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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

2958 - acordos e traições


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5208                                Data:  11  de outubro  de 2015

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SABADOIDO

2ª Parte

 

-O Globo chegou cedo?- perguntei a meu irmão, que se acomodara na sua cadeira de descascar laranja, para chupá-la.

-Chegou às 5 horas da manhã.

-Naquele dia em que a mamãe foi levada ao hospital, eu só atinei, no meio da confusão, às 11 horas da manhã, que o Globo não havia sido entregue.

-Depois, eles nos enchem o saco para renovar a assinatura. - grasnou.

-É... eles tem essa pachorra. Liguei para a central de atendimentos, e eles enviaram, meia hora depois, o jornal dentro do prazo de 90 minutos que me prometeram.

-Já acabou de reler “Crime e Castigo”?

-Claudio, trata-se de um livro que deve ser lido vagarosamente. Cheguei à pagina 250, quase a metade do volume.

-A Roberta me deu o livro. Eu tenho de reler também.

-Creio que autor algum se aprofundou tanto na alma humana como Dostoievski.

-Dizem que Freud e Nietzsche não só leram, como foram influenciados pelo “Crime e Castigo”.

-Note a coincidência: antes de cometer o assassinato, Raskolnikov tem um pesadelo: um garoto desesperado com o sofrimento de uma pangaré baia que foi flagelada até a morte por populares ensandecidos; Nietzsche, por outro lado, quando se afundou na loucura, também se agarrou a um cavalo, em Turim, na Itália, que estava sendo cruelmente espancado por um camponês. Raskolnikov mergulhou  na loucura, mas veio à tona, Nietzsche, não. – tagarelei.

-A Clarice Lispector revelou que teve febre quando leu, pela primeira vez, “Crime e Castigo”.

-Não era para menos, Claudio, Dostoievski escrevia com muita intensidade.

-Você tem lido os intelectuais petistas que se queixam do ódio da direita?

-Claudio, quem deu o pontapé inicial, quem fez o discurso do nós contra eles, foi o Lula.

-O Lula, Carlinhos, não deu a mínima para o Papa, quando aqui esteve e pregou a união em todos os sentidos. Mas o Lula só ouve, ou melhor, só bebe, a cachaça São Francisco.

-O filho do Érico, por exemplo, se queixa do ódio nas confrontações políticas atuais, Logo ele que comparou os manifestantes, nas ruas de quase todo o Brasil, contra a corrupção, com cachorros vadios que correm, latindo, atrás dos carros. – lembrei.

-O Aldir Blanc também se queixou do ódio da direita, mas escreve salivando ódio.

-Este, Claudio, perdeu a qualidade de vida com o avanço do tempo e tem colocado a sua bílis no papel quando escreve sobre política. Ele compôs a letra do “Resposta ao Tempo”, mas quem ficou com a última palavra foi o tempo. Ele está envelhecendo mal.

-Muita gente se esquece de que ele atacou a Dilma, na campanha eleitoral de 2014, porque ela substituiu a Ana Buarque de Holanda pela Marta Suplicy no Ministério da Cultura.

-De onde se deduz que ele pode ter perdido alguma vantagem com essa mudança. O que não quer dizer que eu ache a Marta Suplicy à altura do ministério ou de qualquer outro cargo importante.

-O problema, Claudio, é essa dependência do dinheiro público no Brasil. Muitos intelectuais ficam, então, de rabo preso, cerceados na hora de colocar os seus neurônios para funcionar, pois é impossível que alguém, com o mínimo de inteligência, não veja os descalabros cometidos pelo Lula e pela Dilma Rousseff. Nem com o saque da Petrobras, eles veem o óbvio ululante como dizia o Nélson Rodrigues.

-Ferreira Gullar, Fernando Gabeira, Hélio Bicudo, para citar apenas três, viram o óbvio ululante.

-E o Chico Buarque? – indagou com um sorriso maroto.

-Claudio, é o que eu falava antes... o pai dele, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, que nada teve a ver com marinha mercante, construção naval, é nome de um dos maiores petroleiros do Brasil. A Maria Amélia Buarque de Holanda, que não foi ligada à medicina, é nome de hospital...

