Total de visualizações de página

quarta-feira, 6 de maio de 2015

2846 - dopando o cinema nacional


 

----------------------------------------------------------

O BISCOITO MOLHADO

Edição 5096                                   Data:  29  de abril de 2015

------------------------------------------------------------------------

 

SABADOIDO FALA DO CINEMA NACIONAL

 

-”Falem mal, mas falem do cinema Nacional”. - era o lema do comentarista de cinema da Rádio Nacional, Adolfo Cruz, nos anos 50 e 60; e o Sabadoido se iniciou com a Gina falando do cinema brasileiro, mal naturalmente.

-Você gosta de algum filme brasileiro, Carlinhos?... Eu não gosto de nenhum.

-Gina, “Cidade de Deus” é um bom filme...

Não me deixou prosseguir:

-O cinema daqui tem a mania de mostrar tudo que há de pior, pobreza, assaltos, favelas, o que o cinema americano não mostra.

-Bem, Gina, eles mostram, por exemplo, a máfia, e quem glamourizou os mafiosos foram o Coppola, o Martin Scorsese, os cineastas ítalo-americanos. Aquele seriado de televisão, “Os Intocáveis”, mostrava bem o mundo do crime nos Estados Unidos.

Mas a discussão começara dias antes entre ela e meu irmão, e, agora, os dois a requentavam.

-Há bons filmes brasileiros: “Memórias do Cárcere”, “Vidas Secas”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Central no Brasil”...

A lista do Claudio também foi intempestivamente interrompida pela Gina.

-Mas não receberam prêmio algum. - rebateu ela.

-”Central do Brasil” só não ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro porque disputou com “A Vida é Bela”, que era imbatível. - contra-atacou o Claudio.

-”O Pagador de Promessas” levou a Palma de Ouro do Festival de Cannes. - intervim.

-Você gostou desse filme?- voltou-se a Gina para mim.

-Bem, muita gente do Cinema Novo não gostou, mas foi pura inveja: Anselmo Duarte era muito bonito e ainda conquistou por lá uma cobiçada francesa.

-Não era só a inveja, Carlinhos, ele não era engajado na esquerda. - manifestou-se meu irmão.

-Ah, sim. Anselmo Duarte sofria para conseguir financiamentos para fazer filmes. Com todo o lastro que possuía, preferiram financiar “Deu no New York Times”, dirigido pelo Henfil, que não era da área, a um filme dele.

-E você viu o filme do Henfil?

-Claudio, uma porcaria. O “Caboclo Mamador”, o paradigma do patrulhamento ideológico do Pasquim, deve ter chupado o cérebro do Henfil,  quando dirigiu esse filme.

Gina aproveitou as minhas críticas para insistir que todos os filmes brasileiros só mostram o que há de pior aqui.

-Gina, você certamente viu “A Um Passo da Eternidade”, um clássico do cinema dos Estados Unidos? - perguntei.

-Vi.

-Alguns daqueles militares americanos se odiavam tanto que precisou daquele ataque traiçoeiro dos japoneses a Pearl Harbor para eles se unirem, mas não totalmente. E, assim, com outras fitas de lá sobre a guerra. - argumentei.

Aproveitei a entrada do meu sobrinho na cozinha para passar para o futebol.

-Daniel, um absurdo essa suspensão do Jóbson por quatro anos. Não acha?

-Mas ele se recusou a se submeter a exame antidoping. - interferiu a Gina.

-Gina, Jóbson pertence a uma família pobre, estava se firmando no Botafogo depois de problemas com o craque. Se o suspendem, agora, por quatro anos, liquidam, praticamente, com a vida dele. Se fosse jogador de outro clube, eu diria a mesma coisa.

-Covardia pior fizeram com o Dodô, que recebeu dois anos sem ter antecedentes de uso de drogas.

-Eu sei, Claudio, mas o Dodô ainda teve uma estrutura que não liquidou com a vida dele, mas com o Jóbson a coisa é diferente.

-O Fluminense tem um chincheiro lá, o Michael, que pegou dezesseis meses. - voltou a Gina ao debate.

-Carlinhos, a pena mínima agora, por dopping, é quatro anos. - disse o Claudio.

-Jóbson se recusou a fazer o exame num país árabe, onde as coisas não são muito confiáveis. A FIFA é uma instituição que acolhe presidentes corruptos. O Joseph Blatter da FIFA tem interesse nos votos dos árabes para se reeleger... Essa punição não lhe parece esquisita? - encerrei com essa pergunta.

-Joseph Blatter teve status de chefe de governo quando esteve no Brasil na Copa do Mundo. - lembrou meu irmão.

-O vício da cocaína é terrível. Leu, no Ancelmo Gois, que o Paulo César Caju perdeu três imóveis, a medalha de tricampeão e uma miniatura em ouro da taça Jules Rimet devido ao vício?

-Carlinhos, eu não acredito em nada disso; exageram muito para valorizar a volta por cima. - manifestou-se a Gina.

-Não repararam que o Carlão se dirigiu a mim, e eu, até agora, não consegui falar. - queixou-se o Daniel.

-Fala, meu louro. - gozou o Claudio.

-”Fala, meu louro” é um samba em que o Sinhô caçoa da verborragia verbal do Ruy Barbosa.

-Uma réplica, porque o Ruy Barbosa via a cultura popular com desprezo. - seguiram-se as palavras do Claudio às minhas.

-Quando é que eu vou poder falar. - explodiu o Daniel com o seu jeito folgazão.

-Com a palavra o Daniel. - procurava o Claudio, agora, imitar o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.

-Essa questão de dopping é muita séria. Os cientistas são ainda piores do que os atletas, porque inventam maneiras de se burlar os detectores de substâncias suspeitas.

-Daniel, o caso do Jóbson é cocaína. - atalhou a Gina.

-Tudo bem, tudo bem. O Tiago Neves foi afastado de uma partida do Fluminense porque havia tomado um remédio para sinusite sem ter, antes, avisado ao médico.

Aproveitei o exemplo do meu sobrinho para citar outro.

-Na preparação para a Copa do Mundo de 1970, o Gérson teve uma crise de pedra nos rins de rolar pelo chão. No decorrer dos jogos, ele tomava chá de quebra-pedra que continha uma substância considerada dopping, mas o doutor Lídio Toledo sempre avisava, com antecedência, os especialistas da FIFA.

-Tomar chá de quebra-pedra?... Que coisa mais atrasada mesmo naquela época! - estranhou a Gina.

-O Gérson tremia de medo de injeção. - procurei justificar.

-Eu, também, preferiria chá. - pilheriou o Claudio.

-Lembra-se do Josimar?

-Como não vou me lembrar do lateral direito do Botafogo e da seleção brasileira. - respondi ao meu irmão.

-Ele foi preso porque estava cheirando cocaína numa festa, e o Zózimo escreveu na coluna dele: “Só o Josimar?...”

-Um colega do meu trabalho... isso faz tempo... foi à festa de aniversário do agente de artistas, Guilherme Araújo, que ele chamou de 25 mais 25...

-Deveria ser 40 mais 40, pois ele deveria ter uns 80 anos de idade.- cortou-me a Gina para expressar o seu humor ácido.

-Disse-me esse colega que a cocaína foi consumida a granel.

-Depois, essa gente sai às ruas ou se mostra na mídia atacando a violência policial, mas são eles que sustentam o tráfico de drogas. - manifestou-se o Claudio.

-Bem, como vocês não me deixam falar, eu vou lavar o carro. - deu o Daniel a sua presença na sessão de Sabadoido como encerrada. E nós também. 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário