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segunda-feira, 14 de setembro de 2015

2936 - enquanto isso, numa colônia portuguesa...



 


 


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O BISCOITO MOLHADO


Edição 5186                                  Data:  10  de setembro de 2015


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122ª VISITA À MINHA CASA


 


-Alexander Hamilton, os seus feitos de fundador dos Estados Unidos da América estão sendo lembrados com extraordinário sucesso na Broadway, mais de 200 mil ingressos vendidos por antecipação e você aparece aqui, em Del Castilho, na minha casa!...


-Bem, houve mais fundadores e não foram só eu. George Washington, Benjamin Franklin, John Adams...


-Sim, mas o fundador da economia dos Estados Unidos, quem deu a feição do capitalismo americano, foi você.


-Talvez. - evitou a autopromoção; havia muitos para fazê-la.


-Por que não está em Nova York, assistindo ao musical que conta a sua história?


-Lá estive por diversas vezes na plateia e nos bastidores; não perceberam a minha presença.


-A atriz brasileira, Fernanda Torres, escreveu uma crônica em que garantiu que, ao atuar no monólogo “A Casa dos Budas Ditosos”, o autor, já morto, João Ubaldo Ribeiro ocupava uma cadeira na coxia direita que, soube ela depois pela produtora da peça, seria o lugar dele.


-No meu caso, a música da Broadway me saturou, prefiro música erudita; assisti a duas apresentações e saí de lá.


-O musical foi visto pelo ex-presidente Bill Clinton e pelo presidente Barack Obama. E pensar que você tinha tudo para ser Presidente dos Estados Unidos se não fosse aquela tragédia...


-Sem falsa modéstia; creio que chegaria, mesmo, ao poder máximo nos Estados Unidos.


-Alexander Hamilton, você é um dos maiores casos de superação que se conhece na história; nasceu nas Antilhas, na Ilha de Nevis, criado na Ilha de São Cristóvão...


-Eu estava perto de onde chegou Cristóvão Colombo e longe de onde desembarcaram do Mayflower os pioneiros puritanos. - comentou com um sorriso.


-Você era filho... - titubeei.


-Filho de um mascate escocês com uma prostituta francesa, pode dizer que é a verdade. Eu não teria chance de subir na Europa aristocrática, mas no Novo Mundo sim, apesar dos preconceitos.


-Tinha chances porque trabalhou muito.


-Comecei pirralho, com 11 anos, eu era balconista de uma empresa de contabilidade. Eu não só trabalhava muito, como estudava, mesmo sozinho; estudei Matemática, História e Ciências Naturais.


-Você já havia partido da América Central?


-Em 1772, eu já vivia em Nova York, saindo da pequena ilha de Saint Cox, nas Ilhas Ocidentais inglesas. Lá, passei a escrever ensaios que difundiam ideias sobre a necessidade de a América deixar de ser colônia da Inglaterra.


 -Pelo que li, sobre essa peça da Broadway, você escreveu um poema que alcançou um sucesso inesperado, que atravessou fronteiras. Deram-lhe, então, uma bolsa de estudos e você não desiludiu seus benfeitores.


-Eu também escrevia poemas, mas o meu forte eram os textos em prosa. Com 17 anos de idade, eu escrevia panfletos e fazia comícios nos lugares públicos de Nova York açulando o povo contra o rei.


-Na América, você caiu no meio do caldeirão político?


-Entrei no meio da agitação revolucionária. Os colonos americanos estavam indignados com a metrópole. Homens de Boston, disfarçados de índios, invadiram três navios ingleses e jogaram ao mar cargas inteiras de chá de uma companhia inglesa, em repúdio à taxação. A cidade foi, por isso, punida pelo rei George III com uma quarentena.


-Isso em 1773?


-Sim; e eu havia chegado um ano antes.


-Você estudou Direito?


-Estudei Direito no King's College, que, depois, receberia o nome de Universidade de Columbia.


-Quando a guerra da independência estourou, você entrou, sem perda de tempo, para a vida militar?


-A guerra veio em 1775 e eu me apresentei como voluntário na milícia de Nova York para pôr-me frente à  frente com os soldados de George III.


-O líder dos revolucionários, George Washington, estava acampado em Nova York?


-Sim, eu era capitão de uma companhia de artilharia e atraí a atenção de George Washington, que me quis como ajudante de campo e seu secretário particular. Ele me promoveu ao posto de tenente-coronel.


