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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3855 Data:
20 de maio de 2012
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SABADOIDO
DA ENTREGA DAS
FAIXAS
-Chovia na terça feira, e eu descia a Rua
Van Gogh de guarda-chuva aberto, às 6 horas da manhã. Com tênis novo, derrapei
na parte mais inclinada da calçada e caí. Apoei-me no braço para não me machucar.
Ergui-me, espanei com as mãos as pedrinhas do corpo, peguei o guarda-chuva
emborcado no chão e reiniciei minha caminhada para a estação de Del Castilho.
No trabalho, por volta das 10 horas, senti uma coisa esquisita no cotovelo,
olhei e vi um ovo, mas não era de codorna, um ovo de avestruz. Recusei as
sugestões de ir a uma clínica de radiografia, pois não sentia a menor dor. Fiz
aplicações de gelo e o inchaço desapareceu, deixando essa mancha.
-Deixe-me ver. - pediu a Gina.
Depois de fazer considerações médicas
sobre a contusão, minha cunhada previu que ela assumiria uma tonalidade
amarela.
-Carlão está com dor de cotovelo com a
derrota do Botafogo na disputa do título com o Fluminense. - diagnosticou o
Daniel.
Cláudio, que se sentara à mesa para
descascar uma laranja, mudou de assunto.
-Você viu, Carlinhos, o canal 66?
-Eu tenho a TVA, a numeração dos canais
é diferente da NET. O que é o canal 66?
-A TV Brasil.
-Não, eu tenho o canal com a programação
da antiga TV Educativa.
-Você precisava assistir à entrevista
com o general Newton Cruz.
-Ele está com uns 88 anos. - calculei.
-86. Mas que memória!... Foi uma
entrevista para gravar, pois ele é muito engraçado.
-O presidente Figueiredo dizia: “Nini, o
nosso Mussolini...” Há uma fotografia dele, montado num cavalo branco, em que é
idêntico ao Mussolini. - lembrei.
-Quando lhe perguntaram sobre a
manifestação popular em Brasília, na votação das “Diretas já”, ele disse, na
entrevista, que soltou umas bombinhas e todo o mundo correu.
-Napoleão Bonaparte ordenou uma descarga
de canhão contra o povo em 1795. - aparteei.
-Newton Cruz disse que o repórter
desligou acintosamente o gravador na cara dele, por isso agarrou-o...
-E o obrigou a pedir desculpas. -
acrescentei.
-Afirmou o general que os dois se
tornaram amigos.
-Cláudio, o Aldir Blanc dizia que o
bairro onde morava, Muda, era tão conservador, que lá o Newton Cruz foi o
candidato a prefeito que recebeu a maior votação.
-O general Newton Cruz não suporta o
Leônidas Pires Gonçalves.
-O ministro do Exército do governo
Sarney?... Falavam que o filho dele prevaricava no mercado financeiro.
-O Newton Cruz disse que não se senta à
mesma mesa com o general Leônidas Pires Gonçalves.
-E o Luca?
-O que tem o Luca? - perturbou-se meu
irmão com a mudança brusca de tema.
-O Luca levou para a Rosa o envelope que
deixei aqui no sabadoido passado?
-Luca não tem aparecido e nem deve
aparecer hoje. Ele só parou aqui, um desses dias, para entregar uns aipins.
-Luca vai levar a Carolina para o
aeroporto daqui a pouco. - interveio a Gina.
-E eu que trouxe outro pacote de
biscoitos para a Rosa. - lamentei com os meus botões.
Daniel entrou com o assunto
futebolístico, enquanto meu irmão, como no sábado anterior, anunciou a sua ida
ao Wal Mart em busca de cervejas com preços atrativos.
-O diabo é que o Boca Juniors joga fora
de casa com a mesma pegada com que joga no La Bambonera. - expressou
meu sobrinho sua apreensão com o próximo cotejo do Fluminense na Taça
Libertadores da América.
