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segunda-feira, 2 de março de 2015

2801 - virus repetentis


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5051                  Data: 19 de fevereiro de 2015

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SABADOIDO OPERÍSTICO EM DIAS DE CARNAVAL

 

-A árvore está bem encorpada. - disse a meu irmão logo que ele escancarou o portão para mim.

-Pensei em podar, mas, com este calor, não convém: fico sem sombra.

-Esta árvore não quebrou as telhas do seu telhado intrometendo-se nos fios?...

-Não; essa foi a árvore da calçada, que o pessoal do Parques e Jardins arrancou pela raiz; ela estava praticamente morta.

-Li, não sei onde, que há sequoias nos Estados Unidos que já passam dos 3000 anos de idade.

-Mais velhas do que o Sarney. - brincou.

-Nesse mesmo texto, soube que há árvore-bebê.

-Uma árvore de 300 anos, então, deve ser bebê. - deduziu.

-Isso é interessante, Claudio, e, no entanto, não nos ensinaram na escola, em Conhecimentos Gerais ou Biologia, nem mesmo no Dia da Árvore.

-Subitamente, soou, como se fosse um órgão de catedral, o teclado do Daniel.

-Ele renovou o repertório?... Toca agora o “Nessun Dorma” do Puccini.

-Carlinhos, é o “Eu Nunca Mais Vou Te Esquecer”, que o Puccini roubou do Moacyr Franco. - pilheriou.

Entramos na cozinha e o cinema passou a ser o assunto, enquanto o Daniel bisava a ária do tenor do 3º ato da Turandot.

-Fiquei na dúvida se colocava para gravar, na TV Cultura, e assistir no dia seguinte “Entre a Loura e a Morena”, mas, quando me lembrei de que, a cada intervalo, entram os comentários do Rubens Ewald Filho, acionei logo o “REC”.

-Você o considera um bom crítico, Carlinhos?

-Ele é uma enciclopédia de cinema; há sempre novidades para mim quando ele fala de algum filme. Disse, por exemplo, falou da importância do diretor Busby Berkeley, antes do início da fita, que eu desconhecia. Apesar de ele enfatizar os ângulos com que o diretor mostrava o corpo das atrizes, uma ousadia em 1943, eu fiquei impressionado com o caleidoscópio das últimas cenas; lembrei-me de algo parecido no “2001, Odisseia no Espaço”.

-Eu assisti a “2001, Odisseia no Espaço”, com o Pirulito, a certa altura ele me disse: “Claudio, não estou entendendo porra nenhuma, mas as cores são maravilhosas.”

-Quanto à ousadia do Busby Berkeley, não foi tanta, porque sumiram com o umbigo da Carmen Miranda. Por mais que eu procurasse, eu não achava, até que notei que colocaram um pano da cor da pele na sua barriga para escondê-lo.

-E ela, uma vez, esqueceu que tirara as calcinhas no camarim, quando foi rodar uma cena com o César Romero; rodopiou e filmaram a sua vagina.

-Bem lembrado, Claudio.

-A Fox destruiu todas as fotos, mas conseguiram surrupiar um negativo. Depois de um tempo, essa fotografia apareceu nas oficinas de carro e nos postos de gasolina. O FBI entrou em ação e retirou de circulação todo o material que encontrou. - prosseguiu.

-Ela era extremamente popular.  No comentário do Rubens Ewald Filho, no primeiro intervalo do filme, ele se detém na Carmen Miranda e afirma que, no palco, não tinha pra ninguém, que só dava ela. Eu creio, Claudio, que só o Jerry Lewis, no “Mamãe, Eu Quero”, conseguiu não ficar em segundo plano, com ela, no palco.

-Ela é a morena do título?

-Não; e a loura era a Alice Faye.

-Esta não fez muitos filmes, Carlinhos.

-Não, porque ela se aborreceu com Hollywood e ficou dezessete anos longe das telas. Segundo o Rubens Ewald Filho, Alice Faye se considerava mais cantora do que atriz. Eu soube por ele que Alice Faye foi a atriz que mais obteve sucesso na indústria discográfica; ficando em segundo lugar Judy Garland  e, em terceiro, Doris Day.

The End. Daniel entrou na cozinha.

-Carlão, o que você manda?

-Você mudou o repertório?

-Agora, eu tenho tocado a “Dança Húngara”, do Brahms, e o “Nessun Dorma”.

-Você já colocou no Facebook a “Dança Húngara”, falta o “Nessun Dorma”.

-Agora, não, só depois do carnaval, e eu ainda tenho de discutir o assunto com o meu empresário.

“Nessun Dorma”, Daniel, quer dizer “Ninguém Durma”, foi uma ordem dada por uma princesa ao povo da China.

