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quarta-feira, 10 de abril de 2013

2356 - Paquequer cracudos?


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4156                                   Data:  24 de  Março de 2013
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SABADOIDO ANTES E DEPOIS DO JORNAL

-O jornal ainda não chegou. - disse-me o Claudio.
-Agora que não preciso do computador do Daniel, teria tempo de tirar uma casquinha do Globo. - disse para ele.
Então, o telefone tocou. Era o Daniel, que informava a sua chegada na Casa da Moeda e o mau tempo que fazia em Santa Cruz.
-O Daniel trabalha sábado e domingo, na Casa da Moeda; são os dias em que ele pode fazer a manutenção dos computadores. É chato, mas ele ganha um dinheiro extra. Aqui faz sol, mal lá chove.
-Um sol meio suspeito, Claudio.
-No Rio não choveu tanto assim, mas em Petrópolis e Teresópolis...
-Você se lembra do capítulo final de “O Guarany” do José de Alencar?
-Carlinhos, eu nunca li esse romance.
-Li quanto tinha 13 anos, quando entrei no Visconde de Cairu, não porque o colégio exigiu, eu já era leitor de livros. Não me lembro muito bem, mas penso que Peri navega sobre uma palmeira com Ceci depois de uma chuvarada que fez transbordar o Rio Paquequer.
-O Paquequer é o primeiro rio a transbordar quando chove muito em Teresópolis.
Finalizou a sua fala dizendo que ia ver se o jornal já chegara. Enquanto rumava para a frente da casa, eu deduzia que a Gina estava no supermercado pelo silêncio no interior da casa. Claudio voltou sem nada nas mãos.
-Já é o terceiro sábado em que o Vagner não aparece. Estou preocupado, vou saber depois, com o Lula, se aconteceu alguma coisa com ele.
-A terceira sessão do Sabadoido que ele falta. - acrescentei.
E a conversa derivou para o futebol.
-Gostou do Brasil e Itália da quarta-feira?
-Carlinhos, para uma seleção desentrosada como a nossa, até que o time do Felipão foi bem.
-Claudio, até que enfim eu li uma pessoa lúcida falando do Brasil e Itália de 1982.
-A crônica do Fernando Calazans de quarta-feira no Globo?
-Ela mesma. Aquela seleção brasileira de 1982 ficou supervalorizada. Viram-na jogar com os olhos apaixonados e não se preocuparam em rever as suas partidas; então, para esses torcedores ficou tudo fantasiado na memória.
-Uma seleção que tinha Serginho Chulapa e Valdir Peres não poderia estar entre as melhores da história do Brasil. - diagnosticou.
-O Fernando Calazans se referiu, nas entrelinhas, à soberba dos brasileiros no jogo contra grandes jogadores da seleção italiana, de 1982, além de apontar falhas bisonhas na nossa defesa.
-Mais tarde, eu vou procurar, na montoeira de páginas do Globo, essa crônica. - disse ele.
-Quando eu revi o Brasil e Itália de 82, fiquei com a sensação que todas as vezes que eles precisavam fazer um gol faziam, e sem esperar muito tempo. - assinalei.
-Carlinhos, eles tinham jogadores como Bruno Conti, Scirea, Cabrini, Maldini, Baresi...
-E o que escreveu o Fernando Calazans?
-No primeiro gol da Itália, o Éder tentou desarmar o Bruno Conti de letra. A bola foi passada para Cabrini que cruzou para o Paolo Rossi que fez o gol de cabeça apesar da pouca altura.
-No segundo gol, o Cerezo cruzou a bola em frente da área do Brasil, erro que não se comete nem em pelada. O Paolo Rossi aproveitou e meteu o segundo gol. - antecipou-se meu irmão.
-Fernando Calazans também assinala a reação retardada da defesa brasileira nesse lance.
-O terceiro gol da Itália saiu de um escanteio, de uma bola vadia, um bate e rebate e a bola sobrando para o Paolo Rossi, que estava com uma tremenda sorte nesse dia.
-Sim, Claudio, mas o Fernando Calazans lembra como tudo começou.  Cerezo, ao fazer a cobertura de um lançamento longo, em vez de jogar a bola para a lateral, preferiu atrasar para o Valdir Peres, que foi nela com uma das mãos e não evitou o corner.
-Você lembra o que a seleção italiana disse depois desse jogo? - perguntou-me.
-Eu me lembro o que disse o Zezé Moreira, como olheiro do Brasil, depois de os italianos jogarem mal as oitavas de final e mostrarem que ascendiam ao derrotar a Argentina: “Cuidado com a Itália.”
-Os italianos disseram que o Brasil agora somos nós. - respondeu a sua pergunta.
-E foram campeões do mundo com alguma facilidade, meteram 3 a 1 na Alemanha Ocidental, depois de 3 a 0 até os 80 minutos de jogo.
Nesse instante, o celular tocou e meu irmão atendeu; era o Luca. Pelas palavras do meu irmão, dizendo que eu comprara todos os produtos da feira e, por isso, precisava de carona para voltar para casa, deduzi que ele não viria para a sessão do Sabadoido.
Falaram os dois de uma nota no Globo da sexta-feira sobre João Gilberto, que motivou mil piadas do Claudio com os cantores de nome João. Encerrada a ligação, premi o número do telefone do Luca no meu celular.
Enquanto isso, Claudio foi ver de novo se o Jornal chegara.
-Luca, e as partidas contra o Gordo nesta semana?
-Carlinhos, o Gordo não consegue vencer mais uma partida... - entusiasmou-se.
-Luca, você está esquartejando o Gordo.
-Ele até tirou a camisa, para se movimentar melhor e se refrescar, mas não adiantou. Dei-lhe uma coça.
-Pena que você não venha aqui para contar, pois os leitores do BM gostam de saber desses embates de pingue-pongue entre vocês.
-Eu estou na Arquias Cordeiro e posso passar ai, agora, para levá-lo para casa.
-Não se preocupe, o Cláudio exagerou. Eu só vou carregar uma sacola com quatro maçãs.
Claudio reapareceu com o Globo na mão.
Quando eu e ele reiniciamos o nosso falatório, reportei-me a um caso  de três dias antes com a minha irmã.
-Ela levou uma amiga, que passava mal, a duas clínicas, que as tratou mal. Foram para a UPA de Engenho de Dentro, onde o atendimento foi humano. Então, apareceu lá uma mãe com uma menininha e ela dizia que, caso a filha chorasse, não veria o Dorf,  Nossa irmã ficou intrigada, pois conhecia todos os desenhos da televisão e não havia visto esse tal de Dorf. Soube, depois, que se tratava do Seedorf e que estava prometido que ela entraria de mãos dadas com ele no próximo jogo do Botafogo. A menina foi furada duas vezes, para tirar sangue e não derramou uma lágrima.
-Seedorf é gente boa. - frisou.
-Não é por ser do Botafogo, mas é o ídolo perfeito para a petizada, e não esses Ronaldos e Neymar, cujas vidas fora dos gramados não são exemplares.
A Gina chegou das compras, falou sobre um e outro assunto, sem muita disposição, talvez estivesse com a enxaqueca que vez ou outra a ataca.
Saí daquele Sabadoido em que mais uma vez o cavalo que substitui os ausentes ficou sobrecarregado. Carregando a sacola com quatro maçãs, caminhei até a minha casa, com todo o cuidado para não pisar os cracudos esparramados pelas calçadas.




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