2977 - pipoca, pizza, progesterona e prefeitura

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5227                              Data:  08 de novembro  de 2015

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SABADOIDO (continuação)

 

-Afinal, você encontrou ou não o livro do Fernando Henrique Cardoso?

-Lá, na Saraiva da Sete de Setembro, não, - respondi ao Claudio.

-Não havia outra livraria por perto, Carlão?

-Havia, Daniel, mas o prefeito Eduardo Paes  alongou o caminho. Explico: antes, bastava-me passar para o lado da calçada, andar uns poucos metros, que estaria na Livraria da Travessa, bem mais abastecida de livros do que a Saraiva, mas, com essa obra do VLT, eu tenho de voltar até a Avenida Rio Branco e fazer o contorno. Como eu disse, antes, eu estava com pressa, por isso desisti de fazer a compra, fica para outro dia.

-O Eduardo Paes quer eleger o bonitão dele, o Pedro Paulo. – disse a Gina.

-O candidato que enfiou a mão na mulher? – perguntei.

-Você soube, Carlinhos, que, na Argentina, houve uma passeata de homens vestidos com trajes femininos para protestar contra a violência às mulheres?

-Eles queriam, mesmo, era fazer a avant première do desfile do Dia do Orgulho Gay. - tomou-me à frente a Gina.

-Os argentinos, todos, deveriam protestar era contra a violência branca cometida pela Cristina Kirchner. - bradei.

-Violência tem cor, Carlão?

-Daniel, violência branca é como se chama a violência em que não há olhos inchados, derramamentos de sangue, mas é também terrível, muitas vezes mais do que a violência propriamente dita.

-Wilhelm Reich, se não me engano, foi quem mais estudou a violência branca. A Gina, como psicóloga, pode falar sobre isso melhor do que eu.

-Com esse promotor, Alberto Nisman, a Cristina Kirchner não usou a violência branca, foi vermelha mesmo; mandou matar. – interveio, indignado, meu irmão.

-Quando serão as eleições na Argentina?- indagou a Gina.

-Dia 22 deste mês. – respondeu o Claudio.

-O candidato da oposição está na frente das pesquisas e a organização criminosa liderada pela Cristina Kirchner já está fazendo o diabo para ganhar a eleição, Nesta semana, eu ouvi o Ariel Palacios, correspondente da Globo News, em Buenos Aires e o que ele contou das eleições de lá é cópia do que fizeram aqui contra a Marina Silva, principalmente, e o Aécio Neves. Se o João Santana não estiver lá, os seus pupilos estão. – manifestei-me.

-Ninguém quer largar o osso. - atalhou a Gina.

-Porque há muita carne nesse osso. – acrescentou o Daniel.

-Agora, depois do que aconteceu ao Brasil, só os argentinos com pouca massa cinzenta, limito-me aos honestos, votarão no candidato oficial.

Gina estranhou a minha veemência:

-Mas isso é lá com eles.

-Não é  não, Gina – contra-ataquei – porque existe uma espécie de contágio político na América do Sul; o populismo, a ditadura militar e, agora, um populismo com conotações bolivarianas em maior e menor grau. Com o Maurício Macri, eleito, esse populismo esquizofrênico, que enriquece uns poucos, banqueiros e empreiteiros, começa a ser varrido do continente.

-Esse Macri é de direita?

-Não, Claudio, ele é de centro-direita. Certa vez, o Aureliano Chaves, vice-presidente do governo Figueiredo, quando lhe perguntaram se ele era de centro-direita, respondeu que, matematicamente, essa posição não existe: ou se está na direita ou no centro.

-Ele não era engenheiro?

-Era, Claudio e respondeu como tal. Em política essas posições são possíveis. Se ele visse o Brasil, agora, com os governistas de esquerda-direita, esses astronômicos lucros para uns poucos...

Minha cunhada mudou de assunto:

-E aquele programa “Bem-Estar” de que você tanto gosta? – perguntou-me com um sorriso sardônico, pois ele um dos alvos da sua crítica demolidora.

-Eles deram uma dica boa para fazer pipoca?

-Mas, Carlão, você não diz que deixou de ir ao cinema por causa dos celulares e do cheiro da pipoca.

-Essa pipoca não leva manteiga, óleo ou qualquer outra gordura.

-Que diabo de receita é essa?- interessou-se a Gina.

-Três colheres de milho para pipoca num saco de pão; dobra-se em cima, nunca no meio, pois o milho vai se expandir, depois coloca-se no micro-ondas por dois minutos. Feito isso, coloca-se sal a gosto na pipoca, e ela está pronta para ser consumida.

-O gosto é de isopor. - imaginou a Gina.

-O médico que estava no programa afirmou que a pipoca é riquíssima em polifenóis, mais do que as frutas, porque eles são diluídos na água. Ele disse também que traz saciedade e é isso mesmo.

-Você comeu isopor, Carlão.

-Comi, Daniel e constatei que traz saciedade mesmo. O meu irmão fez uma pizza...

-O Claudio só faz churrasco, Carlão. – ignorou meu outro irmão para fazer mais uma piada.

-O Lopo fez uma pizza e, quando isso acontece, eu não resisto, como de cinco a seis fatias. Estranhei que, nesse dia, eu me senti satisfeito com duas fatias apenas, lembrei-me, mais tarde, que horas antes eu comera as pipocas receitadas pelo Bem Estar.

-Pizza de quê, Carlão?

-Sardinha.

-Eu é que não troco uma pizza por um isopor. - garantiu a Gina.

-No Bem-Estar, dia desses, o assunto foi reposição de hormônios, com dois médicos especialistas, tanto para mulheres quanto para homens. – prossegui.

-Imagino. – reagiu a Gina com descrédito.

-Eles começaram citando quatro hormônios: estrogênio, o hormônio feminino;  testosterona, o hormônio masculino; progesterona e DHEA.  O estrogênio se vai, na menopausa e a mulher deixa de ovular.

-Toda mulher sabe disso.

-Os outros hormônios se vão paulatinamente com o passar dos anos. Eles citaram a queda da testosterona no organismo masculino e o consequente aumento da irritabilidade. Isso explica os velhos rabugentos, turrões, mal-humorados...

-Velho, você precisa fazer uma reposição de testosterona. – voltou-se o Daniel para o Claudio.

-Até que eu ando bem calmo. - disse sem convencer.

-E você, Carlão?

-Quando os meus colegas de trabalho começam a discutir futebol... E as minhas colegas falando como gralhas, sendo que algumas não gargalham, cacarejam. Eu ganho, quando vou a estaleiros, protetores de ouvidos, uso no trabalho, mas não adianta.

-Você está ficando velho, Carlinhos. - diagnosticou a Gina.

-E precisando tomar algumas garras de hormônio. – completou meu sobrinho,

-Não, Daniel, os especialistas disseram que a quantidade de hormônios no nosso organismo, mesmo na idade boa, é pequena.

-Há muitas mulheres que pensam que a reposição de hormônio predispõe ao câncer. - lembrou a Gina.

-Eles negariam isso com o argumento que, caso fosse assim, seria alta a incidência de câncer quando ela estava na sua exuberância, ou seja, com o organismo secretando 100% de estrogênio e outros hormônios. Eu confesso, Gina, que não me convenci plenamente, pois o hormônio da reposição não é, acredito, igualzinho ao que o nosso corpo produz.

-Vamos mudar de assunto. - reclamou o Claudio,

 E mudamos de assunto.