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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

2099 - fonética diferenciada

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3899 Data: 09 de fevereiro de 2012

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SABADOIDO MUSICAL

PARTE II

Abri a minha caixa de correspondência, no computador e me deparei com quase vinte e-mails relacionados a uma foto da Avenida Atlântica de 1957 com banhistas e, o mais importante para os remetentes, carros, quatro ou cinco. Uma questão foi proposta de início: quais as marcas dos automóveis que posaram para a prosperidade? Quanto às marcas, não restaram dúvidas, pois a turma do Dieckmann está apta a responder sobre veículos no “Céu é o limite”. Um parêntese, já que citamos o antigo programa televisivo de perguntas e citamos o holandês voador: “dizem que, quando jovem, Dieckmann tinha o pé direito tão pesado, ao dirigir, que o céu era mesmo o limite”.

Confesso que não li todas as respostas e comentários, pois o automobilismo não é minha praia, apesar da Avenida Atlântica, mas vi que um deles discordou do ano da foto, seria anos 40 e não, 1957.

Passei para outra mensagem eletrônica, seu título: “Não compre esse GPS”. Cliquei no vídeo e surgiu um motorista, dirigindo numa rua, enquanto uma voz feminina vinda de um GPS o instruía: “Entre a esquerda, seu imbecil. Por aí não, seu idiota?...”

-Isso é GPS ou é a sogra do motorista no banco de trás do carro?

Ao fazer-me esta pergunta, o Daniel e a Kiara entraram na minha Lan House, ou seja, no quarto.

-Daniel, veja este vídeo. - e cliquei no replay.

-Carlinhos, isto é sacanagem. - manifestou-se prontamente a Kiara.

-Se vendessem GPS igual a esse, eu compraria um para dar de presente. - comentou o Daniel.

-Kiara, antes de eu liberar o computador, tenho de enviar um e-mail.

-Sim, Carlinhos... Não tem pressa.

Enquanto eu esclarecia a um colega de trabalho que determinada frase era da autoria do Barão de Itararé e não uma das Leis de Murphy, a neta do Luca informava que o seu tio Benjamim aparecera no Globo Rural. Daniel reagiu com uma gargalhada e a menina ficou ressabiada. Ele teve de se explicar. Em seguida, ela apresentou outra novidade.

-Vou começar a fazer um curso de inglês.

-Don’t you think that your English is good enough to go to Barra da Tijuca?...

Depois dessa pergunta, Daniel prosseguiu com mais duas frases em inglês, titubeou, perdeu a fluência, e concluiu:

-Minha saída dos Correios enferrujou o meu inglês.

-Não há mais os turistas para atender?- indaguei.

-Principalmente, os alemães, eles são muito alegres e adoram conversar...

-Eles adoram conversar na língua da Margareth Thatcher. (*) - interrompi.

Avisei, em seguida, a Kiara que o computador estava liberado para os joguinhos dela e fui à sessão do Sabadoido onde já se achavam o Cláudio, o Luca e o Vagner.

-Ninguém interpretava Free Again com a carga passional da cozinheira da Dona Nonô. - lembrava o Luca.

-Ela superava a Barbra Streisand. - cheguei dentro do espírito da brincadeira.

-No momento em que ela cantava but, free again, ela socava ainda com mais força a carne para amolecê-la. - prosseguiu nas reminiscências dos anos 70 da rua Chaves Pinheiro o Luca.

-Cláudio cantando Alone Again do Gilbert O' Sullivan também emocionava. - recordaram.

-Era o meu cavalo de batalha daquela época. - admitiu meu irmão.

-Ninguém cantava como o Careca “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos.” - falei.

-O Careca morreu.

-Há algum tempo.

-Faz uns anos...

Ouvindo essas frases dos meus três interlocutores, reagi com tristeza:

-O Careca, irmão da Cristina, filho do Zorro, que era garoto quando éramos rapazes?

-Ele mesmo. - confirmaram a má notícia.

Feitos do Careca saíram imediatamente debaixo das cinzas da minha memória.

-Lembra-se, Cláudio, quando o Careca lhe fez companhia, no ponto, e quando você entrou no ônibus, que estava cheio, ele gritou com um passageiro levantar-se para lhe dar o lugar?

-Eu ri sozinho durante uma boa parte da viagem. - disse.

