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segunda-feira, 20 de julho de 2015

2898 - Choro puro


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5148                      Data:  16 de julho de 2015

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SÉRGIO FORTES NO RÁDIO MEMÓRIA

PARTE III

 

Depois do telefonema do Jonas Vieira, Sérgio Fortes retomou as rédeas do programa.

-Falando em Orlando Silva, vamos emendar com um imenso sucesso dele que é “Rosa”, de Pixinguinha. É uma valsa de 1917 que depois veio a ganhar letra, aí, fez um sucesso louco na voz do Orlando Silva. Nós vamos ouvir a primeira versão da valsa “Rosa”, instrumental, com Marcelo Fagerlande e Mário Sève, um belíssimo CD (Bach & Pixinguinha) que eles lançaram, anos atrás, envolvendo sax, flauta e cravo. Trata-se de um belíssimo arranjo de dois músicos extraordinários.

A propósito, vale reproduzir uma reportagem do “Universo Musical – Sua Referência em Música”.

“Fizemos uma engenharia musical ao ousar fazer uma ponte entre Bach e Pixinguinha. Parece uma ideia louca, mas há muitos pontos comuns entre eles, apesar da distância temporal. Ambos utilizam muito contraponto, que é uma melodia secundária em paralelo à principal. Temos o cravo de Bach e o sax e a flauta de Pixinguinha” – disse Marcelo Fagerlande no show formado, principalmente, por engenheiros elétricos no auditório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONSE), no Rio de Janeiro, em 6 de maio de 1998.”

 “Resolvemos juntar obras com emoção e clima parecidos. Não queríamos uma coisa caricata, com Bach em ritmo de choro e Pixinguinha em música erudita. A ideia não era distorcer os autores. Isso exigiu ensaios.”- disse Mário Sève (sax e flauta), logo corrigido por Marcelo (cravo): “Ensaio, não; muitos ensaios”.

Na Pausa para Meditação, ouvimos a crônica intitulada “Tereza” da autoria de Fernando Milfont, na locução de José Maurício; ambos mereceram rasgados elogios do Sérgio Fortes. Vieram, em seguida, as propagandas dos programas da Rádio Roquette Pinto e de eventos como o cinema africano sob o patrocínio da Caixa Econômica e apoio cultural desta Rádio.

Entra, então, uma voz que diz:

“Rádio Memória com Jonas Vieira e Sérgio Fortes.”

O Sérgio Fortes estava sendo convocado para o segundo tempo. Logo, retornou ao campo.

-Voltando à parte musical, um CD muito bacana chamado Piazzolando, envolve, naturalmente, tango. Temos, aqui, a figura do grande bandeonista Daniel Binelli, que se cerca de grandes músicos, para apresentar o repertório de Astor Piazzolla. São eles: Lilian Barreto, Paulo Bosísio, Sérgio Henrique Cazes, Paulo Sérgio Santos, Omar Cavalheiro e Beto Cazes. Nós vamos ouvir “Night Club 1960”.

Depois da gravação, Sérgio Fortes disse, sem pagar direitos autorais ao Jonas Vieira:

-Melhor do que isso só no céu.

E prosseguiu:

-Continuando: agora, o Quarteto Carioca de Violões, que é liderado pelo Nicolas de Souza Barros que esteve aqui, no programa, recentemente. Ele é um excepcional violonista. Deixem-me, agora, dizer os nomes que integram o Quarteto Carioca de Violões: além do Nicolas de Souza Barros: Marcos Lima, Vinícius de Freitas Peres e Felipe Rodrigues. Eles interpretam “Mourão”, de César Guerra Peixe.

Aqui, um adendo nosso. O Quarteto Carioca de Violões foi fundado em 1986 por Nicolas de Souza Barros e foi, naquela década, um dos mais relevantes conjuntos. Na formação de 2007, contava com André Marques Porto no lugar de Vinícius de Freitas Peres.

A participação do Nicolas de Souza Barros no programa Rádio Memória, quando apresentou obras de Ernesto Nazareth, que foram transcritas por ele para o violão de oito cordas, se deu em 13 de abril de 2914, e foi resenhada nos Biscoito Molhado de nº 2600 e 2601.

Depois de o Peter acionar as carrapetas e os violões soarem, Sérgio Fortes voltou a arregaçar as mangas.

