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quinta-feira, 28 de maio de 2015

2862 - Ligações históricas, umas perigosas, outras, não


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5112                                 Data:  21 de maio de 2015

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CARTAS DOS LEITORES

 

   -Lendo uma das conversas do redator deste periódico com os taxistas que o levam para a Praça Manet, deparei-me com a citação do filme protagonizado pelo John Malkovich, “Relações Perigosas”; não seria “Ligações Perigosas”?  Terminando, gostaria de dizer “Quero ser John Malkovich”. Francis

BM – Pierre Chordelos de Laclos, general francês, se tornou bem mais famoso como autor do livro “Liaisons Dangereux” (“Relações Perigosas”), que muitos críticos consideram o melhor romance do século XVIII escrito na França.  Transformado em filme, recebeu, no Brasil, de fato, o nome “Ligações Perigosas”.

Quanto ao desejo do nosso remetente de ser John Malkovich, nós, aqui, aplaudimos, pois se trata de um dos melhores atores do cinema. Quem deve achar lastimável essa sua vontade de ser John Malkovich é o pastor Marcos Feliciano, entre muitos outros.

 

 

-Li a entrevista que o redator do Biscoito Molhado fez com Stefan Zweig, uns dez dias atrás, quando, por ele, foi visitado em casa. Não vai, nessas linhas, nenhuma falta de respeito com o ínsígne escritor austríaco, mas, ao lê-la, veio-me à mente o filme “Bagunceiro Arrumadinho”. Explico-me: Jerry Lewis, nessa comédia, era um enfermeiro que, ao ouvir os sintomas das pacientes do hospital onde trabalhava, passava a senti-los, configurando-se um caso de síndrome de empatia compulsiva.

Stefan Zweig não sofreria desse mesmo mal ao sentir, no Brasil, até mesmo no carnaval de 1942, os mesmos padecimentos dos europeus, principalmente do povo judeu, com a Segunda Guerra Mundial? Fernão

BM: Nessa época, precisamente fevereiro de 1942, Orson Welles chegou ao Brasil e os Estados Unidos já lutavam na Segunda Guerra Mundial; ele, praticamente, caiu no samba. Não digo que Stefan Zweig deveria fazer o mesmo; a cultura europeia tão entranhada nele, o seu povo sendo exterminado, entre outros dramas, impedem quaisquer comparações com o artista americano. Mas não era para ele, no Brasil carnavalesco, sofrer a tal ponto com a guerra. Que não lesse os jornais, que não ouvisse rádio. E o fato de a televisão não existir ainda no Brasil já era uma grande vantagem, pois nos deixava ainda mais distantes dos acontecimentos funestos.

Síndrome da Empatia Compulsiva?... Não; Stefan Zweig sofria mesmo de depressão.

 

No calendário do dia 12 de maio, o Homem-Calendário do Rádio Memória, o Sérgio Fortes, citou a conclusão da primeira Ferrovia Transcontinental ligando o leste ao oeste da América. Como tudo acaba em cinema, nos Estados Unidos, eu pergunto: fizeram um filme sobre esse acontecimento histórico? Cabral

BM: Sim. Em 1939, o diretor de fitas faraônicas, Cecil B. DeMille lançou um filme chamado “Union Pacific”, que não foi muito luxuoso – o dinheiro não sobrava – que retrata, no gênero faroeste, a ligação ferroviária da costa do Pacífico com a costa do Atlântico do grande país da América do Norte. O gênero é faroeste porque os bandidos adoravam assaltar trens, vide Jesse James, Frank James e mil outros assaltantes.

O filme foi estrelado por Barbara Stanwick, a atriz preferida do Jonas Vieira, e por Joe McCrea.

A obra ferroviária, a maior do mundo, iniciada em 1862 e finalizada com a fixação do Golden Spike (O Prego de Ouro) na Comunidade de Promontory, em Utah, dinamizou sobremaneira a economia americana.

Enquanto isso, no Brasil, só temos até hoje, o “Trenzinho Caipira”, do Villa Lobos, para apresentar ao mundo.

 

-No meu tempo de curso ginasial, estudei História do Brasil na primeira série, História da América, na segunda e História Geral, nas terceira e quarta séries. Destaquei-me mais na História da América e gostaria que este periódico, que insiste em repercutir a injustiça feita ao Cristóvão Colombo, esclarecesse que o navegador genovês cometeu um erro continental, o que não aconteceu com Américo Vespúcio que soube onde pisava. Obrigado. Vasco

BM: Se considerarmos América o que viria a ser os Estados Unidos, quem chegou primeiramente na sua costa leste não foi nem Cristóvão Colombo, nem Américo Vespúcio, e sim Lucas Vásquez de Avilón, que lá esteve em 1524-1527. Hernando de Soto, navegador espanhol, porém, foi o primeiro a explorar o que viria a ser o mais pujante país do mundo a partir do século XX.

Hernando de Soto, antes, participou das incursões ao Peru, na expedição de Pizarro e retornou à Espanha, enriquecido. Lá, pediu autorização ao Rei Carlos V para conquistar a Flórida e as terras adjacentes, e recebeu a permissão sob a condição que o fizesse às suas próprias custas, sem uma moeda do tesouro espanhol ou, como não é hoje no Brasil: sem juros subsidiados do BNDES.

Hernando de Soto, empreendedor valente, aceitou as condições e seguiu adiante com os seus planos. Assim, desembarcou na Baía de Tampa e explorou o sudeste do hoje chamado Estados Unidos, a Geórgia, a Carolina do Sul, a Carolina do Norte, o Tennessee, a Alabama e a Louisiana. Em seguida, 1841, transpôs o Rio Mississippi, feito que, até então, nenhum europeu realizara.

Hernando de Soto sonhou o sonho americano e ganhou muito dinheiro, mas, infelizmente, não durou muito, pois contraiu uma doença insidiosa, junto ao mencionado rio e nele seu corpo defunto foi imerso.

Quanto a Cristóvão Colombo, voltando atrás algumas décadas, na sua primeira viagem, chegou às terras que viriam a ser Bahamas, Cuba e Haiti; na segunda viagem, pisou o chão de Porto Rico e Jamaica; ainda veio mais duas vezes. Julgando-se na Índia, Cristóvão Colombo cometeu, de fato, um erro continental.

Américo Vespúcio, por sua vez, publicou em 1503, o livro “Mundo Novo” em que defendeu a ideia que as terras descobertas eram parte de um continente que estava muito longe de ser a Ásia, enfim, que aquilo nada tinha a ver com a Índia.

Em consideração à lucidez desse navegador que provou a sua tese por meio de estudos e viagens, os cartógrafos batizaram o novo continente de América.

A rigor, não houve injustiça alguma.

 

-No minidicionário-autobiográfico, não vimos referência alguma aos sapatos de Van Gogh no verbete “calçado”, em que até a engraxataria Cataldo foi citada. Bartolomeu.

BM: O par de sapatos de Van Gogh, pintados por ele em 1886, estavam tão rotos, esgarçados e puídos, que um mendigo o recusaria e também os recicladores do lixão. No entanto, a arte do pintor deu ao seu calçado - o mercado das artes plásticas também - um valor pecuniário muito superior às fábricas de sapato de cromo italiano ou alemão.

Não, nós, de fato, não pensamos em Van Gogh, quando escrevemos sobre os nossos sapatos.

É só por hoje.

  

 

 

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