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quarta-feira, 11 de março de 2015

2809 - até enterro acaba em pizza


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5059                                  Data:  04 de março de 2015

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CARTAS DOS LEITORES

 

-Lendo sobre os seus cachorros, lembrei-me muito bem de todos, principalmente do Silveira. Luca

BM: Sim, Luca, nós lhe pedimos ajuda para enterrá-lo. Do lado do corpo do Silveira, eu fiquei abismado com o número de pulgas que saltavam fora dele; elas sentiram logo que o sangue esfriou. Foi quando você apareceu, chamado pelo meu pai, com um saco de plástico cheio de cubos de gelo sobre uma das vistas – a dor de cabeça o torturava. Era a época em que você se identificava com o poema “Num monumento à aspirina”, de João Cabral de Melo Neto, outro sofredor crônico de dores de cabeça, embora, ao que me parece, você procurasse outros remédios como, no caso, o frio excessivo para mitigá-las.

Mesmo combalido, você saiu a campo com meu pai para tratar do féretro do nosso último cachorro de estimação. Juntou-se a vocês o meu irmão Claudio, que logo recorreu ao Pernambuco, um amigo dele que morava num casarão com várias pessoas, na Rua Itamaracá, onde havia um trecho de terra razoável. E, numa cova “de bom tamanho nem largo nem fundo” - retornando ao poeta – descansou o nosso inesquecível Silveira.

 

 

-No programa Rádio Memória do dia dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, o Biscoito Molhado não aludiu ao projeto do Jonas Vieira, meu inimigo de infância. Simon Khoury.

BM: Jonas Vieira é admirável, não se envolve com o modernoso, mantendo-se fiel aos seus amigos dos bons tempos, lutando denodadamente para que as suas memórias não se apaguem. Também é, na medida do possível, pois os obstáculos são terríveis para quem não tem Lei Rouanet, um animador cultural.

Ele está, agora, com um projeto, idealizado no ano passado e que a FIRJAN aprovou, de contar a história do Rio de Janeiro, sobretudo a história musical, nos seus 450 anos. O projeto se chamará “Rio: Cidade da Alegria” e será encerrado com as criações mais significativas sobre ela, como “Alegria”, de Assis Valente, “Cidade Brinquedo”, de Silvino Neto e Plínio Bretas e “Cidade Mulher”, de Noel Rosa. Será ressaltado o fato de o Rio de Janeiro, no Brasil, ter sido o berço da indústria, do comércio, da arte musical e da literatura, onde surgiu o primeiro teatro, as primeiras ruas, as primeiras grandes empresas.

A concretização dessa ideia está agendada para o mês de junho, e o Jonas Vieira convida a todos os ouvintes do Rádio Memória, mesmo os que não acordam antes das 8 da manhã, no domingo, a comparecerem.

 

-A edição do Biscoito Molhado sobre o nosso programa, meu e do Jonas Vieira, em que foi celebrada a valsa, o redator citou uma ária da ópera “O Trovador”, de Verdi, mas não registrou o seu nome. Sérgio Fortes.

BM: Trata-se da ária do segundo ato da cigana Azucena “Stride la vampa” (Queima a fogueira).  É a dramaticidade que não se perde, pelo contrário, se acentua no ritmo da valsa, feito só obtido por um gênio como Giuseppe Verdi.

No programa a que o Sérgio Fortes alude, só ouvimos o ritmo da valsa como a celebração da alegria, mas nem sempre foi assim. Sibelius compôs “Valsa Triste”. O segundo movimento da Sinfonia nº 6, de Tchaikovsky, alegro con grazia, é uma valsa, que alguns musicólogos dizem retratar a agitação psicológica do compositor, com 5 tempos por compasso, não convencionais,  2+3 seguido de 3+2. Outros afirmam que se trata de uma valsa fantasmagórica. O 3º movimento da sua Quinta Sinfonia é também uma valsa, porém com luminosidade.

Em resumo: nem todas as valsas são a celebração da vida.

 

-Você sabe qual é o dia do meu aniversário? Rosa Grieco

BM: O Dieckmann declara que decorar data de aniversário é coisa de mulher. Mesmo que tivesse razão, eu colocaria a minha virilidade em risco para dizer: 4 de março é o dia do aniversário da Rosa.

Por outro lado, Sérgio Fortes, como o Homem-Calendário do Rádio Memória, bradaria altissonante: “No dia 4 de março de 1461, o rei Henrique VI é deposto pelo seu primo, que se torna o rei Eduardo IV.” Tudo bem Shakespeariano, como você gosta e desentendimento na família, que você tão bem conhece.

Nos nascimentos, ele citaria o do Tancredo Neves, em 1910 e o seu, sem citar o ano, porque o Sérgio Fortes é um homem gentil, apesar das controvérsias que o Dieckmann levanta.

Parabéns, Rosa, e muitos livros de vida.

 

-Apesar de o Simon Khoury ter aparecido no Rádio Memória com um CD do Henry Mancini justamente no dia dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, eu consegui celebrar a efeméride. E o Biscoito Molhado? Jonas Vieira

BM: Meu caro Jonas, eu sei que você, ao contrário do seu xará bíblico, não foge das missões a que o designaram.

Confesso que, nos 450 anos da cidade, eu ocupei mais o meu tempo com as reminiscências do Rio de Janeiro 50 anos mais novo, embora fosse um adolescente na época.

Só se falava no Rio Quatrocentão. Havia uma música que dizia “Rio que ficou quatrocentão”, que logo o meu pai parodiou para “Rio que ficou quase sem pão”. Houve “Rio Quatrocentão” do Jackson do Pandeiro, que você deve conhecer profundamente, como estudioso da música popular brasileira, enquanto eu conheci agora, pesquisando na internet.

Recordo-me do logotipo, que eram dois quatros em cima e dois embaixo virados de cabeça para baixo, o desenho de quatro quatros designando o quarto centenário. Tal logotipo se via em todo lugar até nos sorvetes. Por que fui lembrar justamente o sorvete? Porque minha tia, a irmã mais velha da minha mãe, resolveu competir no concurso de fantasias do Teatro Municipal, na categoria originalidade, homenageando o aniversário da nossa cidade. Então, nós todos, chegados a ela, fomos recrutados para pegar no chão tudo que era caixinha de sorvete, parecíamos os catadores de latinhas de hoje.

Depois, minha tia recortava o logotipo com a tesoura, precisa como uma cirurgiã e, quanto havia uma quantidade espantosa de recortes, ela os costurava num tecido. Havia um chapéu, não me recordo bem dele, sei apenas que não tinha aba, era do formato de uma torre com vários logotipos, é evidente, pregados nele.

Fantasiada, não entrava em carro algum; foi alugado um pequeno caminhão e ela foi de São Cristóvão ao Teatro Municipal, na parte em que é alocada a carga, de pé, atenta para não cair numa freada brusca.

Mesmo não sendo classificada entre os cinco primeiros, no concurso, achou que valeu a pena. Eu discordei: perdi muitas horas pelas ruas catando caixinhas de sorvete.

 

Por que no seu minidicionário biográfico, no vocábulo “Pizza”, você não citou o Gagau? Dieckmann

BM: Omissão minha imperdoável.  Quando provei a pizza feita pelos seus filhos, Gagau e Fred, no aniversário de uma colega de trabalho nossa, na sua casa, em 2003, senti o sabor da minha primeira pizza, aquela de meados dos anos 60.

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