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quarta-feira, 4 de março de 2015

2808 - piadistas e trocaudilhos


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5058                              Data:  02 de março de 2015

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HENRY MANCINI NOS 450 ANOS DO RIO DE JANEIRO

 

Sérgio Fortes saiu de Copacabana rumo à emissora com a piada no bolso do colete. Bastava o Jonas Vieira se referir ao aniversário da cidade, o que seria inevitável, pois o programa caía bem no dia 1º de março, e ele a soltaria.

-Bom dia, ouvintes da Rádio Roquette Pinto do Rio de Janeiro, 94.1, aqui estamos nós, hoje, exatamente no dia em que o Rio comemora 450 anos, uma cidade fantástica, extraordinária pela qual eu tenho a maior paixão. O que você pensa disso, Sérgio?

-São 450 anos com corpinho de 300.

Pronto, o humor estava garantido para aquele domingo; Sérgio Fortes poderia falar, agora, só em tragédias, como a atual situação econômica do Brasil, porque já dera a sua parcela à descontração do programa.

Depois das saudações dos dois apresentadores aos cariocas, nascidos cá ou não, indagou do Sérgio Fortes o que havia além do Rio. Este imaginou, como todos nós, que era a hora do calendário, mas foi inesperadamente interrompido:

-Vamos fazer o seguinte: vou colocar a primeira gravação no ar, depois você vem com o calendário.

Levei as mãos à cabeça.

-”Cidade Maravilhosa, não!...”

Eu estava rotundamente enganado; o discotecário era o Simon Khoury e nós ouvimos uma composição de Duke Ellington na leitura de Henry Mancini, que apeteceu a todos.

O Homem-Calendário ainda esperou um minuto, porque o Simon Khoury tinha uma dúvida.

-Antigamente, quando se falava em banda, era uma orquestra: metais, flautas, madeiras... agora, um trio de rock é banda?

Sérgio Fortes interveio:

-Tudo virou banda, baseado naquele ditado: “O que abanda não prejudica”.

Mark Twain afirmava que o trocadilho era a pior forma de humor, como ele não se achava presente, morreu em 1910, Sérgio Fortes não se sentiu cerceado no seu direito de fazer trocadilhos. (*)

Jonas Vieira tentou esclarecer a questão:

-É porque os americanos chamam de banda apenas o “Jazz Band”, sopro e percussão, e chamam de orquestra as que têm isso e mais as cordas. Isso vem de muito tempo, do jazz e outras coisas. Modernamente, o Jazz e o Rock incorporaram isso com grupos menores, que passaram a ser chamados de banda que, na verdade, é um pedaço de uma orquestra.

Em seguida, o Homem-Calendário concedeu um tempo para o filho da Anna Koury enaltecer Henry Mancini. Ele avançou para anunciar a segunda gravação a ser ouvida, quando foi interrompido pelo titular do programa.

-Primeiramente, o calendário. - interveio o titular do programa.

E vieram os eventos históricos; antes, uma advertência aos leitores: alguns acontecimentos não chegaram aos ouvintes. Foram cortados na edição, mas nós, do Biscoito Molhado, aproveitamos tudo.

Agora, sim, o Homem-Calendário.

-Jonas, eu vou ciar três fatos históricos que estão inter-relacionados. Veja só: em 286, o imperador romano Diocleciano concede a Maximiano o título de César; em 293, os dois nomeiam Constâncio Cloro e Galério como Césares. Não é só isso: em 317, Crispo e Constantino II, filhos do imperador romano Constantino I, e Licínio Júnior, filho do imperador Licínio, recebem o título de César.

-E mais – inflou a voz o Sérgio Fortes – Czar significa César em russo, e Kaiser, César em alemão.

-Tornar-se César era a glória. - comentou o Jonas Vieira.

Simon Khoury, até então calado, se manifestou:

-Vocês sabiam que César, o original, o Júlio César, disse o seguinte: “Sou homem de todas as mulheres e mulher de todos os homens”?