-Encontrou tempo, ainda assim, para estudar?


-Sim, em 1782, quando a guerra de independência persistia, eu terminei o curso de Direito.


-Você atuou na histórica Convenção de Filadélfia, de 1787, que resultou na Constituição dos Estados Unidos?


-Representei o estado de Nova York na Convenção de Filadélfia, e publiquei uma séria de escritos em que defendi as ideias contidas na Constituição. James Madison e John Jay, dois grandes políticos e intelectuais, fizeram o mesmo.


-Os textos de vocês três foram reunidos e se tornaram um clássico da literatura política americana com o título “Ensaios Federalistas”.


-”Federalist Papers”. - disse o nome original.


 -Você foi um dos primeiros a predizer o futuro industrial dos Estados Unidos, quando o pensamento de uma nação americana agrária pairava acima de tudo, absoluto.


-Em 1778, eu visitei as Grandes Cataratas do Rio Passaic, no norte de Nova Jersey e vislumbrei que elas poderiam prover energia para um centro industrial no estado. Mas eu não via máquinas apenas lá e sim no país inteiro.


-George Washington, que o conhecia muito bem, eleito presidente, indicou-o, em 1789, para a Secretaria do Tesouro, com a espinhosa missão de pôr ordem no caos econômico em que as 13 ex-colônias, os primeiros estados da América, se achavam.


-Assumi, como Secretário do Tesouro, a bandeira dos federalistas, lutando para que o povo americano tivesse um governo central fortalecido com uma só constituição, uma só moeda, pois eram muitas as moedas que serviam de valor de troca.


-Surgiu, então, o inexpugnável dólar. - assinalei.


-No leste da Pensilvânia e da Virgínia, para dar um exemplo do caos econômico, o uísque muitas vezes tomava o lugar do dinheiro. Tínhamos de ter uma única moeda.


-E que moeda! - exclamei.


-Eu estudava muito os pensadores da ciência econômica, franceses e ingleses, acompanhava a prosperidade da Inglaterra com a indústria, para cumprir mais essa missão que me era dada pelo grande George Washington.


-Como secretário do Tesouro, você consolidou a dívida pública da União e dos estados, fundou o banco nacional, a Casa da Moeda e lançou os fundamentos da industrialização dos Estados Unidos.


-Em dois anos, eu submeti ao Congresso cinco relatórios que representariam uma revolução financeira na economia do país e sabia que encontraria uma resistência contrária titânica.


-O seu maior opositor, no terreno das ideias, foi um dos fundadores da nação americana, Thomas Jefferson.


-Thomas Jefferson achava uma loucura desviar a população americana do campo para as fábricas, argumentando com a abundância de terras dos Estados Unidos. Eu rebatia, afirmando que não haveria independência, nem segurança que perdurassem, se as oficinas estivessem apenas na Europa.


-Entre Alexander Hamilton e Thomas Jefferson, o Partido da Indústria e o Partido da Agricultura, entre o norte, industrializado, e o sul, agrário, oscilou os Estados Unidos durante algumas décadas. - comentei.


-Só o tempo diria quem estava certo, mas nem eu e nem ele viveríamos para saber.


-É verdade. Abraão Lincoln, quando presidente da República, adotou o seu programa, eclodiu a guerra civil do Norte contra o Sul, e as suas ideias, colocadas em prática, fizeram dos Estados Unidos o que eles são hoje.


-Thomas Jefferson estava errado, mas isso não tira o seu extraordinário valor. Nós dois nunca imaginaríamos que o nosso embate no terreno intelectual acabaria numa guerra civil.


-O mesmo não se pode dizer de Aaron Burr. - assinalei.


-Nós dois lutamos juntos pela independência, eu, que cheguei a coronel, e ele, a general do Exército Continental. Deixando a vida castrense, nós nos apartamos irremediavelmente.


-O controle político pelo estado de Nova York os tornou inimigos.


-Só um duelo de pistola, com um de nós morto, poria um termo àquela rivalidade. E eu levei a pior.


-Em 1804, quando você tinha menos de 50 anos de idade, morre tão estupidamente.


-Para um bastardo, eu fiz muito, enquanto vivi, não é verdade? - disse com um sorriso e partiu.


 


 


  


 


 


 


 


 


 

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