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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3896 Data: 01 de fevereiro de 2012
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COMENTANDO O QUE LEIO NOS JORNAIS
50 ANOS ATRÁS (leio sempre esta seção do Globo) saía a seguinte notícia em janeiro de 1961:
“O príncipe Charles, filho da Rainha Elizabeth II, será castigado com bastonadas se cometer certas faltas, como fumar em público – declarou o Sr. T.Chew, diretor da “Gordonstow”, escola que o príncipe passará a frequentar a partir do primeiro trimestre. O diretor informou também que todas as manhãs o príncipe deverá correr pelo jardim, vestindo apenas um calção branco e uma camiseta e, em seguida, tomar uma ducha de água fria.”
Minha mãe dizia a qualquer hora que lhe perguntassem a idade do Príncipe Charles, porque eu nasci a treze meses do primeiro parto da Elizabeth II. Eu usava o mesmo método mnemônico da minha mãe: não erro a idade da rainha, porque as duas nasceram no mesmo ano, 1926.
Quanto à notícia transcrita acima... Bem, a educação inglesa forja têmperas viris. Vale lembrar, agora, a obra-prima da literatura portuguesa, “Os Maias”, de Eça e Queirós. Porque o filho Pedro da Maia se suicidou por causa de um amor contrariado, o patriarca da família culpou a influência da carolice, que ele sofrera da mãe e contratou tutores ingleses para educar o neto. Assim, Carlos Eduardo Maia, desde menino, praticou natação, remo, corridas e, depois, ia para o chuveiro de água fria. Quando a desilusão amorosa desabou sobre ele, ao contrário do pai, ele escapou com vida.
Em 1961, o príncipe Charles levaria umas bastonadas caso fumasse. Foi nesse ano que dei início à minha prática de tabagismo. Minha mãe saiu com meus irmãos e eu tratei de ir ao botequim, que ficava na esquina da Rua Honório com a Rua Cachambi, onde comprei um maço de cigarros Continental. Em casa, acendi um cigarro no outro e fumei até ficar tonto e me sentir enjoado. O mal-estar que eu senti deveria fazer o efeito das bastonadas, mas a idolatria que eu tinha pelos artistas de cinema – todos fumantes inveterados – fez-me superar aquela fase até eu me tornar viciado. Dois anos depois, eu estava fornecendo cigarro a um professor de matemática. Meu pai, por sua vez, só abriu guerra contra a bebida alcoólica: o cilindro catingoso dos filhos ele tolerava, desde que não fosse fumado na sua frente.
Não sei se, por causa do cigarro, o príncipe Charles gostaria de trocar de posição comigo, como na história de “O Príncipe e o Mendigo” de Mark Twain.
Correr de calção, camiseta e entrar numa ducha de água fria também foram a minha atividade desde que entrei no Colégio Visconde de Cairu. O desagradável era o tempo que os professores de Educação Física davam para a ducha: 1 minuto. Ora, com 1 minuto, nós estávamos ainda acostumando o corpo à friagem. Também era esse o prazo para nós vestirmos o uniforme da escola depois do banho. Um minuto era o tempo que a Josefina Bonaparte precisava para segurar uma das suas meias. Assisti, aliás, a um filme
Essa educação sem regalias fez bem ao príncipe Charles, na vida adulta? Na minha opinião, sim, pois ele casou com quem não queria casar, por exigências do trono e depois ficou com a sua amada “bruxinha”, prevalecendo a sua vontade.
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“Em entrevista à revista britânica “New Scientist”, o físico divorciado duas vezes e pai de três filhos, citou o sexo oposto, quando perguntado sobre o que mais pensa durante o dia: -Nas mulheres, elas são um mistério completo.”
Não se trata de qualquer físico, e sim daquele que é considerado o maior deles com vida, o britânico Stephen Hawking. Palavras ditas por ocasião das festividades dos seus 70 anos.
O jornalista, que elaborou a reportagem com a frase aspada acima, deu-lhe o título: “Mulheres, um mistério para Hawking” e o subtítulo: “Aos 70 anos, físico que decifrou os buracos negros diz não entender o sexo oposto.”
Para mim, não foi surpresa, não porque ele vive numa cadeira de rodas e a sua cabeça está no cosmos, pois, mesmo assim, casou duas vezes e teve três filhos. Não foi surpresa porque Freud, que criou a psicanálise, declarou que nunca se sabe o que uma mulher pensa.
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“Em discurso de apenas 20 minutos pronunciado semanas atrás, o candidato Newt Gingrich, o ex-presidente da Câmara que cultiva o estilo pitbull, mencionou três vezes que a maior ameaça dos Estados Unidos seria se tornar um país parecido com a Europa. Aproveitou para mostrar um vídeo que retrata Mitt Romney, até agora o mais viável adversário de Obama, como tendo tido um passado “internacionalista” - leia-se, europeu. No vídeo, o ex-governador de Massachusetts aparece fluente na língua estrangeira que causa maior indigestão aos republicanos – o francês.”
O texto acima é da jornalista casada com Elio Gaspari, Dorrit Harazim. Ela, mais adiante, revela que o político americano que fala francês e ainda se formou na Universidade de Harvard causa engulhos aos extremistas de direita dos Estados Unidos. Aqui, no Brasil, ocorre praticamente a mesma coisa, só trocam as ideologias. É aquela velha história: os extremos se tocam. A presidente Dilma Rousseff gosta da ópera “Tristão e Isolda” de Wagner, mas declara em entrevistas que é fã das músicas de Jerry Adriani (Arfff!...). Ela tem de se mostrar parecida com o povo, como o seu padrinho Lula.
Dia desses, o cronista do Globo, Daniel Dapieve, se referiu aos elogios que a presidente fez ao último livro de poesia do Ivan Junqueira e aconselhou, como um incentivo à educação do povo, que ela repercutisse o seu gosto pela arte bem feita. Não creio que consiga sucesso, pois homem culto no Brasil, de uns dez anos para cá, é sinônimo de pedante.
No artigo da Darrit Harazim, ela alude às French fries (Fritas francesas, nome com que Thomas Jefferson batizou as batatas fritas). Dois congressistas republicanos irados, porque a França votou contra a invasão do Iraque, em 2003, conseguiram trocar o nome das French fries, servidas nas lanchonetes e restaurantes do Capitólio, para liberty fries. Depois de um tempo, o nome dado por um dos pais da nação americana retornou.
A batata é originária do Peru e a batata frita nem francesa é, veio da Bélgica.
Por hoje, é só.
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