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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3879 Data: 19 de novembro de 2011
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AS TURMAS SE ENCONTRAM
Sim, é verdade, caro leitor do Biscoito Molhado, o aniversário do Dieckmann conseguiu transformar o sabadoido na segundona maluca ou segundadoida, como queiram. Tudo começou na manhã do dia 14 de novembro, quando, refestelado na poltrona da minha casa, telefonei para o aniversariante.
-Dieckmann, a Dilma sabotou o seu tradicional almoço comemorativo no Japonês perto do Paço Imperial.- disse, pensando no ato da presidente que procrastinou o feriado do dia do funcionário público.
-Pois é, Biscoito, fui sabotado pela Dilma.
Senti as suas palavras revestidas de tristeza, que se tornaram crescente quando acrescentou:
-Já estou aqui no Caju.
Reagi com surpresa, pois não imaginava que a Petrobras o enviaria tão cedo para perto do lugar onde Dom João VI, dentro de um barril, tomou banho pela primeira vez na vida.
-Está no Terminal da Briclog?
-Não, estamos reformando um estaleiro por aqui.- informou.
Enfatizei os meus votos de muitas felicidades buscando ser o mais convincente possível. Dieckmann agradeceu, sem a euforia de quem falava nos aniversários passados: “não se esqueça, lá no Japonês às 12 horas e 15 minutos”.
Como eu não trabalhava nesse dia, acionei, pelo telefone, a turma do sabadoido.
-Cláudio, o Dieckmann, de tão melancólico, só falta recitar que a Petrobras da Avenida Graça Aranha tem palmeiras onde canta o sabiá, que as aves que gorjeiam no Caju mais parecem a Maria Gadu.
-A Petrobras é a maior poluidora do país .- aparteou meu irmão com o seu ímpeto polemista.
Luca e Daniel compreenderam que, apesar de não o conhecer pessoalmente, alguma coisa deveria ser feita para animá-lo nessa segunda-feira.
-E tem mais, Luca, a casa do Dieckmann é frequentada, às segundas-feiras, pela Turma do Bondinho, e sabe, com esse descarrilamento que houve
-Morreu alguém da Turma do Bondinho?... - assustou-se o Luca.
-Morreu o motorneiro, mas não era o Dieckmann, que estava no dia de folga.- esclareci.
Resumindo: às oito horas da noite, o Luca, seguindo as minhas instruções titubeantes, subiu, com seu caro, mais uma rua do bairro dos artistas.
-É aqui, defronte àquela casa.- apontei.
-Rua Triunfo.- disse o Daniel com a voz enfática.
-Dieckmann disse que um vencedor, como ele, tem de morar numa rua com esse nome. (*)
E acrescentei:
-Ele faz questão que todos os que visitam sua casa, pela primeira vez, deitem na sua cama para ver o seu despertador: o relógio da Central do Brasil.
-Então, ele está sempre atrasado.- alfinetou a Gina.
-Eu não me deito em cama de homem.- bradou meu irmão.
-Quando andarem pelo lado da piscina do Dieckmann, cuidado para não tropeçarem nas teteias que representam sapos tomando banho de sol. (**)
-Mais alguma advertência, Carlinhos?- perguntou a Gina.
-Sim, há um abacateiro por lá com frutas de quase 1 quilo, a maioria cai na piscina, mas cuidado, ainda assim, com o cocuruto.
Depois de estacionar o carro, no meio de muitos outros veículos. Luca saltou do mesmo e observou:
-Casa iluminada... Esses carros por aqui, parece que muita gente veio para esse aniversário.
E veio mesmo. Na porta, acolhendo os convidados, estava o aniversariante (***):
-Dieckmann, trouxe o sabadoido para agradecer, neste dia, à pessoa que fez nosso grupo conhecido até na Europa.
-Sim, eu envio o BM, com a turma do sabadoido, até para Portugal.- dizendo isso, apertou todas as mãos estendidas.
