Total de visualizações de página

segunda-feira, 11 de maio de 2015

2849 - os miseráveis de hoje em dia


 

 

-------------------------------------------------------------

O BISCOITO MOLHADO

Edição 5099                               Data:  5 de maio de 2015

-------------------------------------------------------------

 

SABADOIDO DE BILL CLINTON AOS MISERÁVEIS

 

-Cláudio, você se lembra do “Poema em Linha Reta” do Fernando Pessoa?

-Em que ele diz que não conhece ninguém que tenha levado porrada, que todos os conhecidos  dele têm sido campeões em tudo...

-Até parece que Fernando Pessoa antevia o Facebook, mas não é sobre computador que quero falar. Eu quero dizer que estou lendo a autobiografia do Bill Clinton e ele conta as porradas que levou de o sangue escorrer pelo rosto, conta as suas derrotas.

-Ele conta como foi com a Monica Lewinsky? - interrompeu-me com a expressão marota.

-Claudio, eu estou ainda na página 60 e são mais de 900; pretendo dosar a minha expectativa; por pouco, não consegui e pulei para as páginas em que ele narra a sua visita ao Brasil.

-Quando ele foi à Mangueira e se sentiu feliz como um pinto no lixo, segundo o Jamelão. - lembrou.

-Lá, o Bill Clinton bateu aquele pênalti em que o Pelé deixou o menino que estava no gol sem nada entender porque, enquanto ele dizia para o Clinton que ia perder, pedia ao goleiro que deixasse a bola passar.

-A bola entrou.

-Sim, Claudio, o menino disse que o presidente estava com o corpo tão entortado diante da bola que, quando chutou, mesmo que tentasse não conseguiria defender.

-Ele expõe, então, tudo da vida dele?

-Até onde eu li, parece que sim. O padrasto, de quem incorporou o sobrenome Clinton, pois não conhecera o pai, bebia como um gambá e, quando se tornava violento, agredia a mãe dele, certa vez, com uma tesoura e em outra, desferiu um tiro de revólver que passou entre ele e a mãe. Ficou uns dias na cadeia por isso.

-Clinton contou isso?- abismou-se.

-É verdade que a mãe do Clinton já escrevera as suas memórias, então, se ele pulasse essa parte sombria da sua vida, receberia críticas duras, principalmente da oposição. Ainda assim, Bill Clinton foi muito corajoso em contar algumas mazelas da sua vida que ninguém conhecia.

-Será que ele escreverá todas as mazelas, pois, pelo que você disse, não leu nem 7% do livro?

-Claudio, eu compulsei as 1200 páginas das memórias do Roberto Campos, “A Lanterna na Popa”, doido para saber toda a história das facadas que ele recebeu, em São Paulo, de uma amante quando era embaixador em Londres.  A coisa foi tão séria que o Jânio Quadros saiu do hospital, quando foi visitá-lo, aos prantos, e o General Figueiredo teve de dizer à telefonista que era o presidente da República para poder falar com a vítima. Na autobiografia dele, nem uma só linha sobre o assunto.

-A amante era a Marisa Tupinambá, que usava o sexo com pessoas poderosas para enriquecer. Roberto Campos não iria confessar nada, ainda mais que os seus amigos conseguiram abafar o caso na época. A mulherzinha ameaçou colocar a boca no trombone e tiveram de dar uma dinheirama a ela que, então, sossegou. - disse meu irmão.

-Claudio, é extremamente embaraçoso para mim, pelo menos, revelar assuntos íntimos da minha vida.

-Então, você está do lado do Roberto Carlos, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e Paula Lavigne no caso das biografias não autorizadas?

-De jeito nenhum, Claudio, se eu fosse famoso e alguém escrevesse sobre a minha vida expondo o que eu não teria coragem de escrever, tudo bem, desde que não minta, que não faça ficção.

-Qualquer problema, Carlinhos, o processo judicial está aí mesmo.