-Ela era mandona como a Dilma?

-Mais ou menos, porém, bem menos trapalhona. Ela tinha de saber o nome do Príncipe  Desconhecido que decifrou os três enigmas que ela propôs, e, assim, fugir do casamento com ele. Ordenou, então, que todos ficassem acordados em busca desse nome. No terceiro ato da ópera, ouve-se, na madrugada, as longínquas palavras “Nessun Dorma”; Calaf, que era o Príncipe Desconhecido a repete e canta a sua grande ária de tenor.

-Eu ouvi muito com o Pavarotti. - manifestou-se o Claudio.

-Os críticos já reclamavam, diziam que o Pavarotti vulgarizou tanto essa ária que a transformou numa canção napolitana. - disse-lhe.

-E quem foi o melhor intérprete, Caruso?

-Não, Claudio, ele morreu três anos antes da estreia de “Turandot”. Para mim, foi Jussi Bjorling.

-O papai gostava muito dele.

-Jussi Bjorling foi considerado pela revista BBC Music Magazine o quinto maior tenor de todos os tempos. - informei.

-E o primeiro? - indagou o Daniel, que não é muito afeito à ópera, mas gosta de uma competição.

-Placido Domingo.

-Você concorda? - quis saber meu irmão.

-Ele é o tenor de mais extenso repertório da história operística, só o Nicolai Gedda, sueco como o Bjorling, chega perto. Placido Domingo é extremamente inteligente, toca piano, rege, sempre soube o momento certo de enfrentar determinados papéis na carreira dele. Com 75 anos de idade, ainda tem voz, e, como ela se tornou mais grave, tem cantado ultimamente como barítono.

Agora, era a Gina que aparecia trazendo um novo assunto.

-Pela primeira vez, caiu uma chuvarada e a Chaves Pinheiro não encheu. - alardeou com alegria.

-Depois de vinte anos?...

-Muito mais Carlinhos, a Chaves Pinheiro sempre ficava inundada, cheia de poças d' água quando chovia muito.

-Depois dessa obra na rua que durou meses, tinha de dar resultado. - comentou o Claudio.

-Pois é, fizeram uma obra de infraestrutura e tanto na rua, reasfaltaram tudo e, agora, que ela pode receber o trânsito da Avenida Suburbana em direção ao Méier, trocaram a mão, ou seja, agora o tráfego é mínimo.

-Eu faço, às vezes, contramão nela para estacionar o meu carro. - corroborou o Daniel.

-Para mim, importa é que aquele tempo em que o carro do Roberto aquaplanou aqui na garagem e o Ralph, nosso pastor alemão, nadou cachorrinho, acabou. - regozijou-se ela.

Voltei-me para meu sobrinho:

-Daniel, compartilhei um vídeo do comediante Carioca, no Facebook, em que ele imita a Dilma, e, agora, todos os comentários que os internautas fazem vão para o meu e-mail do Yahoo. Não é exagero, em três dias apaguei perto de mil comentários. Já excluí até o vídeo, mas continua. Isso é vírus?

-Carlão, na hora de compartilhar, você andou teclando o que não devia. Não é vírus, é fácil de acabar com isso. Vamos lá.

E fomos até o seu computador.

 

 

 

 

3 comentários:

  1. Prezado Ademar, o redator desta crônica faleceu há dois meses. Entretanto, o corpo técnico do Departamento de Pesquisas do seu O BISCOITO MOLHADO tudo fará para esclarecer o episódio. Muito obrigado.

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  2. Prezado Ademar,
    O departamento de pesquisas do seu O BISCOITO MOLHADO está permanentemente motivado na atenção aos seus leitores. Aqui não só esclarecemos o episódio relatado, como enumeramos plágios famosos que poderão estrelar as nossas próximas edições:
    Escreve SX:
    "Nessun Dorma" é a famosa ária do tenor na "Turandot" de Puccini. Puccini morreu em 1924. Um discípulo completou
    a obra que estreou em 1926.
    Moacir Franco "adaptou" a ária compondo "Eu nunca mais vou te esquecer". Li que foi lançada em 2006. Acho que foi bem antes.
    Em 1933, Lamartine Babo fez imenso sucesso com "Ride Palhaço", música baseada na ária famosa "Ridi Pagliacci", da ópera "I Pagliacci" , de Rugero Leoncavallo. Sucesso do carnaval de 1933, na voz de Mario Reis.
    Acho que existem outras inspirações do tipo, cometidas por Lamartine Babo e Braguinha. Paulo Fortes sabia tudo a respeito...
    Em recente "Biscoito mencionei "Bring back my butterfly" , em que Cole Porter cola os versos de "Madame Butterfly", de Puccini.

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