Total de visualizações de página

terça-feira, 27 de outubro de 2015

2966 - Fiat Lux


 

 

----------------------------------------------

O BISCOITO MOLHADO

Edição 5216                           Data:  24  de outubro  de 2015

---------------------------------------------

 

125ª VISITA À MINHA CASA

 

-Vou acender a luz. - disse a Thomas Edison logo que ele surgiu à minha frente.

-Se quiser acender a vela, não haverá problemas para mim.

-Uma brincadeira?... - indaguei sorrindo.

-Não, não é. Eu, quando fiz a primeira demonstração pública da lâmpada, disse que nós iríamos fazer a eletricidade tão barata que somente os ricos iriam acender velas. Eu me referia aos abonados que faziam uso de castiçais nos jantares suntuosos para manter a tradição aristocrática.

-Mas a minha casa é muito modesta para que se faça uso de castiçais.

-Evidentemente que esses ricos tinham luz elétrica nas suas casas e incontáveis números de lâmpadas.

-Falando nelas, as lâmpadas incandescentes, depois de mais de cem anos, não serão mais fabricadas.

-E o que vai substituir as minhas lâmpadas de filamento de carbono? - não conteve a indignação. (*)

-A lâmpada fluorescente.

-Nicolai Tesla de novo! - deu um murro na mesa tal a sua irritação.

-Eu li que ele inventou a lâmpada fluorescente, que entrou em alguns mercados na década de 30. A grande vantagem dela é possuir mais energia eletromagnética em forma de luz do que calor.

-E a sua grande desvantagem é que quando elas se quebram emitem vapores tóxicos de mercúrio que impregnam todo o ambiente e é necessário que todos fiquem longe, no mínimo, por 30 minutos para que não haja sérias consequências no organismo.- contra-atacou.

-Basta tomar cuidado, como no caso da corrente alternada.

-Depois do invento da lâmpada elétrica, eu pretendia iluminar o mundo com a corrente contínua, bem menos perigosa, mas o Westinghouse, um empreendedor milionário, comprou a ideia do Nicolai Tesla sobre a corrente alternada e frustrou meus planos.

-Mas você ganhou muito dinheiro com a G.E. Você registrou a patente da lâmpada em 1880 e aumentou a vida útil dela para 600 horas; antes, havia desenvolvido um dínamo que fornecia energia elétrica para um bairro inteiro.

-Quando o megainvestitor John Pierpoint Morgan meteu dinheiro nas nossas ideias, claro, para ter um retorno financeiro pra lá de compensador, a empresa se tornou uma multinacional.

-Nesse momento, fundiram-se a Edison General Electric Company e a Thomson-Houston Company e surgiu a General Electric Company?

-Sim – disse ele – e a marca GE, monograma e logotipo foi registrada em 1900.

-Enquanto isso, você pensava em outras invenções.

-Sim, eu pensava.

-Você e a sua equipe, não foi assim? Você liderava uma formidável equipe de inventores e pesquisadores, os melhores que havia, entre eles, Nicolai Tesla, considerado um gênio, que o deixou e foi municiar o seu grande rival George Westinghouse, Jr.

-Essa guerra das correntes, alternada versus contínua, foi muito desgastante.

-Tão desgastante que um elefante foi eletrocutado e a cadeira elétrica foi inventada.

Não me honrou com um comentário sobre isso.

-Penso, devo estar errado, que você se assemelha, profissionalmente, com o Walt Disney.

-Quem é Walt Disney?... Não conheci.

-Walt Disney, como desenhista, criou o Mickey Mouse, talvez o personagem de desenho animado mais famoso do mundo. Mas Walt Disney era, acima de tudo, um empreendedor. Com a equipe que estava por trás dele, outros personagens tão emblemáticos foram criados; vieram gibis, televisão, cinema, até superparques temáticos que atraem turistas de todo o mundo.

-Ah, estou lembrando... ele já fazia sucesso na década de 20. Quando eu morri, em 1931, não havia superparque algum. Certo, eu sou um empreendedor como ele, mas sou, primeiramente, inventor.

-Criar novos objetos mexia com a sua imaginação desde a infância?