Tenho de assistir ao vídeo do Dieckmann
sobre o “Dia das Mães”, mas com a não vinda do Luca ao Sabadoido terei tempo de
sobra para acessá-lo no cybercafé do Daniel. - pensei.
Depois de alguma conversação entre nós
três, Cláudio já rumara para o Wal Mart, o telefone tocou. Gina atendeu.
-É o Luca que está chegando cedo para
não sair tarde. - informou.
Terei de deixar o vídeo do Dieckmann
para depois e substituir o Cláudio. - apressei-me. No quintal, vi um pedaço que
recebia o sol e me postei ali.
-O Sabadoido deveria ser aqui, sob os
raios solares, que é mais saudável. - disse, enquanto a Gina trazia o Luca, que
buscara no portão.
-Está quarando, Carlinhos?- perguntou
ele.
-Como vai, Luca?
-Não posso ficar muito tempo, pois tenho
de levar a Carolina ao aeroporto.
-Sente-se. - apontou-lhe a Gina uma das
cadeiras.
-E o Claudiomiro?
-O Cláudio, como sempre, foi atrás de
cerveja no Walt Mart, Carrefour... - respondeu ela.
-Ô Claudiomiiiiiiiiiiro.- era o Daniel,
que aparecia com a faixa de campeão carioca de 2012 do Fluminense.
Depois do brado, prosseguiu:
-Luca, eu o imitei no sábado passado,
quando você esteve no Ceará, para que ninguém sentisse a sua falta.
-Bela faixa, Daniel.
-Tira para ele ver. - ordenou a Gina.
-Antes, deixa-me tirar uma foto do
Daniel enfaixado. - pedi.
Posicionei o celular, mas no instante do
clique tocou um sinal de mensagem.
-Isso é hora de mensagem. - reclamei.
Depois de eu clicar, Daniel tirou a
faixa, e o Luca se deteve nas figuras dos jogadores e do técnico Abel que foram
colocadas nela.
-Eu não tinha visto ainda uma faixa
assim, tão ilustrada.
-Isso é só com o Fluminense, Carlão.
Pouco depois, o Daniel se retirou com
sua exuberante alegria, enquanto a Gina ficava, sentada no lugar do Vagner,
ficando vaga apenas a cadeira do Cláudio.
-Vocês viram o Globo News?
-Eu não tenho esse canal, Luca.
Ao dizer essas palavras, prossegui:
-Antes de você continuar, o Cláudio me
falou agora de uma entrevista do general Newton Cruz no canal 66.
-Ele tem uns 90 anos, não tem?
-86, segundo o Cláudio, mas a memória
dele está tinindo.
-O velho lembra bem das coisas. -
confirmou a Gina sem muito entusiasmo.
-Eu não vi. Assisti, isso sim, no canal
Globo News um programa com a Ângela Maria. Ela fala da Dalva de Oliveira, que
se inspirou no canto dela...
-Dalva de Oliveira. - repetiu a Gina
meio blasé.
-A Maria Betânia citou como maiores cantoras,
Nana Caymmi, Dalva de Oliveira, Billy Hollyday, e aquela maluquinha que morreu
há pouco tempo.
-Amy Winehouse.
-Essa mesma; não colocou Gal Costa.
Parece que todas as cantoras brasileiras se espelharam na Dalva de Oliveira.
-Vila Lobos a considerava a melhor
cantora popular do Brasil.- intervim.
-Eu não gosto daquele jeito de
portuguesa de ela soltar a voz, mas eu a imitava cantando “Bandeira Branca”.
Minha mãe ficava ouvindo, depois, eu fiquei sem voz para isso. - enveredou a
Gina pelas reminiscências.
Nesse instante, o barulho do portão
anunciou a chegada do Cláudio.
Hora de assistir “O Dia das Mães” do
Dieckmann. - falei com os meus botões.
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