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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3850 Data:
13 de maio de 2012
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CONVERSAS NO METRÔ
-A TV Globo tirou o José Roberto
Wright...
-Agora que você falou, reparei que ele,
de fato, não vem mais comentando as arbitragens dos jogos.
-Já faz algumas semanas.
-Por que ele foi tirado da Globo?
-Porque ele colocou em dúvida um
tira-teima e o tira-teima é a menina dos olhos das transmissões das partidas de
futebol da TV Globo.
-Ele contrariou os Marinhos.
-Ele contrariou a verdade, porque o
tira-teima é a imagem da verdade.
-Nem sempre.
-Você não vai dar razão ao José Roberto
Wright...
-Não vou dar razão porque não vi o lance
que provocou essa celeuma toda, falo do tira-teima em si,
-Como ele pode falhar?
-Digamos que um atleta corra 100 metros em 10
segundos.
-Usain Bolt correu em 9,56 segundos, se
eu não me engano.
-Citei esses números para facilitar
nossos cálculos. Se 100
metros são percorridos em 10 segundos, em 1 segundo, um
atleta percorre 10 metros .
Como o jogador de futebol não é velocista, ele corre uns 7 ou 8 metros em 1 segundo.
-O Lula, antigo ponta-esquerda do
Fluminense, corria 100
metros em 12 segundos. Creio que o Cafuringa também.
-Continuando com os meus cálculos: em
frações de segundo, um jogador de futebol pode se mexer 2 metros , 3 metros ...
-E o que isso tem a ver com o
tira-teima?
-Tudo, porque vai depender do instante
em que o operador congelar a imagem que vai aparecer um jogador impedido ou
não.
-O impedimento é marcado no momento em
que a bola é lançada.
-E se o operador do tira-teima congela a
imagem uma fração de segundo depois do lançamento com o jogador que vai
participar do lance na frente, mas que, na verdade, partiu em condições legais?
-Isso é raro de acontecer.
-É raro, mas acontece.
Com uma frase filosófica, o calculista
saltou na estação de São Cristóvão:
-Entrou a figura humana em cena e o erro é
sempre possível.
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Quando entrei no metrô, na estação da
Carioca, um casal já vinha dialogando.
-Gosto deste mês de maio porque é quando
o verão deixa, realmente, de nos castigar. - disse ela.
-É o mês das noivas, das mães e do meu
aniversário?
-Quantos anos?
Ela logo se arrependeu:
.-Não, não responda porque você vai
ficar no direito de perguntar a minha idade.
-Vou falar baixo pra ninguém escutar.
E cochichou no seu ouvido.
-Sessenta e dois anos?!...
-De que adianta eu falar baixo, se você
grita?
-É de surpresa... Eu não lhe dava mais
do que 50.
-Não agradeço porque todo o vagão já
sabe a minha idade verdadeira.
-Sabia que você tem direito a sentar no
banco laranja? O metrô considera idoso quem tem mais de 60 anos.
-Se não dão lugar a quem está com 90
anos, vão dar para mim?
-E você não precisa.
-Lembre-se que a briga pelos direitos
dos negros, nos Estados Unidos, liderada pelo Martin Luther King começou quando
uma negra, que não era idosa, mas estava fatigada, recusou-se a dar seu lugar
num ônibus para um branco sentar?
-Confesso que não sabia, história não é
o meu forte.
-Mas a viagem do metrô é tão rápida,
apesar do sofrimento de sardinha enlatada, que eu não viso um lugar para pôr o
meu traseiro, prefiro,sim, saltar na plataforma sem dificuldades.
-Sem aquela gente na porta impedindo a saída.
- acrescentou a moça.
Certa vez, ano passado, precisamente,
por um desses lances de sorte, o metrô não seguia lotado e encontrei um lugar
vazio no banco dos velhos, dos gestantes, dos deficientes físicos...
-E você sentou, é claro.
-O engraçado é que havia uns idosos no
vagão, mas eles, podendo escolher o banco para se acomodarem, nunca vão para o
de cor laranja.
-É verdade.
-Lá pela estação de São Cristóvão, nessa
viagem, entrou um sujeito de cabelo escovinha com uma jovem. Ele, com ela
atrás, veio em minha direção e disse com firmeza na voz: “Por gentileza, a
minha filha está grávida.”
-Queria o seu lugar para a filha dele. Era
milico, certamente.
-Olhei para a barriga da moça e deduzi
que ela não tinha nem três meses de gravidez. Com tranquilidade, e mesmo
lentidão, abri minha mochila e peguei a minha carteira. Dela, tirei a minha identidade e a coloquei
ante seus olhos, indicando, com o dedo, a minha data de nascimento.
-Ele viu que, com mais de 60 anos, você
tinha tanto direito quanto a filha dele e foi requisitar o lugar de outro. - adiantou-se
a moça.
Mais ou menos isso. O militar, como viu
o ano em que nasci e não gritou a minha idade, deixou-me sensibilizado.
Ergui-me e ofereci meu lugar à jovem grávida.
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Sigo para o trabalho geralmente no trem
do metrô que passa por volta das 6h 15min da manhã na estação de Del Castilho.
Coloco-me, ou me espremo, no vagão dianteiro porque nele saltam e entram o
maior número de passageiros, assim, eu aproveito o fluxo e refluxo para me
segurar no balaústre.
Na viagem em questão, lá se encontravam
as pessoas que comumente eu via nessas idas matinais: a traseiruda mulata de
cabelo louro e os estudantes de São Cristóvão em que despontam a Indiazinha de
escarpim e o seu irmão. Esses dois, apesar do parentesco, nunca se falam,
apenas trocam olhares depois que o metrô passa do Maracanã. Quanto a
Traseiruda, surpreendeu-me pela sua tagarelice, quando um conhecido seu entrou
na parada do trem em
Triagem. Depois de beijinhos no rosto, falaram de amenidades.
-Ainda está em Irajá?
-Estou. - respondeu ela.
Depois, passaram a falar de computador.
-Meu irmão paga payperview de Big
Brother.
-Imagino que ele gasta um bom dinheiro. -
manifestou-se a Traseiruda do Irajá.
-Gasta um bom dinheiro para ver, às
vezes, apenas a água da piscina. - criticou o rapaz.
-Mesmo com gente dentro da piscina, como
atração, eu não dou meu dinheiro para assistir.
-Nem eu. - concordou com ela.
A Traseiruda do Irajá prosseguiu:
-Outra coisa que não gosto é de chats.
-Você fala de conversas pela internet?
-Isso; eu não tenho a menor paciência
para conversar pelo computador. - afirmou ela.
Tive de saltar na Carioca e não pude
acompanhar a continuação da conversa daqueles dois.
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