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quinta-feira, 4 de abril de 2013

2352 - quilos e cátedras


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4152                                      Data:  20 de  Março de 2013
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SABADOIDO  PAPAL
PARTE II

-Você viu, Carlinhos, o padre que anunciou o novo papa?
-Não, Gina.
Ele parecia bêbado, balançava de um lado para o outro.
Eu saberia, depois, que se tratava do Cardeal Louis Tauran, que sofre da doença de Parkinson.
-Carlão, os argentinos já chamam o papa de Francisco Diego Maradona. - interveio o Daniel com a sua alegria costumeira.
-Gostei do papa, pois não se deslumbrou com o cargo e porque é bem-humorado.
-Não se deslumbrou até agora. - alfinetou a Gina, que se diz kardecista e frequenta a igreja católica.
-O que mais gostei do papa foram as suas palavras sobre os ateus e agnósticos. - frisei.
-Intolerante ele não é. - afirmou meu irmão.
Daniel, que saíra por minutos, voltou para me informar que o seu computador estava à minha disposição.
-O Carlinhos está agora com a NET de 10 megas, não vai precisar. - interferiu a Gina.
-Há uns vídeos que ainda não posso ver porque me falta um programa no computador que logo será instalado. - justifiquei-me.
Cinco minutos depois, eu assistia os vídeos com os três gols que levaram o Botafogo ao título da Taça Guanabara. Depois de rever pela quarta vez esses gols, Gina, que acessava um notebook, numa salinha contígua ao lugar onde eu estava, declarou:
-Depois, você fala que o Daniel não se cansa de ver os gols do título do Fluminense...
De volta à cozinha, percebi que o Claudio estava sem discurso com a demora do jornal e do Luca.
-Claudio, você conhece aquela história narrada pelo Fernando Henrique Cardoso?
-Como você não disse qual é a história, não posso responder sim ou não.
-O Fernando Henrique conta que, quando candidato a presidente, em 1994, falou para uma plateia de agricultores de Juazeiro do Norte, no Ceará. Rememorou, então, que se opusera à Revolução de 1964 e que, por isso, foi preso e perdeu a cátedra. No momento dos apertos de mãos, um popular o cumprimentou e lhe disse: “Este negócio de cátedra... Não se preocupe. Você é homem! É macho! Todo mundo sabe. E foi por uma boa causa.”
-Eu li isso no Ricardo Noblat há uns três anos. - garantiu-me.
Nesse instante, o telefone soou.
-É o Luca. - previu a Gina.
Atendi e ouvi a voz do nosso amigo informando que já se encontrava no portão.
Mal ele entrou no recinto da sessão do Sabadoido, ou seja, na garagem do antigo fusquinha da Gina, foi abordado por meu sobrinho.
-Luca, o papa é o Chico Segundo, porque o primeiro é o Chico Buarque de Holanda.
-É isso aí, Daniel.
-É o Chiiiiiiiiiiiico.- completou meu sobrinho.
Depois que todos se sentaram, Luca teve a palavra.
-Consegui vencer o gordo. Ele não me esquarteja mais no pingue-pongue.
-Você estava endiabraaaaaado.
-Estava Daniel. Ele tem uns 170 quilos, mas é 20 anos mais novo do que eu.
-Vou chamar o Válber. - pilheriou meu irmão reportando-se a um antigo morador da Chaves Pinheiro com 70 e muitos anos, que se casou com a irmã da nora, que também tem gosto pelo pingue-pongue.
-Esse gordo é tão bom assim?
-Carlinhos, ele joga mais do que eu. O jogo dele é de muita porrada,  diz que o meu é técnico.
E discorreu sobre a sua preparação para as partidas.
-Eu uso anti-inflamatório em spray nos joelhos, depois enfio flexores  nas canelas, nos joelhos. Enquanto jogo, nada sinto, mas, quando as partidas terminam, eu não consigo erguer os braços para arrancar a camisa de tão doloridos que ficam. Eu, com 68 anos, ele, com 170 quilos, jogamos horas, enquanto aparecem garotos com 30 anos que logo se dizem cansados.
-O Luca estava endiabraaaaado.- voltou a brincar meu sobrinho.
-E a Kiarinha? - perguntou a Gina por sua neta.
-Está lá. A avó puxa por ela nos estudos, porque muitas coisas eu não resolvo, como MDC.  Nos cálculos que eu fazia, sempre usei a prova do 9.
-Hoje, é tudo na maquininha. As pessoas ficaram com preguiça de calcular.
-Sim, Gina, mas na hora da prova, não se pode usar a máquina de calcular.
Kiara trouxe-me à mente seu pai, o Pedro, e, por associação, o taxista Machado.
-Luca, peguei o táxi do Machado, nesta semana e ele me disse que você se mudou, informei-lhe que seu filho é que se mudara.
-O Machado apareceu na hora da mudança e eu lhe falei que aqui só passava carro de motorista que fosse de Pernambuco da cidade de...
E citou a cidade natal do Machado cujo nome me escapa.
Claudio voltou a expressar a sua decepção com o ministro Joaquim Barbosa por ter agredido verbalmente um jornalista.
-E as desculpas não deveriam ser dadas por nota de assessoria. Por muitíssimo menos, o Barack Obama, que é presidente dos Estados Unidos, chamou um jurista e um xerife, que se altercaram e ele, Obama, se metera com uma opinião infeliz, para tomarem cerveja com ele na Casa Branca.
-Eu também me decepcionei com o Joaquim Barbosa, Claudiomiro.
-E o André Rieu de quem você me falava no telefone, quando tive de interromper porque estava com um problema para resolver no trabalho?
Luca se voltou para todos, menos para o Claudio, que rumara para a cozinha para pegar as bebidas.
-Vocês sabem qual a música que o André Rieu considera a mais popular do mundo?
-Pensei no “Danúbio Azul”, mas citei a “Primavera” de Vivaldi.
-”Aleluia”.
-”Aleluia” de Handel? - surpreendi-me.
Gina cantarolou “Deus, alegria dos homens” de Bach para, em seguida, afirmar que julgava essa a mais popular.
Claudio, que ouvira palavras soltas, voltou sem os copos para dizer que “Deus, alegria dos homens” não era de Handel.
-Ninguém disse isso, Claudiomiro.
-Ah, bom! Com o Carlinhos aí...
Com todos presentes, menos o Daniel, Luca se indignou com as três aberrações que o Faustão citara como os maiores sucessos musicais do ano. E prosseguiu:
-O Humberto Reis dizia, no rádio, que o maior sucesso do ano foi “Coração de Mãe”, do Teixeirinha, mas que ele não tocaria no programa dele.
-”Churrasquinho de mãe” é melhor do que essas três que o Faustão citou.
-Sem dúvida alguma, Claudiomiro.
Reportei-me à excelência do gosto musical de antigamente, quando o compositor e virtuose da flauta, Patápio Silva, colocava mais de uma música entre as dez mais ouvidas no Brasil. Quis citar a novela da Globo que reviveu uma das suas composições, há pouco tempo, mas o nome “Primeiro Amor” não me ocorreu.
Falou-se muito nesse Sabadoido, até na língua latina, em que foi dito que quiproquó vem de quid pro quo, que significa tomar uma coisa pela outra.
Fui para outro tema:
-E a nossa estimada Rosa Grieco?
E o Luca me passou as suas cartas, que me pus a ler, enquanto a conversação no Sabadoido transcorreu com concordâncias e discordâncias.


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