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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

2951 - Blockbuster


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5201                                       Data:  02 de outubro  de 2015

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CARTAS DOS LEITORES

 

-O redator escreveu sobre a visita que a rainha Maria I, a Louca, fez a casa dele, mas dedicou apenas dois parágrafos, se tanto, ao tempo em que ela esteve no Brasil. Identificou as outras que derem origem à expressão popular “Maria vai com as outras”, Gleisi, Jandira, Ideli, Maria do Rosário, mas esqueceu a Erenice. Eu gostaria de saber como as perturbações mentais da Maria I, a Louca, foram tratadas no Brasil. Nada disso foi dito. Aqui vai esta crítica construtiva. Oduvaldo

 BM: Com críticas construtivas como essa, o Biscoito Molhado chegará, um dia, a New York Times, diria Maria I.

A falta de tempo nos impediu de relatar a estada da rainha no Brasil, como desejávamos, porém, algumas pesquisas foram feitas pela nossa equipe sobre o final da sua vida, no Brasil, que escaparam dos historiadores, e descobrimos algumas coisas. Por exemplo: no desembarque da Corte Real, no Rio de Janeiro, a rainha teceu os maiores elogios ao vice-rei e capitão geral do Brasil, Dom Marcos de Noronha e Brito dizendo que ele era um “vice-rei das galáxias e não é da via láctea, é de uma galáxia especial.”

  Dom João, que trouxera muitos cruzados do Tesouro de Portugal para cá, procurou bons médicos para a rainha. Estes aconselharam que a paciente se libertasse, por momentos, da velha e pesada cultura lusitana e arejasse a mente com vistas às manifestações festivas dos índios; acreditavam eles que essa ligação dela com o novo, com a natureza em sua exuberância, só lhe faria bem. Então, numa dessas festas indígenas, Maria I, a Louca, saudou a mandioca, e afirmou que não só ela, como todas as índias, eram mulheres sapiens.

Quando a missão francesa, com grandes artistas, entre eles Debret, aportou no Rio de Janeiro, em 26 de março de 1816, ainda presenciou um deslumbrante foguetório com os populares gritando vivas pelas ruas. Maria I, a Louca, fazia seis dias, não era mais reverenciada, não porque renunciara ou sofrera impeachment, simplesmente porque falecera. O príncipe-regente Dom João se tornava rei.

Na monarquia era assim: morreu o rei?... viva o rei! (o sucessor, evidentemente). 

 

-O Globo, anos atrás, creio que no início do ano 2000, apresentou uma lista dos cem maiores brasileiros vivos. O redator do BM soube dessa lista? Pretende, também, apresentar a sua lista? Waldir

BM: Sim, passamos a vista por essa pretensiosa intenção do Globo de nomear os melhores, não vimos o nome do Millor Fernandes que, na época, estava bem vivo e passamos a ler assuntos sérios.

Millor disse uma frase que, infelizmente, não perde a sua atualidade ululante, no Brasil: “Desconfio de quem lucra com a sua ideologia.” Quando os “idealistas” brasileiros – políticos, artistas, escritores, cineastas, intelectuais em geral – deixarão de lucrar?... Afinal, nós, como contribuintes, pagamos essa conta.

 

-“Quantos leitores têm o Biscoito Molhado?”-  Doalcei.

BM: Não sei; só garanto que o Dieckmann, distribuidor do Biscoito Molhado, está mais atento do que eu a esse ponto. Dois anos atrás, imaginando que aumentaria exponencialmente o nosso número de leitores, lançou o Biscoito Molhado no Facebook. Foi um fracasso. Cachorros, bichanos, crianças fazendo gracinhas, exibições da própria privacidade fazem sucesso na rede social, às vezes, estrondoso; textos, não, a não ser que se limitem a cinco linhas no máximo.  Dieckmann percebeu isso e desistiu.

No entanto, dois anos atrás, redigimos uma edição formada por perguntas em que cobrávamos, de algumas celebridades, suas atitudes em situações específicas. No seu aguardado asterisco, Dieckmann se colocou na pele dessas personalidades e respondeu, com talento, é inegável, a todos os questionamentos. Não se conteve e postou tudo no Facebook. Mesmo contando com inúmeros amigos, poucos curtiram; se tive postado a fotografia de um Gordini dos anos 60 obteria (obteríamos, afinal as perguntas eram minhas) mais repercussão. (*)

Esteve (não sei se ainda está), no Brasil, o escritor francês Christian Pringent, epígono do escritor, sociólogo, semiólogo, filósofo Roland Barthes (1915-1980). Ao ser inquirido sobre o pequeno número de leitores no Brasil, disse que isso é alarmismo, não só no Brasil, como na França e nos demais países. Assinalou que imaginam que. nas outras épocas, lia-se muito, mas a verdade não é bem essa. Citou, então, Rimbaud, que teve 20 leitores, Baudelaire, 100. Palavras textuais suas: “No século XIX, de Balzac e Zola, o número era infinitamente menor, pois as pessoas não sabiam ler.”

Lembramos que Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira custearam do próprio bolso as edições das suas primeiras obras, que mal chegavam a 200. O Brasil, naquele tempo, tinha mais de 80% de analfabetos.

Voltando ao escritor francês Christian Pringent e ao século XIX, chamamos a atenção que muitos livros saíam, nos jornais, sob a forma de capítulos seriados. A leitura de um capítulo por dia não cansava o leitor no século XIX, no XX, também, foi o caso de “Giselle, a espiã nua que abalou Paris” (não discutimos aqui a qualidade dos escritos), cujos 53 capítulos saíram 1 por 1 nas edições do jornal Diário da Noite do Assis Chateaubriand. (**)

O serviço de rede social fundado por Mark Zuckerberg, Eduardo Saverin e outros, lançado em 2004, veio mostrar o que já se desconfiava: Cachorros, bichanos, crianças fazendo gracinhas, atraem a atenção de mais pessoas do que os livros.

 

-Falta ao Biscoito Molhado um consultor de atividades físicas para esclarecer dúvidas dos leitores e zelar pela boa saúde deles. Eu, por exemplo, tenho uma dúvida: subir e descer escadas é bom para o condicionamento cardiovascular? José Carlos

BM: Com a atual crise econômica, estamos impossibilitados de contratar um articulista dessa matéria, mas recorremos ao nosso distribuidor que, atualmente, se obriga a dar pelo menos 10 mil passos por dia, consultando o seu celular, com pedômetro, como um crente consulta a sua Bíblia. Disse-nos ele que, ao subir os degraus de uma escadaria, os músculos posteriores das pernas, dos quadris e os glúteos são fortalecidos, além de ser benéfico para o sistema cardiovascular; porém, o mesmo proveito não ocorre na descida, pelo contrário, porque as articulações dos joelhos são exigidas demais.

Isso me faz lembrar as palavras do meu pai num dia em que desceu um trecho da Rua Honório: “Quem disse que para baixo todos os santos ajudam? Eles nos empurram, metem o pé na nossa bunda e, se bobearmos, nos jogam no chão.”

É só, por hoje.

 

(*) A Distribuição do seu O BISCOITO MOLHADO informa que já atingimos a marca de 24 mil acessos. É normal haver 20 acessos diários, o que equipara o redator a Rimbaud, mas a contagem diária de leitores, às vezes dá saltos de 200 ou mais acessos, o que deve significar que os leitores diários devem ser mais de 20. Pode-se afirmar, com absolutas segurança e isenção, que O BISCOITO MOLHADO é o maior sucesso literário do século 19.

 


(**) Gisele, a espiã nua foi uma aventura criada por David Nasser, de modo que o sucesso atingido pode ter relação com o talento.
Um fato curioso sobre a relação de Nasser com Chateaubriand sobre a série, foi que o jornalista, contrariado por um salário adicional que lhe havia sido prometido se a história fosse um sucesso não ter sido ainda pago, avisou ao chefe que ia matar Giselle num pelotão de fuzilamento e que já tinha escrito o final. Chateaubriand ficou apavorado com o possível fim da série que estava fazendo do Diário o mais vendido jornal vespertino carioca no segundo semestre de 1948,[3] e rapidamente deu a Nasser o dinheiro que desejava. O jornalista, porém, disposto a acabar logo com a história, disse a Chateaubriand que não via mais jeito de continuar, pois o último capítulo escrito por ele, que estava na edição do dia do jornal, terminava com a espiã na frente do pelotão de fuzilamento e o grito final do oficial nazista comandante do pelotão de "Fogo!". O capítulo seguinte seria apenas a finalização da história. Chateaubriand lhe deu então um ultimato: "Se Giselle aparecer morta amanhã, o senhor acorda desempregado depois de amanhã. O senhor trate de avisar a este oficial nazista que acaba de chegar uma ordem de Goering desde Berlim mandando suspender o fuzilamento!" [2] :427
E assim Giselle acabou vivendo mais algumas semanas, durou 59 capítulos e em 1952 ganhou uma segunda edição em livro.


 

    

  

 

 

 

 

 

 

 

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