Total de visualizações de página

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

2986 - da gelada Sibéria 2


 

---------------------------------------------------

O BISCOITO MOLHADO

Edição 5236                                  Data:  21 de novembro  de 2015

----------------------------------------------------

 

128ª VISITA À MINHA CASA

2ª PARTE

 

-Como a sua educação se deu, praticamente, nas ruas, você, Irving Berlin, foi um músico autodidata?

- Eu tenho uma ideia, um título, uma frase ou uma melodia, que vai se formando na minha cabeça. Quando a canção se completa, eu a memorizo e a canto para o arranjador que as escreve no pentagrama.

-Mas você tocava piano.

-Eu só tocava as teclas pretas do piano. Eu havia comprado um piano de segunda mão em 1909. Quando pude, financeiramente, adquiri um piano especial, com uma tonalidade abaixo no teclado, que me possibilitou transpor minhas músicas mecanicamente.

-Esse piano, Irving, está num museu da Bélgica.

-Devo muito a ele.

-Muitos especialistas dizem que foi bom você seguir o seu dom natural para a música, pois a teoria musical, caso a estudasse, poderia dar cãibras no seu estilo.

-Quando o meu amigo George Gershwin pediu a Ravel que lhe ensinasse música, ele lhe disse: “É preferível você ser um ótimo Gershwin a ser um mau Ravel”. Isso foi quando Gershwin resolveu se concentrar apenas na música clássica.

-Sim, Irving, mas música popular, ele, podemos dizer, aprendeu com você. Disse Gershwin que a sua música tem vitalidade, tanto rítmica quanto melódica, que nunca perde a sua frescura exuberante. Que o seu fluxo melódico colorido é uma maravilha.

-Nossas famílias fugiram das perseguições aos judeus na Rússia para a América. Gershwin era um ótimo pianista, não foi o meu caso.

-Sim, porém, ele deixou registrado que aprendeu muitas coisas com você, que o seu ragtime, o seu jazz, a sua música, enfim, era o único idioma musical que expressava adequadamente a América.

-“Alexander’s Ragtime Band”, o meu primeiro grande sucesso, composto em 1911, não era, na verdade, um rag, como o do Scott Joplin, de dez anos atrás, mas uma marcha. Mas gostaram tanto dela que o ragtime ressurgiu com toda força.

-Voltando a Gershwin, ele declarou que “Alexander’s Ragtime Band” era o primeiro trabalho musical realmente americano, que você mostrou o caminho a todos os compositores, que, agora, era mais fácil atingir “o nosso ideal”.

-Foi um sucesso não só nacional como internacional – admitiu apesar da sua modéstia.

-Os russos também adoraram essa música, também, por ironia, a família imperial. Contam que, num baile, em Londres, o príncipe Felix Yusupov, descendente de Frederico da Prússia, herdeiro de um latifúndio maior que o do czar, se esbaldou com a sua música. Uma tal de Lady Diana Manners, devia ser a namorada dele, comentou irritada que o príncipe se contorcia  no salão como um verme demente gritando por “mais ragtime e champanhe”.

-Essa Lady não foi a única a antipatizar com a minha música.

-Sim, Irving. Um médico alemão, Ludwig Gruener, afirmou que “Alexander’s Ragtime Band” era uma ameaça pública, que o ragtime produzia a histeria que é uma forma de loucura.

-Exagerou, não?

-Cinquenta anos depois, mais ou menos, falariam a mesma coisa do “rock”. - observei,

A minha ambição era chegar ao coração dos americanos comuns, não confio muito nos intelectuais. Meu público são as pessoas reais, que lutam no dia a dia pela vida. - enfatizou.

-Os seus primeiros triunfos se deram com músicas sincopadas, dançantes, mas você logo partiu para as canções românticas.

-O ritmo do ragtime não era apropriado para expressar o romantismo, comecei, então, a ajustar o meu estilo para canções de amor.

-Citam, então, “I Love A Piano”, de 1915.

-Essa canção refletia um amor erótico, com ritmo de ragtime e comicidade. Compus a minha primeira música triste quando perdi minha esposa.

-Como foi isso?

-Em 1912, quando eu estava com 24 anos de idade, casei-me com Dorothy Goetz, irmã do meu colega de profissão, E.Ray Goetz. Nosso casamento durou escassos seis meses; na lua de mel, em Havana, ela contraiu a febre tifoide. Tentei sublimar a minha tristeza compondo “When I Lost You”, “Quando Eu perdi Você”; foi a minha primeira balada.

-Vendeu mais de um milhão de cópias. – lembrei.

-O êxito foi, em parte um consolo, mas se passaram muitos anos até eu pensar em outra esposa.

-Nessa sua transição do ragtime para as canções de amor, você compôs baladas.

-Eram baladas líricas, como “Uma Menina Bonita É Como Uma Melodia”. Essa foi para os espetáculos de Ziegfeld Follies.

-Em 1º de abril, o presidente Woodrow Wilson declarou a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial. - lembrei.

-Tínhamos de ser, agora, mais americanos do que nunca. Eu tinha de retribuir à pátria que me acolheu quando a minha família foi escorraçada.

-Em 1917, você, com 29 anos de idade, foi convocado para o exército e isso, evidentemente, já sendo um nome nacional, foi manchete.

-Compus canções patrióticas, de incentivo ao soldado americano, e contribuí, financeiramente, para o esforço de guerra. Era o mínimo que eu poderia fazer.

-Às portas da Segunda Grande Guerra, em 1938, você compôs “God Bless America”, na versão para o português, “Deus Salve a América”.

-Eu pedia a Deus para abençoar a América.

-Tornou-se o segundo hino dos Estados Unidos.

-Eu compus “God Bless America” para comemorar o vigésimo aniversário do armistício da Primeira Guerra Mundial.

-O belicismo entre os países é tal que se tornou uma canção patriótica atualíssima em 1938. Mesmo agora, em 11 de setembro de 2001, quando atentados terroristas derrubaram as torres gêmeas do World Trade Center, com mais de três mil mortos, os senadores e congressistas americanos, nas escadarias do Capitólio, cantaram “God Bless America”.

-Eu concebi essa canção patriótica como expressão da minha eterna gratidão pelo país me acolheu com a minha família e onde eu tive a oportunidade de fazer a minha vida. Eu não pus, na letra, a terra que nós amamos, e sim a terra que “eu” amo.

-Essa canção, no momento, 1938, foi interpretada também como a vitória do país depois de nove anos da Grande Depressão. Com a Guerra contra os nazistas, tornou-se o segundo hino dos Estados Unidos.

-Eu cresci, em Lower East Side, ouvindo a minha mãe dizendo repetidamente “God Bless America”, que, graças a América nós sobrevivemos. Essa expressão ficou na minha mente durante anos e anos, até que um dia, eu a transformei numa canção patriótica.

-O presidente Eisenhower o condecorou com a Medalha de Ouro do Congresso por ela.

E acrescentei:

-Por ela e muitos outros serviços seus prestados à nação americana.

-Não fiz mais do que a minha obrigação.

-Mas “God Bless America” foi um dos inúmeros sucessos estrondosos seus como compositor. - acentuei.

 

 

 

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário