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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

2946 - ações no cadafalso


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5196                                    Data:  24 de setembro de 2015

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CARTAS DOS LEITORES

 

“Nos Sabadoidos que li, meses atrás, topei com o redator desde BM portando-se como consultor de investimento do sobrinho. Como eu sei que ele, o redator, tem ações da Petrobras, não deveria ficar quieto e palpitar sobre outras matérias? Paulo Fernando

BM: Na minha época de frequentador assíduo da Corretora Caravello, nos anos 80, não comprei uma só ação da Petrobras. Excesso de leitura de artigos do Roberto Campos, do Eugênio Gudin, do Simonsen?...  talvez. Porém, em 2003, recebi 21 mil reais do FGTS e, separei 18 mil reais para adquirir ações da Petrobras. Transcorridos 12 anos, não toquei nelas, nem quando deu filhotes, apenas recolhi os dividendos. Hoje, eu tenho 7950 ações. Feita uma conta apressada, a ação teria de cair abaixo de 2,26 reais para eu ter prejuízo. Ocorre que, nesses 13 anos transcorridos, a inflação, na nossa moeda, foi de 127%. Assim sendo, se o preço cair abaixo de 5,13 reais, começam as minhas perdas? Ainda não, pois não foram contabilizados os dividendos nesse período. Grosso modo, se ela despencar para menos de 4,20 reais, eu fico no prejuízo.

O que eu quis mostrar ao meu sobrinho é que, comprando ações na hora certa, a longo prazo não se perde dinheiro mesmo que uma organização criminosa esteja no governo. E qual é a hora certa? – perguntará o leitor. Eu sei que a hora certa de venda, quando eu acompanhava os seus preços negociados na Bolsa de Valores, era vender por 42,00 reais, mas, infelizmente, eu não me desapeguei delas. Logo eu, tão patrulhado (agora, bem menos) por ser admirador do Roberto Campos, do Eugênio Gudin e do Mário Henrique Simonsen, não vendi os títulos da Petrobras. Talvez alguém diga que eu não perdi, deixei de ganhar, mas para quem está na minha situação, pouco importa a diferença. Meu arrependimento só será maior se o preço da ação cair para menos de 4,20 reais pelas razões já expostas.

Finalizando, o investimento que eu sempre aconselhei como o melhor de todos é a educação. É ganho certo.

 

“... o seu supletivo me trouxe à combalida memória o meu, em 1974. Precisava completar os 4 anos do ginasial do Instituto de Educação da Mariz e Barros. Tive duas aulas de Matemática e saí chutando os quadradinhos. Consegui 4,5 pontos e fui salva pelo fulano Carrasco que deu ½ ponto a “tout le monde et son père”, o resto foi uma barbada. Retribuí esse meio ponto quando o “bourreau” foi candidato sei lá a quê e votei nele; o que a Dona Gioconda lhe contou e o deixou felizinho. “Noblesse oblige”.

Releve-me a letra; Calígula (o gato) bate com o apêndice caudal na minha cara e tenho os dedos dormentes de manhã. É a mocidade que chega, porque a velhice já chegou há muito tempo.

Amplexos”

R.

 

BM: Nossa querida Rosa de volta a esta seção, o que me obriga a ter ao meu lado o dicionário de francês-português que comprei na Rua Luís de Camões. Assim, tratemos logo dos seus francesismos. “Tout le monde et son père”, expressão recorrente nas cartas da nossa amiga, provém do provérbio francês: “On ne peut contenter tout le monde et son père” – não se pode contentar todo o mundo (na tradução ao pé da letra, não se pode contentar todo o mundo e seu pai). Pois o Carrasco (Romualdo Carrasco, diretor do supletivo no governo Chagas Freitas) contentou. Rosa aproveita e o chama de “bourreau”, que é o carrasco, mesmo, aquele de baixar a guilhotina nos pescoços desprotegidos na língua de Robespierre.

Prosseguindo com o Carrasco – não o “bourreau”, ele seria deputado pelo MDB nas eleições de 1978 e contou, como lemos, com o voto da Rosa. A gratidão exigia, mas para ela, fica mais contundente a expressão “noblesse oblige”.

O meu irmão Claudio fez essa mesma prova e conta que, além desse meio ponto, houve questões anuladas, duas, parece, que contribuíram para vitaminar a nota dos candidatos que enfrentavam a temida matemática.  Não, ele me garantiu que não votou no Romualdo Carrasco para deputado, mas no MDB sim.

Creio que a Rosa está sendo modesta quando diz que “saiu chutando os quadradinhos”. Segundo os matemáticos e estatísticos, craques em Análise Combinatória – arranjo, permutação e combinação – a nota média para quem chuta 20 questões numa prova com cinco alternativas cada, ou seja, cem no total, é 2,5. Aliás, a nota mais comum das provas de Física, no Vestibular da Cesgranrio era 2,5, porque “tout le monde et son père” (não resisti ao francesismo) chutava.  Rosa estudou no Instituto de Educação, a melhor escola feminina da época, tinha, portanto, uma boa noção de matemática, embora ame muito mais as palavras do que os números e essas duas aulas refrescaram a sua memória que nunca ficou combalida.

O seu depoimento me conduz de novo ao cidadão que, encerrada a prova de matemática, no supletivo de 1975, ao entrega-la ao fiscal, disse que não havia razão para tanta maldade (apenas 6% foram aprovados nessa matéria e 11% em geografia). Muitos dos candidatos precisavam do diploma do 2º grau, no caso, para progredir no emprego ou retornar às salas de aulas após alguns anos de afastamento, como foi o meu caso e do meu irmão. Digamos que uma prova para acertar a vida de 20% dos candidatos já estava dentro dos padrões do supletivo, mas exames arrasa-quarteirões, como foram os citados, não se justificavam. Dos responsáveis, o menos “bourreau” foi o Carrasco, o Romualdo.

Já imaginaram a Rosa, no Itamaraty, com mais erudição do que os diplomatas, marcando passo porque não tinha o diploma do 2º grau?

Transcorrido algum tempo, abriram a porteira, no ensino em geral, no Brasil e a aprovação automática ocorre como geração espontânea, e muitos alunos atoleimados chegam `a faculdade como analfabeto funcional, sem entender o que leu.

Como dizia a Dona Isaura, a mãe da Rosa: “Nem tanto ao céu, nem tanto à terra.”

Ah, sim, a Gioconda da carta é a irmã da nossa amiga, aquela que revelou ao Carrasco o voto da irmã nele, para deputado, por causa daquele meio ponto tão precioso. “Preciosíssimo” – diria José Dias, personagem do “Dom Casmurro.”

 

 

 

 

 

 

 

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