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segunda-feira, 22 de abril de 2013

2364 - o pai dos inventores


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4164                                 Data:  05 de  Abril de 2013
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85ª VISITA À MINHA CASA

E vi à minha frente Jules Verne. (*)
-O criador da ficção científica. - entusiasmei-me.
-Não lhe direi se vim de balão, barco, submarino. - brincou.
-Sei que não veio de balão porque você, dando a volta ao mundo em 80 dias,  não  passaria por Del Castilho.
-Talvez...
-Jules Verne, o escritor favorito de Santos Dumont, que se inspirava em você, conforme revelou, para criar as suas máquinas voadoras.
-Eu acompanhava com bastante interesse o seu trabalho.
E prossegui no meu entusiasmo:
-Jules Verne, que o inventor Igor Sikorsky exaltava porque o seu livro “Robur, o Conquistador” o levou à invenção do helicóptero.
-Eu apenas escrevia livros. - disse Jules Verne modestamente.
-Livros que inflamaram a imaginação de homens importantes para o progresso.  Jacques Cousteau, passado quase um século, lhe rendia homenagens no seu diário de bordo. Simon Lake, que desenhou os primeiros submarinos, creditou sua inspiração à leitura de “Vinte Mil Léguas Submarinas” e escreveu ele na autobiografia: “Jules Verne foi, de certa maneira, o diretor-geral da minha vida.”
-Sim, mas em 1620, o holandês Cornelis J. Drebbel conseguiu navegar com um submarino o rio Tâmisa.
-Contudo, Jules Verne, foi Simon Lake, em 1898, que criou o modelo capaz de submergir no alto-mar.
-Sei disso; eu morreria sete anos depois.
-Seus livros tratam de elementos de tecnologia considerados fantásticos, no seu tempo, mas que, hoje, são corriqueiros. Como você vislumbrou o futuro sem ser, digamos, um Nostradamus?
-Herdei da minha mãe o gosto pela poesia e, do meu pai, apesar de advogado, a queda pela precisão, pela ciência. Meu pai possuía um telescópio que ficava voltado para o relógio da mais alta torre de Nantes, para acertar as horas.
-Você nasceu na cidade de Nantes?
-Em 8 de fevereiro de 1828, na pequena Ilha Feydeau. Nasci na casa da minha avó materna Sophie, não direi seu nome todo, pois é quase tão comprido quanto aqueles nomes hispânicos que Voltaire citava no seu conto filosófico “Cândido”.
-Recordo-me disso, não dos nomes. - sorri.
-Minha mãe, que também se chamava Sophie, pertencia a uma linhagem de navegadores e armadores escoceses, quanto ao meu pai, formou-se em Direito.
-Você era o primogênito?
-Sim; com um ano de idade, quando nos mudamos para uma casa próxima, nasceu meu irmão Paul, depois vieram minhas três irmãs: Anna, Mathilde e Marie.
-E os estudos, Jules Verne?
-Com seis anos de idade, fui enviado para um colégio interno. Minha professora, Madame Sambin, era casada com um capitão da marinha que estava desaparecido por 30 anos. Ela dizia que ele era um náufrago, como Robinson Crusoe, que estava numa ilha deserta e paradisíaca, que voltaria.
-Isso incendiou a sua imaginação de criança. - deduzi.
-A história de Robinson Crusoe me marcou por toda a minha vida e me influenciou em algumas novelas.
-”A Ilha Misteriosa” foi uma delas. - citei.
-Dois anos depois, enviaram-me para a Escola Saint-Stanislas para eu me ajustar à inclinação católica do meu pai.  Lá, eu me senti atraído por geografia, grego, latim e canto. Elogiavam-me pela memória; eu recitava muitos versos de cor, também trechos em prosa.
-Sua família se mudava constantemente de casa.
-Não era bem isso, íamos para casa de férias. Nesse ano de 1836, nós fomos para perto do rio Loire. Eu ficava fascinado com os navios mercantes que passavam, registrei isso nas “Memórias de Infância e de Juventude”.
-Você também passou férias na casa do seu tio Prudent Allotte em Brains.
-Ele era um armador aposentado que rodou pelo mundo. Eu ficava horas ouvindo as suas histórias. Usei o seu nome em duas novelas.
-Contam que você, com 11 anos de idade, embarcaria num navio, como clandestino, para as Índias de onde traria um colar de coral para a sua prima Caroline, mas o seu pai chegou a tempo e o obrigou a jurar que só viajaria na imaginação. Como essa história foi escrita pelo seu primeiro biógrafo, sua sobrinha Marguerite Allotte de la Füye, parece que é uma dessas lendas de família.
-Mas eu estava mesmo apaixonado pela minha prima, seria, na época, capaz de lhe presentear com um colar de coral que eu buscaria na Índia.
-Com 12 anos de idade, seus pais se mudaram de novo?
-Fomos para um espaçoso apartamento no nº 6 da Rua Jean-Jacques- Rousseau. Matricularam, me, então, no Pequeno Seminário de Saint-Donatien. Essa passagem da minha vida me inspirou a novela, que deixei inacabada, “O Padre”.
Uma obra que descreve o seminário com termos depreciativos e irônicos. - comentei.
-De 1844 a 1846, eu e meu irmão Michel cursamos o Liceu Real em Nantes. Recebi o bacharelado em Retórica e Filosofia.
-E a sua amada prima Caroline?
-Fui enviado para Paris pelo meu pai, para prosseguir meus estudos e, assim, fiquei por um tempo longe de Nantes.  Minha jovem prima se casou, então, com um homem de 40 anos e teve vários filhos. No meu despeito, escrevi uma carta à minha mãe em que a descrevi como uma pessoa sempre em estado de gravidez.
-Você não ficou muito tempo em Paris nessa oportunidade?
-Não; fiquei apenas para os exames do primeiro ano de Direito, e retornei a Nantes para me preparar para o segundo ano.
-E você voltou a se apaixonar?...
-Conheci Rose Herminie Arnaud Grossetière, um ano mais velha do que eu e me apaixonei perdidamente.
-Sua veia poética estufou.
-Enchi meu caderno de poesia com versos em que ela era a musa. Dediquei-lhe muitos acrósticos.  Ela me inspirou também “A Filha do Ar”.
-Você foi correspondido nessa paixão?
-Parecia que sim, mas ela logo cedeu à pressão dos seus pais que desaprovavam a ligação da filha com um estudante de futuro incerto. Ela se casou com um proprietário de terras dez anos mais velho.
-E você ficou decepcionado.
-Fiquei furioso. Desabafei a minha fúria numa carta que remeti a minha mãe.
-Seus biógrafos afirmam que esse caso de amor abortado lhe inspirou várias personagens que tiveram de casar contra a vontade.
-Reconheço que Herminie esteve presente em algumas obras minhas como num poema em que ataquei a sociedade de Nantes.
-Mas havia Paris e para lá você foi em julho de 1848.

(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO é um fã de Jules Verne, como é também fã de Monteiro Lobato, o que deu a essas recentes edições toda uma satisfação em distribuí-las. Entretanto, o Município desta cidade não dá suficiente destaque aos dois escritores, pois um é rua em Campo Grande e outro, uma travessa numa vila em Inhoaíba (vi no Google, uma favela horizontal). Já Eça de Queiroz fica na Penha e Pero Vaz de Caminha foi para Teresópolis.


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