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sexta-feira, 29 de maio de 2015

2863 - Em Obras


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5113                                 Data:  24 de maio de 2015

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SABADOIDO DA FESTIVAIA AO SENADO FEDERAL

 

Eu e Claudio fazíamos algumas observações sobre os festivais da canção dos últimos anos da década de 60.

-Muitos valores surgiram desses festivais.

-Sim, Claudio, mas, apesar disso, naqueles festivais, houve momentos de estupidez de uma infinitude de que Einstein falou. Uma dessas incontáveis burrices: vaiaram o Henry Mancini.

-Porque o Henry Mancini era americano e os Estados Unidos estavam em guerra com o Vietnã. - contemporizou.

-O que o “Passo do Elefantinho” e a “Pantera Cor de Rosa” têm a ver com a guerra?

Em seguida, protestei com mais seriedade.

-Astor Piazzolla foi vaiado quando se apresentou, como atração, no Maracanãzinho. Um compositor que é reverenciado até pelos músicos da Orquestra Sinfônica de Berlim, principalmente pelo naipe de violoncelistas, deve ser aplaudido de pé.

-Vaiaram “Sabiá”. - lembrou meu irmão.

-O maestro Isaac Karabitchevsky, que participou do corpo de jurados, declarou, num desses documentários, que “Sabiá” possui uma inventiva melódica, uma riqueza harmônica e outras qualidades que a colocavam muito acima das outras canções que concorriam com ela nacional e internacionalmente.

-Musicalmente falando, não há nem comparação.

Enquanto o Claudio se distraía com uma tangerina que apanhou na geladeira, passei para outro assunto.

-Eu ficaria menos surpreso lendo nos jornais a notícia que o Barcelona perdeu de 8 a 0 do Rayo Vallejano do que a que li na coluna do Ancelmo Gois: o filme “Chatô, o Rei do Brasil” irá para as telas de cinema.

-Só você se surpreendeu?!... Creio que o Brasil todo.

-O Spike Lee, no meio da filmagem do “Malcolm X”, ficou sem recursos; ele, então, procurou Magic Johnson, Mike Jordan, Kareem Abdul-Jabbar e outros negros milionários que enfiaram a mão no bolso e lhe deram o dinheiro necessário.

-Aqui, no Brasil, isso é impossível acontecer.

-Será que o José Dirceu, que é muito amigo do Fernando Morais, não pingou uns 5% do que ele ganha com assessoria, entre aspas, na conta dos realizadores do “Chatô, o Rei do Brasil?” - elucubrei.

-Carlinhos, no bolso do José Dirceu, o dinheiro só entra, não sai.

-Na época do lançamento do livro do Fernando Morais, alguns volumes ficavam expostos nas gôndolas de livro do Wal Mart. Enquanto a mamãe fazia as compras, eu lia.

-E, assim, leu todo o livro sem comprar. - pilheriou.

-Claudio, na época, o Fernando Henrique Cardoso se lançou candidato à presidência da República e o Rubens Ricupero assumiu o ministério da Fazenda. Como ministro, ele aconselhava a população a poupar porque, agora, declarava, a nossa moeda tinha valor.

E concluí:

-Alguém me emprestou o livro “Chatô, Rei do Brasil”, creio que o Luca, e eu terminei a leitura confortavelmente em casa.

-Ele, finalmente, me ligou felicitando pelo dia do meu aniversário. - era a Gina que aparecia na cozinha juntamente com o Daniel.

-Ligou com um mês e um dia de atraso. - assinalou o seu filho.

-No dia 23 de abril, há duas referências mnemônicas poderosíssimas: o aniversário do Pixinguinha e o Dia do Choro. - manifestei-me.

-Ele me contou que, nesse dia, não me telefonou porque esqueceu o celular na Hebraica, e, quando apareceu a filha com o dela, já passava das 11 horas da noite.

-E o telefone fixo? - indagou o Claudio.

-Ele ficou três dias sem o telefone fixo. - respondeu a Gina.

-Quando roubaram os cabos, em Del Castilho, nós ficamos mais de uma semana sem telefone, e, isso, por duas vezes. - intervim.

-O Luca me contou que tem jogado tênis de mesa pela equipe sênior do Fluminense, vestido com a camisa do clube e tudo. - retomou a Gina a palavra.

-Quando enfrentar os velhotes do Flamengo, o Luca tem de estar “endiabraaaaaaaaaado”. - procurou o Daniel imitá-lo quando ele contava as suas façanhas na época em que as sessões do Sabadoido se realizavam na vaga do antigo fusquinha da Gina.

-Vocês dois estão vestidos para sair?... - expressei a minha curiosidade.

-Vamos pegar o resultado de um exame de imagem no Nova América. - esclareceu a Gina.

-Fique tranquilo, Carlão, que não são as imagens da terça-feira de carnaval.

-Aquelas que você postou, na mesma hora, no Facebook com o comentário que o Shopping virou cinzas antes da quarta-feira? - ironizei.

Os dois saíram e eu e o Claudio voltamos a ser os únicos na cozinha.

-Eu assistia à sessão do Senado que debatia o ajuste econômico do governo...

-Assistia às Medidas Provisórias 664 e 665?... Eu vejo a TV Senado, às vezes. - cortou-me. 

-Em dado momento, reclamaram que havia ainda onze oradores inscritos, que, assim, a votação atravessaria pela madrugada. Surgiu, então, na mesa do Renan Calheiros, um requerimento de dois líderes para passar logo à votação no painel.

-E passaram?... Pelo que sei, foi adiada.

-Chiaram, e com toda razão. O regimento interno concede o tempo de dez minutos a cada orador, mas a Gleisi Hoffmann, antes desse imbróglio todo, falou por uns vinte e cinco minutos.

-A Narizinho? - chamou-a pelo apelido dado por seus pares.

-A oratória dela é articulada, mas sem consistência racional; comparou o governo de um estado com o do Brasil, enquanto defendia os trabalhadores ao mesmo tempo em que justificava as medidas que vão incidir no lombo deles.

-Deixaram que ela discursasse por vinte e cinco minutos e queriam barrar os restantes?- revoltou-se.

-Entre esses onze, Claudio, estava o Cristóvão Buarque que, em menos de dez minutos, logo depois da oratória da Narizinho, mostrou que havia vida inteligente no Senado.

-Ela nada tem de loura burra, está levando vantagem com essa situação toda; como aqueles dois milhões de reais mal explicados na conta dela.

Depois desse comentário, fez-me uma pergunta:

-Você assistiu a todos os discursos?

-Não; gravei e, no dia seguinte, vi os oradores que me interessavam, entre eles aquele do PSOL que tem cara de garoto e fala fina.

-O Randolfe Rodrigues?... Você gosta do que ele fala?

-Claro que não; mas eu tinha de ouvi-lo porque ele falou grosso, e eu não podia perder.

-Ele votou contra o governo?

-Votou, Claudio; por isso, ele engrossou a voz.

-Do jeito que está esse governo, Carlinhos, não é vantagem alguma falar grosso contra ele.

Com essas palavras, levantou-se e foi observar as obras da Prefeitura que tomam a frente da sua casa.

 

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