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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3939 Data:
25 de abril de 2012
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COMENTANDO AS MENSAGENS ELETRÔNICAS (*)
Recebo um e-mail que é, na sua
essência, uma notícia que saiu em todos os jornais: Thiago Klimeck, o ator que
se enforcou no papel de Judas, na peça teatral “Paixão de Cristo”, morreu.
Veio, então, à minha mente um tema
exposto no Biscoito Molhado, precisamente em outubro do ano passado. Tudo
começou quando o Dieckmann me encaminhou o e-mail de uma amiga sua de Portugal,
Cecília Rodrigues, que, depois de ler o Biscoito Molhado nº 2027, que trata do
“Framboesa de Ouro”, que premia os piores atores de Hollywood, e do “Ig
Google”, uma sátira ao Premio Nobel, perguntou se eu conhecia o Darwin
Awards (Prêmios Darwin).
Depois dessa mensagem, procurei saber
alguma coisa sobre o Darwin Awards. Refere-se a erros tão absurdos que
os autores põem fim à própria vida ou provocam a própria esterilização. Os
prêmios se fundamentam no pressuposto de que esses indivíduos ao se
autodestruírem eliminam os maus gens de que são portadores.
Wendy Nothcutt, o maior divulgador do Darwin
Awards, autor de livros sobre o assunto, estabeleceu cinco condições fundamentais
para a obtenção do prêmio:
-Incapacidade de gerar descendência
– através da própria morte ou esterilização;
-Excelência – forma sensacional e
estúpida com que se comete o erro, incrível desuso da lógica e da razão;
-Autosseleção – causa desastre
por si mesmo, com mérito incondicionalmente individual;
-Maturidade – o indivíduo deve
estar em total uso das suas capacidades físicas e mentais. Deve possuir
capacidade de raciocínio e julgamento.
-Veracidade – o evento tem de ser verificável; excluem-se as lendas
urbanas.
Nesse mesmo e-mail do Dieckmann, a sua
amiga Cecília Rodrigues cita o caso de um universitário que, para tornar mais
convincente a sua fantasia de vampiro, prendeu uma estaca na camisa e acabou
morrendo com ela cravada no coração.
Agora, com esse caso do ator que se
colocou na pele de Judas... Bem, eu só queria sentir o dramatismo desse acontecimento,
mas não houve jeito: a lembrança do Prêmio Darwin logo me ocorreu.
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Gosto dos e-mails do Evandro Verde, o
meu vizinho do Cachambi que não conheço pessoalmente. Será ele o dono do
restaurante Evandro's da Rua Cachambi 315?
Bem, suas mensagens eletrônicas estão entre as melhores que recebo.
Recentemente, remeteu-me um excelente vídeo com a espetacular apresentação da
Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais no festival “Edinburgh Military
Tatoo 2011” ,
festival que acontece na Escócia, com as maiores bandas militares do mundo.
Antes, aparece um texto no monitor de vídeo, à guisa de introdução, bem
elaborado, mas que, merece reparo por causa dos parágrafos iniciais, que são os
que se seguem:
“Quando Cole Porter veio ao Rio,
assistiu do palanque o desfile de 7 de Setembro. Quando viu passar a Banda
Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais,
ele puxou o Ary Barroso pela manga do paletó e perguntou sério: -“O que é isso?
Eles não seguem a cadência do bumbo como todos os militares do mundo. Eles
pisam num ponto surdo entre as batidas! E eles balançam para os lados como se
estivessem dançando!!!”
“O Ary respondeu: “É porque é uma banda
de mulatos que tocam de ouvido e não marcham. Eles desfilam, o que é diferente.
Esse balanço se chama “ginga”, mas eu não vou tentar te explicar porque você
não entenderia nunca...”
Meu caro Evandro Verde, Cole Porter,
cujas músicas são adoradas por dez entre dez compositores brasileiros, nunca
esteve no Rio de Janeiro. Além disso, ele nunca puxaria o paletó do Ary Barroso
para pedir uma explicação porque o autor de Aquarela do Brasil não falava nada
de inglês e francês, idiomas que Cole Porter dominava.
Sabe-se que Ary Barroso recusou um
convite de Walt Disney para assumir a direção musical da Disney Product alegando
que lá não existiam couve mineira e Flamengo. José Ramos Tinhorão, num dos seus
escritos, apresentou outra versão sobre esse convite. Segundo ele, Ary Barroso
teria de mostrar que era conhecedor da arte musical, mas, na verdade, era
incapaz de ler as partituras, por isso, recusou. Quem conhecia mesmo música era
o autor do arranjo da Aquarela do Brasil, o maestro Radamés Gnatalli. Mas isso
é outra história.
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Elio Fischberg me remete um e-mail com o
título ‘Akim Camara se apresenta com Andre Rieu’. Bem, Andre Rieu não rege uma
orquestra sinfônica com a excelência do Yehudi Menuhin e, como violinista, está
ainda mais distante do talento do músico mencionado; no entanto, é muito mais
popular. Não existe, na verdade, alguém, na música clássica, que atraia
multidões como Andre Rieu, o holandês que também é chamado de “Embaixador das
valsas”.
Meses antes, enviaram-me um vídeo em que
ele e a brasileira, apesar do nome, Carla Maffioletti, são o centro da atenção
de um teatro lotado na ária da Boneca de “Os Contos de Hoffmann”, de Offenbach.
Quando Olympia, o nome da boneca, canta a ária “Les oiseaux dans la charmille”,
a sua energia mecânica se finda, vem, então, Coppelio, o fabricante dos seus olhos, e lhe dá corda,
ressuscitando o canto interrompido. Bem, no momento em ela emperra, o maestro
Andre Rieu bradou: “Made in China”. Evidentemente que a plateia, que já
desfrutava a interpretação cômica da Carla Maffioletti, sem falar da sua
excelente voz, delirou. O fato de tirar a sisudez das salas de concerto explica
a popularidade do maestro e violinista. Um parêntese: muitas composições de
Mozart e Haydn, entre outras, nada têm de sisudas.
Mas quem é Akim Camara? Diz o Fischberg
que ele nasceu no dia 27 de outubro de 2001.
Está, portanto, hoje, com 10 anos de idade. Acrescentou o Fischberg que,
sabendo do talento do menino com o violino desde os 2 anos de idade, Andre Rieu
convidou a ele, Akim, e à sua família para visitarem seu estúdio em Kerkrade,
na Holanda. No vídeo, Akim Camara está com 3 anos de idade e toca com a
orquestra de Rieu para um público de 18 mil pessoas.
Antes de clicar no vídeo, imaginei um
menino com um cabelo da cor da espiga de milho e me surpreendi com um
crioulinho simpático. Andre Rieu entregou uma garrafa plástica de água mineral
para o menino, ele colocou o gargalo na boca, passou depois para o ouvido
direito e esguichou a água que pusera na boca. Andre Rieu conhece o gosto do povo
tão bem quando um político de palanque. A plateia já estava conquistada antes
da primeira nota do violino de Akim Camara.
Nem havia necessidade, pois o garoto encantou a todos assim que surgiu
no palco.
Como estará ele hoje com 10 anos de
idade?... Dizem que, com essa idade, Mozart perdeu a graça. É certo, mas não
perdeu a genialidade.
(*) –
Asterisco geral: A Cecília não é de Portugal, embora tenha cara, o Evandro
Verde não é verde, nem tem restaurante, embora faça uso deles e o Biscoito
Molhado não é comestível. Mundo estranho esse, hoje é segunda e quarta-feira,
ao mesmo tempo.
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