-se para mim:
-Você já falou muito nessa palavra...
Depois de alguns desencontros mnemônicos entre mim e ele, disse:
-Dodecafonismo.
-Isso, Carlinhos, dodecafonismo.
-Foi criado por Arnold Schoenberg, que era alemão...
-Ele era alemão. - voltou o Luca a se reportar ao professor.
-Koellreuth.
-Isso mesmo, Carlinhos, Koellreuth.
Aqui um parêntese: o nome completo era Hans Joachim Koellreuth.
-Sim, Luca, ele foi professor dessa turma: Tom Jobim, Caetano Veloso...
Não citei o Tomzé porque considerei outro aspecto mais relevante e o disse:
-O Claudio conheceu muito bem o Koellreuth.
Todos se voltaram para o Claudio, que ficou com a palavra.
-Ele quis validar no Brasil um casamento dele com uma judia na Alemanha nazista e procurou nosso escritório de advocacia. Não podia, mas ele insistiu tanto que o caso parou no Supremo. Evidentemente que perdeu. Teve de se casar de novo com ela aqui, no Brasil.
E concluiu:
-E como ele era ruim de pagar...
-Nessa entrevista, o Tom Jobim disse que aprendeu muito com ele, não só o Tom, como diversos artistas brasileiros que frequentaram as suas aulas.
Esses compositores brasileiros não seguiram o dodecafonismo de Alban Berg, Weber e do seu criador, é claro, o já citado Arnold Schoenberg, adaptaram-no à música popular brasileira. Uma ópera composta por Arrigo Barnabé há poucos anos, “O Homem dos Crocodilos”, é considerada dodecafônica, nós, porém, ainda não ouvimos um só trecho dela.
Passou-se, então, a falar de Villa-Lobos.
-Houve um concurso de música popular brasileira em que o Villa Lobos colocou “Aquarela do Brasil” em segundo lugar. O Ary Barroso ficou danado da vida com  o maestro.
Luca interrompeu a sua narrativa para uma ressalva.
-Não me perguntem quem foi a primeira colocada porque não foi dito.
Creio que todos pensaram no “Carinhoso”, de Pixinguinha, enquanto ele seguia adiante:
-Villa Lobos, então disse para o Ary Barroso que a sua música seria conhecida em todo o mundo. E acertou: porque todos conhecem a  “Aquarela do Brasil”
De Ary Barroso para Luiz Gonzaga, com a intervenção do Claudio, que ainda pensava nas doze notas que foram mencionadas:
-”Asa Branca”, do Luiz Gonzaga, tem cinco notas apenas.
-Pelo que eu soube, são seis. -retruquei.
-Eu ouvi que são cinco.
-Com cinco ou seis, é um clássico da MPB. - interveio o Luca com a concordância imediata do Lopo e do Vagner.
-É simples e bonita. Na homenagem que o Colégio Santo Agostinho prestou ao centenário do Luiz Gonzaga, a filha de uma colega minha, de trabalho, tocou “Asa Branca” no teclado.
Claudio não me deixou seguir em frente, no meu discurso, porque enveredou pelo documentário lançado nos 100 anos do compositor:
-Luiz Gonzaga aprontou lá no sertão. Engraçou-se com uma menina branca, bonita... (talvez não dissesse “arrastou as asas para uma menina...” para evitar o trocadilho).
-Claudiomiro, ele tinha a intenção de casar. - contemporizou o Luca, que também assistira ao documentário.
-O pai dela alertou a mãe do Luiz Gonzaga: “Ainda não o matei porque ele é seu filho, mas se ele não sumir daqui, morre.”
-E os coronéis mandam matar mesmo.
-E como. - concordou o Lopo com as palavras do Luca.
Claudio continuava:
-Luís Gonzaga deu com os costados no Rio de Janeiro e até morou no Cachambi. Casou-se na Igreja Nossa Senhora da Aparecida, perto da sua casa.
E voltou-se para mim.
-Carlinhos, eu fiz uma leitura dinâmica do Biscoito Molhado e vi dois erros.  Eu não disse que o Luiz Gonzaga Filho foi registrado como branco, o documentário é que diz, o livro não confirma isso. Quem dirigiu “O Terceiro Homem”, não foi Oliver Reed, e sim Carol Reed. Os dois trabalharam no musical “Oliver”, e Carol Reed dirigiu, enquanto o sobrinho, Oliver Reed, foi ator.
-Vou corrigir. - prometi, mas pensando apenas no segundo erro apontado.
-O Luiz Gonzaga Júnior, largado, no morro de São Carlos, chegou a ser “avião” dos traficantes. - reportou-se o Luca ao filme.
-Ele foi preso pela polícia, e quando perguntaram o nome do pai dele, respondeu que era o Luiz Gonzaga; chamado de mentiroso, entrou no cacete. Interrogado de novo, repetiu Luiz Gonzaga e novamente era chamado de mentiroso e apanhava dos policiais. - Cláudio falava, enquanto exibia um humor sádico de que se acumpliciaram todos os presentes.
-Quando o Luiz Gonzaga apareceu na delegacia para soltar o filho, eles ficaram surpresos. - encerrou a sua fala.
-Recordo-me de uma capa da VEJA em que se comparava o grande sucesso do Gonzaguinha, com o esquecimento a que relegaram o Gonzagão, na época. - manifestou-se o Luca.
-O Gonzaguinha apareceu no Festival Universitário de Música Popular, da TV Tupi, e colocou o “Trem”, em primeiro lugar, “Vida Nova”, com a Claudete Soares em terceiro.
-Quarto lugar. - corrigiu-me o Claudio mostrando-me quatro dedos.
-Deveriam ser dois documentários, um sobre o pai, outro sobre o filho. Gonzagão e Gonzaguinha num só filme deixa de mostrar muita coisa. - comentou o Luca.

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