  -Alto lá, Carlinhos! O Chico Buarque revelou que é torcedor do Fluminense porque foi influenciado pela mãe mesmo quando eles moravam em São Paulo.  Memélia merecia ser nome de hospital. - brincou.

-A irmã dele se tornou Ministra da Cultura. Tudo isso depois de o Chico Buarque negociar o seu apoio à candidatura da Dilma em 2010.

-Sei; foi na festa dos 100 anos da Dona Memélia, quando o Lula compareceu com o seu poste. E este apoio, de que você falou, se deu com um discurso do Chico em louvor à Dilma no Teatro Casa Grande onde a classe artística se reuniu.

-Concluindo, Claudio, fica difícil para ele, agora, ir contra o PT com todas as barbaridades cometidas.

-Vão dizer que ele está cuspindo no prato em que comeu.

-Certa vez, o pai da Rosa Grieco, quando o governador da Guanabara, Negrão de Lima, quis dar o seu nome ao viaduto do Méier...

-O Viaduto Castro Alves?...

-Sim. O Agripino Grieco não aceitou, disse ao governador que ninguém passaria por cima dele enquanto vivesse. Ele não se alimentava de vaidades frívolas.

-Depois, ele já estava bem morto, deram o nome do Agripino Grico a uma praça no Méier.- assinalou;

-Nada como você ser livre para falar o que quiser. - declarei.

-E o Eduardo Cunha, quando vai cair? Ele disse, aos mais chegados, que a Dilma cai antes dele.

-Escreveram no Facebook, que a mulher do Eduardo Cunha aprendeu a jogar tênis nos Estados Unidos, mas só sacava na Suíça.

-Boa piada. - riu.

-Apesar de todas as suas ardilezas, muitos deputados o apoiam.

-São trapaças de todos os lados. – revoltou-se.

-Quando a Inglaterra se aliou à União Soviética, depois de ter sido bombardeada incessantemente pelos aviões da Luftwaffe, movidos com combustível russo, Churchill declarou que se aliaria até ao demônio, caso Hitler invadisse o inferno (*). No caso, o inimigo maior é o PT.

-Carlinhos, eu acho que você exagerou na comparação.

-Exagerei?!... Vamos mudar, então. Quando o Franklin Delano Roosevelt foi eleito, ele criou a SEC, um órgão para moralizar as compras e vendas de ações em Wall Street e colocou para presidi-la o patriarca dos Kennedy, Joseph Kennedy, conhecido como um dos maiores trampolineiros da Bolsa de Valores. Criticado, Roosevelt se defendeu: “É fogo contra fogo”. Ele quis dizer que só quem conhece as manobras ilícitas pode combatê-las.

-Você quer dizer que o Eduardo Cunha enfrentando o PT é fogo contra fogo? Ainda não é uma boa comparação, porque o Eduardo Cunha não vai combater as manobras ilícitas.

-Tem razão, Claudio.

-O jeito é esperarmos o que vai sair dessa briga de cachorros grandes e ladrões.

(*) Churchill fez a aliança com Stalin, mas jamais confiou nele, e vice-versa. Sempre com um pé atrás, ele discutia com Roosevelt – com quem se entendia à perfeição – o tamanho da ajuda direta americana, que não podia deixar de privilegiar o front ocidental. E ele conseguiu manter o conta-gotas e Stalin sabia disso. Sorte dos alemães, que ficaram divididos e não completamente soviéticos, graças a isso.

Isto vale em termos de guerra, quando a instituição é o país e vida ou morte têm o exato significado que as palavras contêm. No caso brasileiro, tem que se fazer as instituições funcionarem, independentemente de cronogramas de quem sai primeiro, ou de como ficará o país depois. Esse negócio de ruim com ele, pior sem ela, funciona para núcleos familiares e orçamentos de mesada. Câmaras, Procuradorias e Ministérios têm que funcionar por si, como instituições, esteja quem estiver dependendo, ou comandando. Parece estranho, mas é assim em boa parte do mundo. Por coincidência, na parte boa do mundo.

 

 

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