-Sim; nasci em Ohio, cidade de Milan, em 1947; eu era o caçula de sete filhos. Na escola, fiquei três meses porque a professora me considerava meio retardado.

-Na verdade, você tinha problema de audição.

-Possessa, a minha mãe me retirou da escola e passou a me dar aulas.

-Quando vocês foram para Michigan?

-Quando eu estava com 12 anos de idade. Lá, vendi doces, jornais e verduras nos trens. Claro que não me limitei a isso; nas horas vagas, eu ia para o vagão de bagagens e fazia umas experiências químicas.

-E quando você publicou e comercializou o “Grand Trunk Herald”?

-Mais ou menos nesse período. As minhas vocações para o empreendedorismo e para a invenção surgiram quase ao mesmo tempo.

-Os seus biógrafos assinalam que a virada na sua vida se deu quando você salvou um menino de ser atingido por um trem desgovernado.

-Eu tinha 15 anos de idade. Agradecido, o pai do garoto, que trabalhava na estação do trem, me ensinou a operar telégrafo. Era a primeira vez que eu lidava com componentes elétricos. Fiquei fascinado e, por um tempo, fui operador de telégrafos da Western Union.

-E depois?

-Dediquei-me a pôr em prática o que estava na minha imaginação.

-Dedicou-se aos inventos?

-Qual o primeiro deles?

-Patenteei um gravador elétrico de votos para facilitar as votações no Congresso. Não obtive o triunfo que eu desejava.

-E quando colheu o seu primeiro triunfo?

-Foi em 1874, eu estava com 27 anos de idade; inventei um novo modelo de telégrafo e vendi os direitos autorais para a Western Union por 10 mil dólares.

-Uma bolada de dinheiro na época. Calculo que, atualizados, seriam uns 250 mil dólares.

-Com essa dinheirama investi; fundei um laboratório especializado em pesquisa industrial e inovações tecnológicas em Menlo Park no estado de Nova Jersey.

-Você seria conhecido como “o mago de Menlo Park”.

-Os inventores não deveriam trabalhar sozinhos, os obstáculos são muito mais difíceis para serem vencidos, assim, eu recrutei os melhores para trabalharem comigo.

Inventou o “ghost inventor”. – não verbalizei o que pensara.

-Como foi a invenção do fonógrafo, o primeiro aparelho capacitado a registrar a voz humana, que o tornou conhecido nacional e internacionalmente?

-Nós trabalhávamos no aperfeiçoamento de outros inventos, como o telefone do Graham Bell ou do Antonio Meucci... sei lá, não me interessa! Então, descobri uma maneira de registrar a minha voz.

-Aqui, no Brasil, tínhamos um imperador, Dom Pedro II, sempre antenado com as inovações tecnológicas, por isso, foram os membros da família imperial os primeiros a terem as vozes gravadas. Comercialmente, o tcheco Frederico Figner introduziu o fonógrafo e compositores como Chiquinha Gonzaga deixaram de vender partituras de porta em porta.

-Não deitei nos louros e parti para a invenção da lâmpada elétrica.

-O acendedor do lampião a gás inspirou poemas, aparece em óperas célebres... Sairiam de cena.

-Começamos a trabalhar no fim do século XIX para que a Era do Carvão desse lugar à eletricidade.

-Os Irmãos Lumière não estavam na sua equipe, viviam na França e ficaram conhecidos como os inventores do cinema em 1895.

-Antes, em 1891, eu havia inventado o cinetoscópio, que era uma máquina que tinha dentro um filme com fotografias em série.

-Sei, Edison; olhava-se por um buraco, enquanto se girava uma manivela e as imagens entravam em movimento.

-Já no ano seguinte, fundei a Edison Studios. Foram produzidos mais de mil filmes até 1918.

-Enquanto você viveu, quantas patentes foram registradas no seu nome.

-Mais de mil.

-Mil e noventa e três, diz aqui no Google.

-Se eu estivesse vivo, todos esses criadores do mundo dos computadores, teriam trabalhado para mim. – disse, enquanto partia.

 

(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO repudia essa ideia do redator de que Thomas Edison pudesse estar mal informado.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário