Total de visualizações de página

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

2049 - triunfo e fracasso

----------------------------------------------------------------------------------

O BISCOITO MOLHADO

Edição 3879 Data: 19 de novembro de 2011

-----------------------------------------------------------------------------------

AS TURMAS SE ENCONTRAM

Sim, é verdade, caro leitor do Biscoito Molhado, o aniversário do Dieckmann conseguiu transformar o sabadoido na segundona maluca ou segundadoida, como queiram. Tudo começou na manhã do dia 14 de novembro, quando, refestelado na poltrona da minha casa, telefonei para o aniversariante.

-Dieckmann, a Dilma sabotou o seu tradicional almoço comemorativo no Japonês perto do Paço Imperial.- disse, pensando no ato da presidente que procrastinou o feriado do dia do funcionário público.

-Pois é, Biscoito, fui sabotado pela Dilma.

Senti as suas palavras revestidas de tristeza, que se tornaram crescente quando acrescentou:

-Já estou aqui no Caju.

Reagi com surpresa, pois não imaginava que a Petrobras o enviaria tão cedo para perto do lugar onde Dom João VI, dentro de um barril, tomou banho pela primeira vez na vida.

-Está no Terminal da Briclog?

-Não, estamos reformando um estaleiro por aqui.- informou.

Enfatizei os meus votos de muitas felicidades buscando ser o mais convincente possível. Dieckmann agradeceu, sem a euforia de quem falava nos aniversários passados: “não se esqueça, lá no Japonês às 12 horas e 15 minutos”.

Como eu não trabalhava nesse dia, acionei, pelo telefone, a turma do sabadoido.

-Cláudio, o Dieckmann, de tão melancólico, só falta recitar que a Petrobras da Avenida Graça Aranha tem palmeiras onde canta o sabiá, que as aves que gorjeiam no Caju mais parecem a Maria Gadu.

-A Petrobras é a maior poluidora do país .- aparteou meu irmão com o seu ímpeto polemista.

Luca e Daniel compreenderam que, apesar de não o conhecer pessoalmente, alguma coisa deveria ser feita para animá-lo nessa segunda-feira.

-E tem mais, Luca, a casa do Dieckmann é frequentada, às segundas-feiras, pela Turma do Bondinho, e sabe, com esse descarrilamento que houve em Santa Tereza...

-Morreu alguém da Turma do Bondinho?... - assustou-se o Luca.

-Morreu o motorneiro, mas não era o Dieckmann, que estava no dia de folga.- esclareci.

Resumindo: às oito horas da noite, o Luca, seguindo as minhas instruções titubeantes, subiu, com seu caro, mais uma rua do bairro dos artistas.

-É aqui, defronte àquela casa.- apontei.

-Rua Triunfo.- disse o Daniel com a voz enfática.

-Dieckmann disse que um vencedor, como ele, tem de morar numa rua com esse nome. (*)

E acrescentei:

-Ele faz questão que todos os que visitam sua casa, pela primeira vez, deitem na sua cama para ver o seu despertador: o relógio da Central do Brasil.

-Então, ele está sempre atrasado.- alfinetou a Gina.

-Eu não me deito em cama de homem.- bradou meu irmão.

-Quando andarem pelo lado da piscina do Dieckmann, cuidado para não tropeçarem nas teteias que representam sapos tomando banho de sol. (**)

-Mais alguma advertência, Carlinhos?- perguntou a Gina.

-Sim, há um abacateiro por lá com frutas de quase 1 quilo, a maioria cai na piscina, mas cuidado, ainda assim, com o cocuruto.

Depois de estacionar o carro, no meio de muitos outros veículos. Luca saltou do mesmo e observou:

-Casa iluminada... Esses carros por aqui, parece que muita gente veio para esse aniversário.

E veio mesmo. Na porta, acolhendo os convidados, estava o aniversariante (***):

-Dieckmann, trouxe o sabadoido para agradecer, neste dia, à pessoa que fez nosso grupo conhecido até na Europa.