-O Careca não viajou nesse ônibus? - quis saber o Vagner.

-Não, ele esmurrou, do lado de fora, a carroçaria do ônibus, e quando o passageiro, sentado, olhou pela janela, levou esse esporro do Careca. - explicou.

Luca puxou um dos recortes de jornal que trouxera, um artigo do Ruy Castro e leu que o centenário do Nélson Rodrigues será apoteótico.

-Nem tudo está perdido. - pensei sem me manifestar.

-Nélson Rodrigues falava que seria esquecido.

E acrescentou com uma frase do dramaturgo:

-O morto só descansa realmente em paz quando é esquecido.

Em seguida, reproduziu parágrafos do autor do “Anjo Pornográfico” sobre os eventos que estavam agendados para os 100 anos do Nélson Rodrigues.

-Ele é um dos autores mais citados pelo Carlinhos.

Caramba, eu nem tentei expressar o meu encantamento quando me deparei com as suas crônicas esportivas, quando adolescente. Anos depois, o deslumbramento prosseguiu com as suas “Confissões” e, já adulto, com os seus textos da tragédia carioca para o teatro.

-Nélson Rodrigues morreu com 68 anos de idade, em 1980.

-Novo – interrompeu-se o Luca, que se aproxima dessa idade.

-A tuberculose o golpeou fortemente deixando sequelas por toda a sua vida. - pensei.

-A fala do Nélson era arrastada, elástica, bovina. Apesar da idade, morreu velhíssimo. - leu e comentou o Luca.

-Hoje, com 68 anos, canta-se rock, anda-se de motocicleta... - foi a vez do Cláudio interromper sob o olhar de aprovação do Vagner.

Luca passou a falar sobre seu encontro com um Paulinho que é conhecido por todos ali, da sessão do Sabadoido, menos por mim.

-Pelo que ouço de vocês, é uma figura folclórica.

-Carlinhos, você precisa conhecer o sujeito. - aconselhou o Vagner com mordacidade.

-Ele gosta mais do Chico Buarque do que eu. - admitiu o Luca, que não deixava ninguém lhe tomar a palavra como um jogador individualista que não passa a bola.

-Ele diz que escuta todos os músicos de jazz e que nenhum deles supera o Chico. E ele escuta mesmo jazz, pois herdou os discos do pai. Na música popular, de que país for, ainda não apareceu quem compusesse como o Chico, é o que o Paulinho garante.

-Ele é doido. - protestou o Cláudio.

-Eu falei com o Paulinho que nós fechamos com o Chico, mas para ele não bobear com o Claudiomiro, que é “piranho” velho em matéria de música. - disse o Luca.

-Esse tal de Paulinho deve ser uma pessoa que adquiriu muito conhecimento sem que o seu cérebro estivesse capacitado a processá-lo, por isso, fala disparates e é visto como uma pessoa folclórica pelos amigos. - julguei, sem nada falar.

-Kiara, hora de ir embora. - gritou o seu avô depois que percebeu que já passava das doze horas.

(*) Há uma razão para cariocas e alemães se entenderem bem em Inglês (isto não vale para paulistas): A pronúncia do Alemão e do Português é muito assemelhada, praticamente se fala tudo como se lê – exceção para ei, eu e outras pequenas diferenças. Além disso, cariocas tem um erre gutural que cai bem com alemães e holandeses e que os faz sentirem-se em casa, mas que faz a diferença entre os nativos de língua inglesa. Já paulistas, mineiros e outros interioranos falam door igualzinho aos ingleses.

2 comentários:

  1. O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO atalhou:

    Sugiro parar por aqui porque qualquer comentário vai pro blog.

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  2. Carlos Alberto Torres comentou:

    Trata-se de uma das mais importantes passagens do Veteran Car RJ, o QUIZ.
    Um dos sócios, de maneira geral os que frequentam o Clube do Bondinho as 2 fs. na Rua Triunfo, envia uma foto, em que os carros devem ser identificados.
    A confusão entre 1957 e 1940, foi pq um dos copistas anexou uma foto dos anos 40 a resposta....

    O Sr. Distribuidor do BM é dos que tem o maior indice de acerto, além ser implacavel com as identificações equivocadas. O cara é mau feito o pica pau....

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