-Atualmente, a glória dos Césares que andam por aí é ser apenas mulher de todos os homens. - alfinetou o Jonas Vieira.

O Homem-Calendário seguiu adiante:

-Em 1º de março de 1146, o Papa Eugênio III publica novamente a sua bula “Quantum”. Você leu esta bula, Jonas?

-Eu engulo os papas sem ler a bula. - foi a resposta imediata.

-Em 1580, o filósofo francês Michel de Montaigne publica os livros I e II de seus “Ensaios”.

-São aqueles livros que todo o mundo cita, mas ninguém lê. - comentou o Jonas Vieira.

-Nos meus livros “Bastidores”, eu narro vários ensaios, mas são de teatro, nada a ver com filosofia. - manifestou-se mais uma vez o Simon Khoury.

-1792, início do reinado de Francisco I da Áustria.

-Mozart ainda vivia?

-Não, Simon, morreu poucos meses antes.

-Então, Serginho, para a coroação de quem ele compôs a ópera “A Clemência de Tito”?

-Para a coroação do imperador da Boêmia, Leopoldo II. Tratava-se de uma encomenda e Mozart não compôs no estilo italiano como queriam, e a imperatriz chamou a ópera de “porcaria alemã”.

Satisfeita a curiosidade do Simon, ele prosseguiu:

-Primeiro de março de 1290, é criada a Universidade de Coimbra. Jonas, eles começaram uns 400 anos antes da gente.

Precisamente 623 anos, pois a primeira universidade brasileira, a do Paraná, foi inaugurada em 1913.

-Essa eu não sabia: em 1493... eu sempre chamei de Pinta; Santa Maria, Pinta e Niña, mas é La Pinta. Ela chegou ao porto de Bayona, Espanha, de regresso da América, configurando o sucesso da empreitada. Foram três, voltou uma e o pessoal bateu palma.

-Em 1498, Vasco da Gama chega a Moçambique.

Agora, a voz do Sérgio Fortes se tornava ainda mais sonora.

-Em 1565, Estácio de Sá funda a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

-Grande Sebastião!- exclamou o Jonas Vieira.

-Grande Tião! - exclamou o Simon Khoury, que é mais íntimo do santo.

-Em 1815, Napoleão Bonaparte retorna à França depois do seu exílio na Ilha de Elba.

-Em 1845, os Estados Unidos anexaram a República do Texas.

-Um estado pequenininho. - pilheriou o Jonas Vieira.

-Do tamanho de Sergipe, mais ou menos. - entrou o Sérgio Fortes também no clima de sarcasmo.

-1870, fim da Guerra do Paraguai com a morte de Solano López.

-1894, primeiras eleições diretas para presidente do Brasil

Além da fraude, na contagem dos votos, sem eleitoras, pois o voto feminino só chegou ao Brasil em 1932.

-Em 1953, Josef Stalin sofre um derrame cerebral e morre quatro dias depois.

-Não deixou saudades. - comentou o Jonas Vieira.

Nefanda figura.

Agora, o Sérgio se mostrava entusiasmado:

-Olha que interessante: em 1975, lançado o Dicionário Aurélio. É da maior importância.

Sem o Aurélio, como os ouvintes entenderiam o Jonas Vieira quando ele se diz “acachapado”; ou o Sérgio Fortes, quando diz “sói acontecer”?

 

(*) Não só Marc Twain, o Dieckmann também detesta trocadilhos infames, especialmente os do Sergio Fortes, de quem ouve produções por tempos infinitos. Conta ele que o indigitado tinha o hábito de falar tevelisão em vez de televisão e que pagou caro por isso em momento de total circunspecção, para desespero de Marc Twain, que, prevendo o desfecho, pode apresentar uma cara de samambaia da lusiana, enquanto assistia a cena.

 

 

 

 

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