-Você é a Rosa Grieco.- tentou adivinhar a identidade da Gina.
-Não, ela é minha mãe.- antecipou-se o Daniel.
-Sei que você gosta muito de imitar as pessoas, esteja à vontade para me imitar. - deu o aniversariante o sinal verde.
-A Turma do Bondinho veio? - perguntei.
-Vieram a Turma do Bondinho, a Turma do Barquinho, a Turma do Trenzinho, todos estão aqui.
-Ótimo, poderei treinar o meu Yidish com o meu amigo Elio Fischberg.- animou-se o Luca.
-O Elio Fischberg, aproveitando o feriadão dos funcionários públicos, saiu da cidade.- informou o aniversariante.
-Será que o bolo dará para toda essa gente? - apesar de as palavras da Gina serem murmuradas, os ouvidos de morcego do Dieckmann as captou.
-A Branca levou 12 dias para fazer o bolo.
-A Gina está preocupada com o bolo, mas eu estou com a cerveja, Luca. A nossa sede será saciada?
-O amigo do Carlinhos deixará todos satisfeitos.- previu o Luca.
-Entrem, entrem.
E, obedecendo ao dono da casa, entramos.
-Carlão, há umas pessoas aqui que não me são estranhas. Aquele, por exemplo... - apontou o Daniel com a cabeça.
-Aquele é o Muca Schwarzenegger... ou algo parecido, um sobrenome complicado.
-Aquele também não me é desconhecido.
-É o Sérgio Fortes.
Então, eu me recordei do festejo do aniversário do Dieckmann um ano atrás.
-Daniel, no almoço do Japonês, foram tiradas algumas fotos dos que lá estavam, entre eles o Sérgio Fortes. Nas festas do fim do ano de 2010, quando você fez aquela montagem dos Menudos cantando “Não se reprima”, usou, a meu pedido, os rostos do Sérgio Fortes e do Elio...
-Também o rosto do Muca Schwarzenegger.- lembrou-se.
-Sim, mas a foto dele veio de outra ocasião.- expliquei.
-Carlão, precisamos de fotografias novas para as festas do fim do ano de 2011.
Fazendo as honras da casa, juntamente com a Branca, Dieckmann se aproximou do grupo composto pelo Cláudio, Luca e Gina. Chegou no instante
-Claudiomiro, Chico Buarque alcançou uma densidade inigualável quando disse que saudade é como limpar o quarto do filho que já morreu.
-Rapaz, as letras do Chico Buarque são extremamente depressivas, e de depressão eu quero distância.- interveio o aniversariante que, bom de garganta ( foi chamado de locutor da BBC pelo Faustão), acrescentou:
-As minhas preferências são pelo lado solar da música popular brasileira. Gosto muito do Moreira da Silva.
-Canto de frente pra trás, de trás pra frente.- declarou o Luca.
-Também gosto de Bossa Nova, que deu um basta naquelas letras pesadonas do samba-canção.
-Concordo, Dieckmann, mas não descarto o samba-canção.- disse o Luca.
-Mas eu descarto.- foi peremptório.
E se afastou o Dieckmann clamando:
-Alegria, alegria.
-Carlinhos, ele é adepto do Caetano Veloso?
-Luca, ele não está se referindo à alegria tropicalista.- esclareci.
A festa seguia animada, quando vi o aniversariante conversando com o neto animadamente.
-Vô, arrotar é bom?
-Não devemos prender...
-Então vamos soltar o arroto, vô.
-Gente, hora de cantar os parabéns.- convocou Branca a todos.
-Salvo pelo gongo.- pensei.
(*) Como se fosse possível encontrar e morar numa rua chamada Fracasso. Esse redator faz cada ilação...
(**) Mesmo depois desta visita o redator permanece obcecado por sapos inexistentes.
(***) Mais uma furada, a porta fica aberta, só apareço para mandar todo mundo embora
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