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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4156 Data: 24 de
Março de 2013
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SABADOIDO ANTES E DEPOIS DO JORNAL
-O jornal ainda não chegou. - disse-me o
Claudio.
-Agora que não preciso do computador do
Daniel, teria tempo de tirar uma casquinha do Globo. - disse para ele.
Então, o telefone tocou. Era o Daniel,
que informava a sua chegada na Casa da Moeda e o mau tempo que fazia em Santa Cruz.
-O Daniel trabalha sábado e domingo, na
Casa da Moeda; são os dias em que ele pode fazer a manutenção dos computadores.
É chato, mas ele ganha um dinheiro extra. Aqui faz sol, mal lá chove.
-Um sol meio suspeito, Claudio.
-No Rio não choveu tanto assim, mas em
Petrópolis e Teresópolis...
-Você se lembra do capítulo final de “O
Guarany” do José de Alencar?
-Carlinhos, eu nunca li esse romance.
-Li quanto tinha 13 anos, quando entrei
no Visconde de Cairu, não porque o colégio exigiu, eu já era leitor de livros.
Não me lembro muito bem, mas penso que Peri navega sobre uma palmeira com Ceci
depois de uma chuvarada que fez transbordar o Rio Paquequer.
-O Paquequer é o primeiro rio a
transbordar quando chove muito em Teresópolis.
Finalizou a sua fala dizendo que ia ver
se o jornal já chegara. Enquanto rumava para a frente da casa, eu deduzia que a
Gina estava no supermercado pelo silêncio no interior da casa. Claudio voltou
sem nada nas mãos.
-Já é o terceiro sábado em que o Vagner
não aparece. Estou preocupado, vou saber depois, com o Lula, se aconteceu
alguma coisa com ele.
-A terceira sessão do Sabadoido que ele
falta. - acrescentei.
E a conversa derivou para o futebol.
-Gostou do Brasil e Itália da
quarta-feira?
-Carlinhos, para uma seleção
desentrosada como a nossa, até que o time do Felipão foi bem.
-Claudio, até que enfim eu li uma pessoa
lúcida falando do Brasil e Itália de 1982.
-A crônica do Fernando Calazans de
quarta-feira no Globo?
-Ela mesma. Aquela seleção brasileira de
1982 ficou supervalorizada. Viram-na jogar com os olhos apaixonados e não se
preocuparam em rever as suas partidas; então, para esses torcedores ficou tudo
fantasiado na memória.
-Uma seleção que tinha Serginho Chulapa
e Valdir Peres não poderia estar entre as melhores da história do Brasil. -
diagnosticou.
-O Fernando Calazans se referiu, nas
entrelinhas, à soberba dos brasileiros no jogo contra grandes jogadores da
seleção italiana, de 1982, além de apontar falhas bisonhas na nossa defesa.
-Mais tarde, eu vou procurar, na
montoeira de páginas do Globo, essa crônica. - disse ele.
-Quando eu revi o Brasil e Itália de 82,
fiquei com a sensação que todas as vezes que eles precisavam fazer um gol
faziam, e sem esperar muito tempo. - assinalei.
-Carlinhos, eles tinham jogadores como
Bruno Conti, Scirea, Cabrini, Maldini, Baresi...
-E o que escreveu o Fernando Calazans?
-No primeiro gol da Itália, o Éder
tentou desarmar o Bruno Conti de letra. A bola foi passada para Cabrini que
cruzou para o Paolo Rossi que fez o gol de cabeça apesar da pouca altura.
-No segundo gol, o Cerezo cruzou a bola
em frente da área do Brasil, erro que não se comete nem em pelada. O Paolo
Rossi aproveitou e meteu o segundo gol. - antecipou-se meu irmão.
-Fernando Calazans também assinala a
reação retardada da defesa brasileira nesse lance.
-O terceiro gol da Itália saiu de um
escanteio, de uma bola vadia, um bate e rebate e a bola sobrando para o Paolo
Rossi, que estava com uma tremenda sorte nesse dia.
-Sim, Claudio, mas o Fernando Calazans
lembra como tudo começou. Cerezo, ao
fazer a cobertura de um lançamento longo, em vez de jogar a bola para a
lateral, preferiu atrasar para o Valdir Peres, que foi nela com uma das mãos e
não evitou o corner.
-Você lembra o que a seleção italiana
disse depois desse jogo? - perguntou-me.
-Eu me lembro o que disse o Zezé
Moreira, como olheiro do Brasil, depois de os italianos jogarem mal as oitavas
de final e mostrarem que ascendiam ao derrotar a Argentina: “Cuidado com a
Itália.”
-Os italianos disseram que o Brasil
agora somos nós. - respondeu a sua pergunta.
-E foram campeões do mundo com alguma
facilidade, meteram 3 a
1 na Alemanha Ocidental, depois de 3
a 0 até os 80 minutos de jogo.
Nesse instante, o celular tocou e meu
irmão atendeu; era o Luca. Pelas palavras do meu irmão, dizendo que eu comprara
todos os produtos da feira e, por isso, precisava de carona para voltar para
casa, deduzi que ele não viria para a sessão do Sabadoido.
Falaram os dois de uma nota no Globo da
sexta-feira sobre João Gilberto, que motivou mil piadas do Claudio com os
cantores de nome João. Encerrada a ligação, premi o número do telefone do Luca
no meu celular.
Enquanto isso, Claudio foi ver de novo
se o Jornal chegara.
-Luca, e as partidas contra o Gordo
nesta semana?
-Carlinhos, o Gordo não consegue vencer
mais uma partida... - entusiasmou-se.
-Luca, você está esquartejando o Gordo.
-Ele até tirou a camisa, para se
movimentar melhor e se refrescar, mas não adiantou. Dei-lhe uma coça.
-Pena que você não venha aqui para
contar, pois os leitores do BM gostam de saber desses embates de pingue-pongue
entre vocês.
-Eu estou na Arquias Cordeiro e posso
passar ai, agora, para levá-lo para casa.
-Não se preocupe, o Cláudio exagerou. Eu
só vou carregar uma sacola com quatro maçãs.
Claudio reapareceu com o Globo na mão.
Quando eu e ele reiniciamos o nosso
falatório, reportei-me a um caso de três
dias antes com a minha irmã.
-Ela levou uma amiga, que passava mal, a
duas clínicas, que as tratou mal. Foram para a UPA de Engenho de Dentro, onde o
atendimento foi humano. Então, apareceu lá uma mãe com uma menininha e ela dizia
que, caso a filha chorasse, não veria o Dorf,
Nossa irmã ficou intrigada, pois conhecia todos os desenhos da televisão
e não havia visto esse tal de Dorf. Soube, depois, que se tratava do Seedorf e que
estava prometido que ela entraria de mãos dadas com ele no próximo jogo do
Botafogo. A menina foi furada duas vezes, para tirar sangue e não derramou uma
lágrima.
-Seedorf é gente boa. - frisou.
-Não é por ser do Botafogo, mas é o
ídolo perfeito para a petizada, e não esses Ronaldos e Neymar, cujas vidas fora
dos gramados não são exemplares.
A Gina chegou das compras, falou sobre
um e outro assunto, sem muita disposição, talvez estivesse com a enxaqueca que
vez ou outra a ataca.
Saí daquele Sabadoido em que mais uma
vez o cavalo que substitui os ausentes ficou sobrecarregado. Carregando a
sacola com quatro maçãs, caminhei até a minha casa, com todo o cuidado para não
pisar os cracudos esparramados pelas calçadas.
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