-Sim, eu sou radicalmente contra o autoritarismo desses artistas que você citou. 

-Por sinal, ainda não se resolveu nada sobre as biografias não autorizadas e, com isso, livros do Ruy Castro e do João Máximo, entre outros, estão censurados. - comentou.

Voltando ao Bill Clinton, ele escreveu que, adolescente, assistia a muitos faroestes e o seu predileto era “Matar ou Morrer”.

-Ele disse por quê?

-Ele disse que o medo está na expressão do Gary Cooper durante o tempo todo, no entanto, em momento algum ele recua, enfrenta o perigo. Bill Clinton, então, transpõe a história da fita para o seu período na Presidência da República, quando, mesmo temeroso, teve de enfrentar os desafios e seguir adiante.

Com a entrada do Daniel, com a sua alegria esfuziante, esse assunto morreu.

-Carlão – disse sentando-se no sofá de alvenaria da cozinha – você viu o balanço da Petrobras? Se roubassem, apenas, o prejuízo seria de 6 bilhões, mas como realizaram projetos, o buraco foi de 44 bilhões.

-Quando o Mário Henrique Simonsen foi ministro, ele formulou uma frase ferina sobre os lobistas.

-Que frase foi essa?

-Quando alguém chegava ao Simonsen entusiasmado com um lobista, ele dizia: “Deem-lhe os 10% e esqueçam o projeto.” Nesse caso, a frase do Simonsen se mostrou bem apropriada; se tivessem dado os 10% e esquecido o projeto, o prejuízo seria só de 6 bilhões, não de 44 bilhões.

-Quem está atrás desses projetos é o Lula. - ralhou meu irmão.

-Sim.

-Você lembra que, quando terminou o segundo mandato do Lula, queriam que ele fosse presidente da Petrobras?

-Lembro-me, Claudio. Depois que a Petrobras foi privatizada, deixando de ser uma estatal para pertencer a um partido político, o Lula passou a querer refinarias em todo o lugar sem que, antes, houvesse estudos de viabilidade econômica.

-O Lula era dado a estudos, Carlão? - fingiu-se o Daniel, velhacamente, de bobo.

-A mistura de amadorismo com corrupção levou a maior empresa do Brasil à derrocada.

-Carlão, você me aconselha a comprar ações da Petrobras? - permaneceu no papel de bobo.

-Se você gosta de viver sobressaltado, eu aconselho.

Nesse instante, a Gina entrou na cozinha.

Apareceu com outro assunto:

-Você viu a violência nas manifestações dos professores no Paraná? - dirigiu-se a mim.

-Vi; os black blocs se imiscuíram para desvirtuar tudo.

-Carlinhos, policiais com cães pitbull?...

-Sim, Claudio é inconcebível; esse animal, com um maxilar de tubarão, poderia romper a artéria femural do cinegrafista e matá-lo. Mas, como eu falava, os black blocs estragam tudo.

-Foram eles que acabaram com as manifestações de 2013. Eles e os marginais, que formavam uma minoria, se enfiaram no meio da multidão pacífica, com reivindicações justas, e esculhambaram tudo, fazendo, mesmo sem querer, o jogo do governo. - disse o Claudio.

-Quando os estudantes se prepararam para levantar barricadas em luta pela República, na França, o Inspetor Javert se pôs em alerta, porque nesse momento, ele dizia que toda a escória sai dos bueiros e  vem à tona.

-Carlão, você viu “Os Miseráveis”?

-Daniel, vi umas quatro versões do filme e li o romance.

-Eu acabo de ler também o romance.

-Até que enfim, Daniel, você largou o computador por algum tempo, e leu as mil páginas de “Os Miseráveis” do Victor Hugo. - entusiasmei-me.

-Carlão, “Os Miseráveis”, que eu li tinha uma 90 páginas, era um resumo.

-E não ficou motivado a encarar as mil páginas?

-Para que, Carlão, já sei da história toda.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário