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quarta-feira, 13 de maio de 2015

2851 - drogapornô


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5101                                 Data:  7 de maio de 2015

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201 ª CONVERSA COM OS TAXISTAS

 

-Você nunca fez ponto na Rua Van Gogh antes de amanhecer o dia? - perguntei ao taxista mal entrei no seu carro em Maria da Graça.

-Não, eu começo a trabalhar mais tarde; mas soube que alguns colegas foram vítimas de assalto e passaram para a Rua Itamaracá, entre o posto de gasolina e a padaria que é mais movimentado.

-Se eles estivessem ainda no antigo ponto iam ver cinema, como se dizia antigamente, às 5h 30min da manhã, só que cinema pornô.

-O que houve. - despertei-lhe a curiosidade.

-Entrei na Rua Van Gogh, saindo da Vlaminck e desci uns 30 metros mais ou menos quando divisei ao longe um sujeito de calças arriadas e uma mulher ajoelhada diante dele...

Como esse taxista sempre se mostrou muito educado, quando me conduziu até em casa, pensei em usar o termo latino fellattio, pensando no personagem de John Malkovich, no filme “Relações Perigosas”, que, ao seduzir uma jovem, lhe diz que era hora de ela aprender uma palavra latina “cunnilingus”, mas ele se antecipou:

-Ela estava chupando o cacete dele?

-Essas cracudas – disseram-me os seus colegas – fazem qualquer coisa por 5 reais para obter dinheiro para a droga.

-O sujeito deveria estar drogado, pois nem procurou um lugar mais escondido. - deduziu.

-Apesar de muito cedo, há, pelo menos, umas quatro pessoas que fazem esse caminho rumo ao trabalho, como eu, nessa hora, porém, nessa segunda-feira, só passava eu por lá.

-E o que você fez?

-Passei para a outra calçada e segui em frente como se nada estivesse acontecendo.

-A Rua Luiza Vale está tomada de cracudos e eu soube que eles também fazem sexo mesmo à luz do dia. - disse-me.

-Sim; mas eles se deitam naqueles inúmeros colchões espalhados pela calçada em que há até cobertores. Creio que as cenas de sexo que eles praticam é uma espécie de Big Brother Brasil dos pobres. - comentei.

-O que a droga não faz... - lamentou.

-Quando eu era adolescente, via muitas relações sexuais, na rua, de cachorros, mas, agora, vejo de seres humanos. - pensei em voz alta.

-Talvez por isso, as mulheres fáceis são chamadas, agora, de cachorras. - falou, enquanto me deixava na porta do meu prédio.

Se a memória me impediu de identificar o taxista do dia anterior, agora, ela estava bem aguçada, pois o 151 da Metrô Táxi, até me levou, numa eleição passada, à rua onde eu voto, e ainda me esperou para trazer-me de volta, pois a fila dos eleitores era diminuta.

-Você viu o depoimento do Paulo Roberto Costa na CPI da corrupção da Petrobras? - indagou-me quando eu ainda me entendia com o cinto de segurança.

-O diretor de abastecimento da empresa?... Assisti a alguns trechos.

-Ele abasteceu foi o bolso dele e de muitos outros corruptos da política e das empreiteiras. - indignou-se.

-Eu fico abismado, quando o vejo com sua serenidade, elegância no vestir e em falar, na barba bem aparada sem um fio de cabelo fora do lugar...

-Sim; com a dinheirama que embolsou, anda nos trinques. Mas isso não quer dizer nada, pois o Lula anda desleixado e roubou muito mais do que ele. - comparou.

-Eu não concebo que um diretor da Petrobras, que ganha um polpudo salário, ainda querer mais, mesmo que tenha de percorrer caminhos escusos.

-É a ganância, a maldita ganância. - bradou.

-Dos trechos a que assisti, gostei do deputado, que foi da Polícia Federal, que, enojado com toda aquela pose do depoente, lhe perguntou se ele se mostraria tão arrependido, tão bom samaritano, caso toda essa roubalheira não viesse à luz do dia.

-Claro que não; continuaria roubando com a mesma cara de pau. - esbravejou.

-A corrupção está, infelizmente, entranhada na cultura brasileira; então, existe aquele ditado popular: “Vergonha é roubar e não poder carregar”. No caso do Paulo Roberto Costa e de outros corruptos, eles estão envergonhados porque não puderam carregar, não porque roubaram. - comentei.

-É isso aí. - disse ele seguindo adiante com outros comentários sobre a CPI da corrupção.

O 017 é irascível, já escrevi diversas vezes neste periódico, mas, nessa dia, ele se superou.

-Você trabalha na cidade?

-Sim, na Rua Rodrigo Silva, que fica entre a Sete de Setembro...

-Conheço; eu conheço toda a cidade. - cortou-me.

E prosseguiu:

-Agora, os pivetes estão roubando ainda mais.

-O Jornal Nacional mostrou alguns desses assaltos... um senhor sendo atacado por um bando deles, no ponto de ônibus e sendo esfaqueado. É o cúmulo! Em pleno Centro da cidade na hora de maior movimento. - manifestei-me.

-Eu não sei se você trabalhava na cidade quando houve aquele caso da Candelária.

-Foi no início da década de 90, eu trabalha na Avenida Rio Branco. - respondi-lhe.

-Eu trabalhava no Jockey, na Nilo Peçanha. Cansei de ver esses moleques empurrando as pessoas, geralmente velhos e depois que eles caíam tiravam as suas carteiras do bolso; sem falar nos cordões que arrancavam, e das bolsas das senhoras que levavam.

E concluiu salivando ódio:

-A polícia fez uma faxina na Candelária, só não foi melhor porque um deles escapou e, quando cresceu, sequestrou um ônibus e matou uma moça.

-Terrível. - lastimei.

-Agora, os assaltos aos cidadãos voltaram como naquele tempo.

-Sim; uma reportagem do RJTV de sábado, na Globo, mostrou camelôs receptadores de celulares roubados; vendem por 400 reais celulares de 2000 reais que chamam de seminovos.

-É tudo uma quadrilha e eu não duvido que tenha policial envolvido. - esbravejou.

-A partir dessas reportagens da TV Globo, a cidade ficou bem policiada; pelo menos, num trecho de 500 metros da Rio Branco, que percorri, hoje, vi seis viaturas da polícia.

-E adianta? - demonstrou seu ceticismo.

-Bem, essas filmagens de assaltos vão para as televisões estrangeiras, e como as Olimpíadas do Rio de Janeiro estão próximas, o policiamento tem de ser o mais rigoroso possível para não afastar os turistas. - comentei.

-Eles pensam que olimpíadas é Copa do Mundo, não é não.

-Claro que não – concordei – a Copa do Mundo se espalhou pelo Brasil, mas as olimpíadas vão se concentrar toda, praticamente, aqui na cidade do Rio de Janeiro.

-E Copa do Mundo é só um esporte, enquanto as olimpíadas são dezenas.

-Sim.

 -Já imaginou as olimpíadas com esses pivetes roubando pela cidade?

E concluiu, enquanto eu saía do seu táxi na Rua Modigliani.

-A polícia tem de fazer o que foi feito na Candelária.

 

 

 

 

 

 

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