-Sim, eu envio o BM, com a turma do sabadoido, até para Portugal.- dizendo isso, apertou todas as mãos estendidas.

-Você é a Rosa Grieco.- tentou adivinhar a identidade da Gina.

-Não, ela é minha mãe.- antecipou-se o Daniel.

-Sei que você gosta muito de imitar as pessoas, esteja à vontade para me imitar. - deu o aniversariante o sinal verde.

-A Turma do Bondinho veio? - perguntei.

-Vieram a Turma do Bondinho, a Turma do Barquinho, a Turma do Trenzinho, todos estão aqui.

-Ótimo, poderei treinar o meu Yidish com o meu amigo Elio Fischberg.- animou-se o Luca.

-O Elio Fischberg, aproveitando o feriadão dos funcionários públicos, saiu da cidade.- informou o aniversariante.

-Será que o bolo dará para toda essa gente? - apesar de as palavras da Gina serem murmuradas, os ouvidos de morcego do Dieckmann as captou.

-A Branca levou 12 dias para fazer o bolo.

-A Gina está preocupada com o bolo, mas eu estou com a cerveja, Luca. A nossa sede será saciada?

-O amigo do Carlinhos deixará todos satisfeitos.- previu o Luca.

-Entrem, entrem.

E, obedecendo ao dono da casa, entramos.

-Carlão, há umas pessoas aqui que não me são estranhas. Aquele, por exemplo... - apontou o Daniel com a cabeça.

-Aquele é o Muca Schwarzenegger... ou algo parecido, um sobrenome complicado.

-Aquele também não me é desconhecido.

-É o Sérgio Fortes.

Então, eu me recordei do festejo do aniversário do Dieckmann um ano atrás.

-Daniel, no almoço do Japonês, foram tiradas algumas fotos dos que lá estavam, entre eles o Sérgio Fortes. Nas festas do fim do ano de 2010, quando você fez aquela montagem dos Menudos cantando “Não se reprima”, usou, a meu pedido, os rostos do Sérgio Fortes e do Elio...

-Também o rosto do Muca Schwarzenegger.- lembrou-se.

-Sim, mas a foto dele veio de outra ocasião.- expliquei.

-Carlão, precisamos de fotografias novas para as festas do fim do ano de 2011.

Fazendo as honras da casa, juntamente com a Branca, Dieckmann se aproximou do grupo composto pelo Cláudio, Luca e Gina. Chegou no instante em que Luca falava:

-Claudiomiro, Chico Buarque alcançou uma densidade inigualável quando disse que saudade é como limpar o quarto do filho que já morreu.

-Rapaz, as letras do Chico Buarque são extremamente depressivas, e de depressão eu quero distância.- interveio o aniversariante que, bom de garganta ( foi chamado de locutor da BBC pelo Faustão), acrescentou:

-As minhas preferências são pelo lado solar da música popular brasileira. Gosto muito do Moreira da Silva.

-Canto de frente pra trás, de trás pra frente.- declarou o Luca.

-Também gosto de Bossa Nova, que deu um basta naquelas letras pesadonas do samba-canção.

-Concordo, Dieckmann, mas não descarto o samba-canção.- disse o Luca.

-Mas eu descarto.- foi peremptório.

E se afastou o Dieckmann clamando:

-Alegria, alegria.

-Carlinhos, ele é adepto do Caetano Veloso?

-Luca, ele não está se referindo à alegria tropicalista.- esclareci.

A festa seguia animada, quando vi o aniversariante conversando com o neto animadamente.

-Vô, arrotar é bom?

-Não devemos prender...

-Então vamos soltar o arroto, vô.

-Gente, hora de cantar os parabéns.- convocou Branca a todos.

-Salvo pelo gongo.- pensei.

(*) Como se fosse possível encontrar e morar numa rua chamada Fracasso. Esse redator faz cada ilação...

(**) Mesmo depois desta visita o redator permanece obcecado por sapos inexistentes.

(***) Mais uma furada, a porta fica aberta, só apareço para mandar todo mundo embora

Nenhum comentário:

Postar um comentário