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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3893 Data: 29 de janeiro de 2012
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SABADOIDO SOB CHUVA
PARTE II
Depois que o Daniel liberou para mim o computador, procurei o último vídeo do Dieckmann, mas me deparei com um em que aparecia a Jane Fonda. Claro que não foi o Dieckmann que a filmou, e o remetente também não era ele e sim, o Evandro Verde. Tratava-se, vi logo, de uma palestra de 11 minutos da atriz. Sabedor que ela estuporara muitos joelhos com a ginástica “step” que divulgou, em anos pretéritos, eu não estava com muito ânimo, porém, influenciado pelo sobrenome do remetente, que considerava o filmezinho imperdível, fiquei esperançoso e teclei para vê-lo.
Jane Fonda bela, apesar dos seus 72 invernos, falava dos 34 anos de acréscimo de vida que ganhamos sobre os nossos avós. Claro que era uma média, senão o Brasil teria de suportar o José Sarney até os 124 anos de idade, pois parece que a avó dele se foi aos 90.
Sem a cultura de Cícero, no seu “Da Velhice”, mas convincente, Jane Fonda mostrou com argumentos sólidos que essa sobrevida não representa decadência. Citou a 2ª Lei da Termodinâmica, que trata do declínio depois de alcançado o ponto máximo – a entropia – e rebateu com a filosofia da escada: nós podemos viver como quem sobe degraus.
Ela, apesar de não estar tão viçosa como no tempo em que filmou Barbarella e nem tão saltitante quanto na época do “step”, é uma prova viva que melhora com a idade.
Dieckmann, por sua vez, no seu filme, mostrou mais interesse no passado e exibiu um Citroën que me lembrou o assassinato na Ladeira do Sacopã. O carro recebeu umas demãos de tinta e o Roberto Dieckmann resolveu subir numa grua para filmá-lo de diversos ângulos. Houve momentos em que eu julguei ver um telefone gigante. Não havia atores, atrizes, pratos de comida...
-Será que o Dieckmann não conseguiu financiamento da Petrobras?!... - pensei com os meus botões.
Eu espiava, agora, as mensagens eletrônicas do Elio Fischberg, enquanto as vozes do Luca e do meu irmão chegavam até mim. Quando o Claudio saiu para ajudar a Gina, que vinha das compras, no transporte das sacolas, o Daniel fez sala ao Luca, melhor, fez garagem, pois lá se encontravam eles.
Lula ironizava as horas que eu dedicava ao computador, naquele Sabadoido, enquanto o Daniel se reportava à maneira decidida da Kiara de acabar com a minha navegação internética. Naquele momento, no entanto, eu procurava saber o que aconteceu no meu trabalho na semana em que estive fora. O segundo prazo de um Processo Administrativo Contencioso se esgotava porque todos resolveram fruir férias ao mesmo tempo e se dizia no e-mail que não é legal mais uma prorrogação.
-Por hoje, chega!
Desliguei o computador e rumei para a sessão do Sabadoido.
Como se falava de Música Popular Brasileira, eu trouxe à baila a crítica que o Luca fez ao Caetano Veloso, quando voltávamos do Adegão, na quarta-feira, porque citou, na sua crônica, um desentendimento entre a Elis Regina e a Nara Leão.
-Luca, depois fiz umas pesquisas e soube que a Ellis Regina, como pessoa, era intragável.
Luca, para ser mais enfático, saltou da cadeira e elevou a voz em algumas oitavas.
-A Maria Betânia destratou aos berros uma pessoa menos qualificada num show. As divas são assim.
Retomei a palavra:
-Era uma constante no mundo artístico a Ellis Regina destratar a Nara Leão. Diziam que ela tinha uma paciência de Jó por suportar tanta agressão. Ela até patrulhava a Nara Leão, dizendo que ela cantava bossa nova, samba de morro e até iê-iê-iê. Ora, a Ellis Regina gravou musiquinha do Pelé.
-Carlinhos, duas porcarias. - aparteou o Cláudio.
-Na concentração do Santos, o Coutinho conta que escondiam o violão do Pelé porque ninguém o suportava arranhando aquilo. - lembrei.
-O Tom Jobim também não gostava da Ellis Regina.
-Certamente, chamaram a atenção dela, pois ela mudou uma letra para dizer “Quando não sou eu, é Nara Leão”.
-É verdade, Carlinhos. - disse o Luca.
-E outra coisa: a Nara Leão era queridíssima no mundo artístico, mesmo com a sua voz pequena.
-Era. - concordou o Luca.
-Eu me recordo do Carlos Imperial, quando a Ellis Regina e o Ronaldo Bôscoli casaram: “O diabo juntou os dois.”
E fiz, em seguida, uma ressalva:
-Não se discute aqui a belíssima voz da Ellis Regina.
Luca pegou um recorte de jornal, com uma reportagem sobre a Nara Leão e leu alguns dos fatos mais marcantes da sua vida.
-Pena que ela morreu tão jovem. - lamentei.
-A filha cuida da memória dela. - disse o Claudio.
-A Nana Caymmi sofreu horrores com a Maysa e Ellis Regina, quando cantou “Saveiros” no Festival Internacional da Canção. - trouxe eu outra vítima do serpentário artístico.
-A Nana Caymmi deixava os irmãos constrangidos falando para os outros que o pai dela ficou em cima da mãe...
Às palavras do Luca, berrei:
-”Ô, pernão.”
-Isso a Nana Caymmi gritou de dentro do carro, quando viu o Chico Buarque fazendo caminhada.
-Carlinhos, o que você disser sobre o Chico Buarque, o Luca conhece. - observou o Cláudio.
-Existem artistas de que eu gosto, mas eles lá e eu cá. O Carlinhos falou no meu carro, na quarta-feira, como era difícil conviver com Mozart.
-Mozart nasceu, praticamente, pronto. Com 5 anos, pegou o violino e tocou. O pai tratou de explorar o filho e, assim, ele se apresentou para os Habsburgo, reis e papas. Muito cedo, também, já compunha. Mozart viveu 35 anos com uma infância mal resolvida. Como era maçom e estava em dificuldades financeiras, um admirador da maçonaria viajou com ele custeando as despesas. Mozart se mostrou tão agitado (não era para menos, pois a inspiração lhe chegava aos borbotões, escreveu 22 mil páginas de música) e tão desagradável, o Mecenas não suportou e se desentendeu com ele.
-Fulano (não me recordo o nome) disse que Tom Jobim foi melhor do que Mozart. - aparteou-me o meu irmão com um sorriso provocador.
A piada era tão ruim, que nem deu para rir.
Carlos Alberto Torres escreveu:
ResponderExcluirJane Fonda...essa tem sorte...em qualquer outro pais seria fuzilada ou pegaria alguns anos de cana. Foi para Hanói posar para fotos na baterias antiaéreas norte vietnamitas. Depois casou-se com o dono da CNN e o espírito de corpo da imprensa livrou a cara dela.
Até hoje é persona não grata em vários locais nos EUA. As associações de ex combatentes a odeiam (com razão....), por mais que fosse contra a guerra, essa passa dos limites .