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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

2092 - camas e depressões

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 3892 Data: 29 de janeiro de 2012

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SABADOIDO SOB CHUVA

Anos atrás, quando programava idas às praias, eu me irritava com a previsão do tempo, pois não tinha uma resposta decisiva, podia chover, fazer sol, ou ficar nublado, era como se os técnicos do Serviço de Meteorologia jogassem sempre triplo, na loteria esportiva. Agora, não; na quarta-feira, por exemplo, quando o asfalto há dias fumegava com o sol, ouvi a previsão de frente fria na sexta-feira e olhei com carinho para o guarda-chuva.

Pensava no que vai acima escrito, remanchando ainda na cama, enquanto a chuva caía.

-Hoje, o Sabadoido será debaixo d´água.

No dia anterior, a temperatura caiu consideravelmente, e a minha mãe, que costuma, nessas horas, dizer que é assim que as crianças caem doentes, só agradeceu pela ida do calor senegalesco.

Quando saí para caminhar durante uma hora, não caiu uma gota, mas minutos depois, fui para o Sabadoido protegido por um guarda-chuva.

Quando o Daniel aparecer para abrir o portão, direi que craques como ele jogam tanto no seco quanto no molhado.

Como soía acontecer nas minhas chegadas de manhã cedo, para o Sabadoido, meu irmão estava sentado à mesa com o jornal nas mãos.

-Estou na primeira página, logo termino. - avisou-me.

Você é igual ao pai; lia o jornal de trás para frente, porque começava com a página do futebol.

-Hoje, há um caderno dedicado ao esporte, mas sigo o costume.

-Não me lembro, Cláudio, de 1960 para cá, de ficarmos um dia sem O Globo.

-E o papai trabalhou no Diário de Notícias, na Vanguarda, no Informador, no Mundo Ilustrado, em várias publicações e nunca no Globo. - registrei.

-Do Diário de Notícias, ele partiu para o DNER.

-Tenho acompanhado a minissérie “Os Kennedys.” - mudei de assunto.

-E o John Kennedy já se tornou presidente?

-Você sabe que a disputa com Richard Nixon, vice-presidente do Eisenhower, foi acirradíssima. O patriarca da família, Joseph Kennedy, sabia que precisava dos votos de Chicago para vencer em Illinois, colégio eleitoral fundamental.

-Ele era o cabeça de tudo?...- comentou com rispidez.

-Ele era o motor e colocou o Robert Kennedy para coordenar a campanha do irmão mais velho.

-A chapa do John Kennedy era formada com o texano Lindon Johnson. - lembrou meu irmão.

-Como eu dizia, eles precisavam ganhar em Illinois para chegar à presidência. Então, a minissérie mostra o Frank Sinatra servindo de intermediário de um encontro entre o Joseph Kennedy e o mafioso Sam Giancana, sucessor do Al Capone, que controlava os sindicatos de Chicago e manobrava os cabos eleitorais da cidade.

-O ator Peter Lawford, que pertencia à turma do Sinatra, era casado com a Patrícia Kennedy, irmã do futuro presidente. O John Kennedy, através dele, conheceu o Frank Sinatra e participou com ele de umas farras.

-Sim, Cláudio; a máfia sempre investiu em artistas de Hollywood. Quando o Bugsy e outros mafiosos construíram Las Vegas, se beneficiaram do George Raft, que levou muitos artistas para divulgar a cidade deles. Depois, o Frank Sinatra, com a fama que possuía, se tornou o queridinho da máfia.

-E o Frank Sinatra levando o Joseph Kennedy ao Sam Giancana?... - impacientou-se.

-Neste ponto, a minissérie falha, pois mostra o pai do Kennedy dizendo duas frases vazias, o Sam Giancana falando um tanto agressivamente. Joe Kennedy pega o chapéu e antes de sair o mafioso lhe pergunta se ele era, de fato, amante da Gloria Swanson. Ora, Cláudio, um negociador como o patriarca dos Kennedy não se encontra com o chefão da máfia para não tratar do que lhe interessa.

-Todo o mundo sabe que esse acordo dos Kennedy com a máfia saiu.

-O que a minissérie mostra?... O Frank Sinatra convencendo o Sam Gincana como a máfia ganharia com a eleição do John Kennedy. Ora, o mafioso foi interrogado pelo Robert Kennedy, em 1957, precisaria, portanto, de garantias para apoiá-lo. O filme, depois, mostra um Frank Sinatra como um leva e traz, levando esporro dos dois. O Joe Kennedy bate o telefone na cara dele...

-Sei que o John Kennedy se torna presidente dos Estados Unidos graças a esses votos de Chicago e que, pouco depois, a máfia passa a ser incomodada pelo irmão do presidente. - interveio o Cláudio.

-Sim, o Robert Kennedy, como Procurador-Geral da República, investigou a máfia. Houve mafiosos que, sentindo-se traídos, quiseram matar o Frank Sinatra. Assisti a um documentário em que o Sam Giancana controla os que pretendiam acabar com o cantor dizendo que ele entrou nessa história como otário.

-Sei que o Frank Sinatra tomou ódio dos democratas e se tornou um republicano empedernido.

-Interessante também é o relacionamento do Robert Kennedy com o seu subordinado, o chefe do FBI, J. Edgar Hoover, que sabia da vida de todo o mundo.

-Depois, todo mundo soube da vida dele, que era louco por rapagões.

-Naquela época, a imagem dele era irretocável; conseguira, praticamente, expulsar o Charles Chaplin dos Estados Unidos.

-O Clint Eastwood fez, agora, um filme sobre o J.Edgar Hoover; não sei se o Leonardo di Caprio se saiu bem no papel.- falou meu irmão.

-Já presidente dos Estados Unidos, o John Kennedy recebeu, de madrugada, na Casa Branca, uma mulher. Dias depois, o J. Edgar Hoover pediu uma audiência ao presidente e mostrou as fotos que o FBI tirou da mulher entrando e saindo do encontro. E informou que ela era amante do Sam Giancana.

-E o chefe dele?

-O Robert Kennedy esteve presente nessa audiência. - respondi ao meu irmão.

-Ah, bom, o J.Edgar Hoover tinha de respeitar a hierarquia.

-Essa mulher e outras passavam pelas camas do Frank Sinatra, do Sam Giancana e do John Kennedy. Mas é o Chefe do FBI que informa os irmãos sobre um encontro entre o pai deles e o maior mafioso de Chicago.

-E o que acontece?

-Os dois convocam o pai e cortam o cordão umbilical, ou seja, o Joseph Kennedy não poderia negociar mais em nome dos filhos.

-E ele? - quis saber meu irmão.

-Ele se sentiu como no dia em que levou o pontapé na bunda de Franklin Delano Roosevelt, quando embaixador dos Estados Unidos na Inglaterra. Aposentado em casa, deprimido, teve um derrame e perdeu a fala. (*)

Nesse instante, o Daniel apareceu com sua alegria esfuziante falando de futebol.

(*) Pudera, o Joe Kennedy era embaixador lá e defendia os nazistas; ficou deprimido porque quis.

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