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quinta-feira, 2 de julho de 2015

2887 - Primário Dicionário Biográfico


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5137                              Data:  31 de junho de 2015

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MINIDICIONÁRIO AUTOBIOGRÁFICO XLII

 

PROVA (01) – Algumas vezes, eu sonho que estou prestando uma prova escolar, não são pesadelos, mas quase isso. As provas escolares me marcaram tanto, que posso citar notas que tirei com 7 anos de idade sem recorrer à ficção – juro com a mão sobre a Bíblia de Mogúncia (citação recorrente da Rosa Grieco).

Comecei com um 17, num espectro que ia até a nota 100; no mês seguinte, baixei para 15. Com esse desempenho, transferiram-me da turma 3 para a turma 1, a mais atrasada da Escola 9-10 Manoel Bomfim. Perfiladas todas as turmas da tarde para o início das aulas ao meio dia (saíamos às 16h 30min) éramos escarnecidos pela turma 2 que, ao lado da nossa, cantava em tom de marcha: “Turma 1”. A nossa retrucava sem a minha participação, porque eu estava voltado para um coleguinha, mais baixo do que eu, que todos os dias me pedia para eu ser o primeiro da fila crescente em ordem de altura. “Turma 1, 2, feijão com arroz”. Com essa réplica, ficavam as duas turmas na mesma panela.

Na Turma 1 da Dona Maria Teresa, eu comecei a me recuperar e até com medalha fui contemplado. Não me recordo das minhas notas, só a da prova final, 85, que era a maior comparada com as dos meus colegas. Soube pela minha mãe que só passaram para a segunda série três alunos apenas, e que a professora chorou copiosamente. Coitada da Dona Maria Teresa! Deram-lhe os mais cabeçudinhos e poucos deles queriam se apurar.

Na formação das turmas do segundo ano, colocaram-me no turno da manhã, a dos alunos mais adiantados. Minha entrada na escola seria agora às 7h30min da manhã, e minha saída ao meio-dia. Minha mãe, sabendo que uma professora necessitava de uma vaga do turno da manhã, para encaixar o filho, que já estudava no Colégio São Bento, aceitou a troca proposta por ela e lá fui eu de volta para o horário vespertino. Então, a minha luz começou a esmaecer. Por quê?... Penso, às vezes, que foi uma revolta inconsciente minha pelo fato de não ter sido consultado nessa permuta. Ora, eu era um pirralho de 8 anos de idade para decidir o que era melhor, ou não, para a minha mãe. Seria muita pretensão minha.

Passei da segunda para a terceira série com a nota 64, da terceira para a quarta, com 53, da quarta para a admissão, com 50. Por duas vezes, fiquei no fio da navalha, pois, naquela época, reprovava-se mesmo. Nunca me esqueci de um colega de turma, chamado Édison, chorando dramaticamente porque não passou de ano.

Recordo-me das notas, mas não das professoras; uma colega de classe que se tornaria minha vizinha e, agora, amiga de Facebook, Candinha, refrescou-me a memória, além de me mostrar as fotos das nossas turmas do terceiro, quarto ano e da admissão. Dona Eunice, Dona Arlete e Dona Dulce foram nossas professoras – disse-me.

Além de eu perder a motivação do tempo da Turma 1, sofri, nos anos seguintes, com as ausências das professoras. Ficávamos nas salas de aula e nada de elas aparecerem. Depois de muitos minutos transcorridos e de muita bagunça dos alunos ociosos, vinha Dona Palmira ou Dona Léa, as professoras da secretaria, confirmar a falta da professora e que nós ficávamos com a opção de voltar para casa ou assistir à aula de outra turma da mesma série. Eu sempre ficava com a segunda opção, mas, com o descompasso das matérias ministradas entre a professora assídua e a ausente a didática ficava capenga.

Quando a ausência das professoras se tornava sumiço, a transferência de uma turma para outra se consolidava; e, assim, tornei-me colega de sala da minha irmã (como as fotos da Candinha provam), pois, inicialmente, éramos de turmas diferentes.

Na minha quinta série, a chamada admissão, o ensino melhorou muito, dentro daquele contexto, não houve solução de continuidade quanto à professora, tanto que guardei seu nome e sobrenome: Dulce Consuelo Silveira Lopes. Ela era filha da proprietária do Colégio Piratininga, na Rua Hermínia, no Cachambi. Com o magistério no DNA, foi uma ótima professora, mas não podia fazer milagres. Minhas notas melhoraram, embora eu não repetisse a minha performance da Turma 1.

Quando prestei exame de admissão para o Colégio Militar, em 1960, sofri o choque da realidade: o meu curso primário tinha sido bem deficiente. Deparei-me com questões que me pediam o sujeito das frases? Sujeito?... Eu nunca ouvira falar nisso. E o aumentativo de incêndio?... Nos cinco anos que passei na Escola 9-10 Manoel Bomfim, como aluno pontual, ninguém falou em grau de aumentativo de substantivo analítico, assim, respondi que o aumentativo de incêndio era “incendiadez”. Que coisa horrorosa! Sempre que leio os trocadilhos das crônicas com temas políticas do Aldir Blanc, eu me lembro do “incendiadez”.

Quando saiu o resultado do concurso de 1960 do Colégio Militar, disseram apenas que eu não passei. Não revelaram a minha nota. Graças a Deus.

  

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