-Mais uma vez Pixinguinha, dessa feita em parceria com João de Barro. Ouviremos a música que é a síntese da música popular brasileira: “Carinhoso”. Uma música extraordinária e ela é interpretada mais uma vez por Mário Sève e Marcelo Fagerlande no CD maravilhoso Bach e Pixinguinha.

Música essa, composta em 1917, que ficou anos na gaveta, porque era um Choro estigmatizado por só possuir duas partes. Apenas em 1936, a letra seria escrita por Braguinha, às pressas, a pedido da cantora Heloísa Helena, que fora solicitada pela primeira dama, Dona Darcy Vargas a apresentar uma canção que marcasse a sua presença numa encenação teatral de caráter assistencial. Esse pedido foi feito, logicamente, depois de ela se entender com Pixinguinha. Carinhoso, com letra, foi recusado por vários cantores, até que Orlando Silva gravou, em 1937 e o sucesso se eternizou. Isto é história, e a história deve ser citada.

-Agora, vamos ouvir “Diabinho Maluco”, de Jacob do Bandolim, com o conjunto Rabo de Lagartixa.

Por que “Diabinho”? Bem, nos tempos inspirados do compositor, o América Futebol Clube era um dos maiores clubes do futebol brasileiro e o seu símbolo era o diabo, no bom sentido. Seria Jacob do Bandolim torcedor doente do América como Lamartine Babo e Paulo Fortes, o barítono? Descobrimos que não, ele era vascaíno empedernido a ponto de compor o choro “Vascaíno” no qual reproduz o som de uma guitarra portuguesa. Isso, porém, não impediu que, no início da década de 50, compusesse o choro “A Ginga do Mané”. Se  “Diabinho Maluco” tem alguma coisa a ver com futebol, certamente, o América Futebol Clube, que voltou à primeira divisão do futebol carioca, foi homenageado.

Voltemos ao Sérgio Fortes extasiado com a gravação que foi ouvida.

-Interpretação fantástica do Rabo de Lagartixa com destaque especialíssimo para o solo de sax da Daniela Spielmann. Realmente, um show. Peter está dizendo aqui: “Ela toca muito”.

Mais uma vez, Sérgio Fortes não pagou direitos autorais ao Jonas Vieira ao concluir:

-Ela não tem vergonha de tocar tão bem. Não se vexa disso.

Daniela Spielmann estava, com toda certeza, nessa gravação, endiabrada.

-Prosseguindo – disse ele – vamos agora ouvir a orquestra Lunar, que é integrada só por mulheres e nela faz parte a nossa amiga Luciana Requião. É uma tremenda orquestra. Elas vão interpretar “Sol Carioca”, de Vera de Andrade.

Então, as mulheres reinaram absolutas na música... Falando nelas, por que os cultores da música clássica, principalmente os pianistas, não divulgam as composições de Clara Schumann, como o seu concerto para Piano e Orquestra Opus7? Ela não foi apenas a mulher de Robert Schumann e uma pianista que rivalizava, em virtuosismo, com Franz Liszt.

A Orquestra Lunar (o clube musical das Luluzinhas), representada pela Luciana Requião, possuidora de um talento poliédrico, como diria o Sérgio Fortes – arranjadora, instrumentista e professora- esteve no Rádio Memória do dia 16 de novembro de 2014. Na ocasião, os Biscoito Molhado de nº 2738 e 2739 foram dedicados a ela e ao seu conjunto.

Mas retornemos ao Sérgio Fortes que, nesse domingo, valeu por dois.

-E para fechar o programa, vamos retornar mais uma vez ao mundo maravilhoso do tango. Vamos ouvir de Astor Piazzolla “Bordel 1900” com Daniel Binelli e o Sexteto Piazzolando.

-Ouvimos a última atração da nossa programação de hoje com o notável Astor Piazzolla. Vamos reforçar o convite do livro do Jonas Vieira sobre Orlando Silva, a biografia completa sobre o extraordinário cantor. Será no dia 20 de julho, segunda feira, na ABI, às 16 horas, não mais às 17 horas. Estaremos todos lá.

E continuou:

-Assim, encerramos mais uma edição, para implicar mais uma vez com o Jonas, que não admite edição, e sim audição, e parodiando:

-Um demorado abraço.

 

 

 

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