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quarta-feira, 29 de abril de 2015

2842 - briga chocante


 

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5092                                     Data:  25  de abril de 2015

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119ª VISITA À MINHA CASA

 

-Nikola Tesla, o homem que, para muitos, criou a modernidade.

-Aposto que, nas escolas do seu país, eu nunca sou lembrado.

-Certamente que, nas faculdades de engenharia eletrotécnica, você é tão estudado quanto Keynes nas faculdades de economia.

-Não me fale em economia que eu perdi tudo enquanto vivia.

-Deus o chamou em 7 de janeiro de 1943 para iluminar o paraíso.

-O inferno já estava bem aceso, e não precisaram de mim, mas a sua imagem foi horrível. - criticou.

-A sua presença é tão surpreendente que me deixou em estado de choque, atordoou-me, essa é a razão de eu falar bobagens.

-Não se desvalorize; o que eu vi de gente falando bobagens... e pior, colocando-as em prática. Se eles se limitassem apenas à teoria...

-Eu tenho um amigo, o Sérgio Fortes, que é trocadilhista militante e ele, se o visse, diria que você foi um homem iluminado.

-Tive meus apagões. - não perdeu a piada.

-O momento mais agitado da sua vida foi “A Guerra das Correntes” contra Thomas Edison?

-Foram tantos os momentos agitados que vivi, essa guerra foi uma delas.

-Thomas Edison inventou a lâmpada elétrica e pretendia ganhar um oceano de dinheiro iluminando o mundo, Nova York em primeiro lugar. Para isso, ele queria geradores de corrente contínua, porém, eles teriam de ser muitos. A corrente alternada, que você, Nikola Tesla, concebeu era bem mais eficiente e viável economicamente para o consumo da eletricidade.

-Eu apresentei, em 1887, um pequeno protótipo de motor de indução bifásico com rotor em curto-circuito. Era um tanto tosco, não era ainda o ideal, mas George Westinghouse me deu um milhão de dólares pela patente além de se comprometer a me pagar 1 dólar por HP que viesse a produzir no futuro.

-Você não precisava se preocupar com dinheiro mesmo que vivesse 100 anos.

-Como falei antes, perdi tudo ou quase tudo, mas eu me preocupava mesmo era com a ciência.

-Com a sua patente, foi deflagrada a terrível batalha entre George Westinghouse e Thomas Edison, este, querendo a corrente contínua e aquele, a corrente alternada.

-Eles se preocupavam mais com os ganhos financeiros, iluminando Nova York, os Estados Unidos e o mundo, do que com a ciência propriamente dita. 

-Para provar que a corrente alternada era um perigo, Thomas Edison pagou à molecada pelos cachorros que eles lhe traziam. Depois, esses cães, em exibições públicas, eram eletrocutados pela corrente alternada para mostrar o perigo para a vida humana que ela representava. Ele chegou ao ponto de eletrocutar elefantes...

-E, assim, Thomas Edison inventou a cadeira elétrica.

E prosseguiu:

-Edison estava brigando com os fatos e, mesmo que eletrocutasse todos os animais da África, perderia a guerra. - observou.

-George Westinghouse convenceu o governo dos Estados Unidos a adotar o modelo-padrão de corrente alternada como o meio mais eficaz de distribuição de energia elétrica. O investimento que ele fez na sua criação lhe deu um retorno financeiro em números siderais. Thomas Edison perdeu essa parada.

-Mas ele soube ganhar muito dinheiro com a lâmpada elétrica. A G&E não me deixa mentir. - disse-me.

-Você tinha trabalhado com ele?

 -Cinco anos antes, ou seja, 1882, fui para Paris e lá trabalhei, como engenheiro, na “Continental Edison Company, desenhando aperfeiçoamentos em equipamentos elétricos. Em 1884, eu me transferi para Nova York e me tornei assistente do renomado Thomas Alva Edison. Eu tinha de receber um poupudo bônus dele, por algumas descobertas e ele não me pagou alegando que se tratava de um chiste.

-Na chamada “Guerra das Correntes”, você se vingou.

-Pelo menos, ficou menos bilionário.

-Marconi, que não era cientista e sim empresário, enriqueceu também com a sua invenção, o rádio.

-Eu já fazia transmissões sem fios desde 1894.

Peguei uma apostila na estante de livros, enquanto Nikola Tesla observava os pombos no parapeito da janela e lhe disse com os papéis nas mãos.

-Aqui, registraram que você viajou, poucos depois dessa “guerra”, pelos Estados Unidos e pela Europa, apresentando novos ensaios científicos, detalhando aplicações nunca imaginadas sobre a aplicação da corrente alternada de alta frequência, além de outras descobertas relacionadas com ela. Mais ainda: você desenvolveu um conjunto extenso de inventos para produção e uso da eletricidade, como o motor elétrico, e registrou incontáveis patentes, como o acoplamento de dois circuitos por indução mútua, princípio adotado nos primeiros geradores industriais de ondas hertz....

-... O princípio e metodologia de criação de energia através de campo magnético rotativo, o motor assíncrono de campo giratório. - interrompeu a minha fala com esses acréscimos.

-Neste papel, lê-se que você também inventou a corrente polifásica, comutadores elétricos e ligação em estrela, novos tipos de geradores e transformadores, comunicação sem fio, a lâmpada fluorescente, o controle remoto por rádio e protótipos de transmissão de energia.

Respirei e concluí:

-Sou analfabeto na sua ciência, apenas usufruo da sua genialidade, como todo o mundo.

-Tudo bem; não gosto daqueles que usaram as minhas criações como apoio de pseudociências, com teorias sobre OVNIs e quejandos.

-Você era croata?

-Sim, nasci na aldeia de Smiljan que, em 1856, pertencia ao império austríaco.

-Você era filho de um padre presbítero da Igreja Ortodoxa e sua mãe, por sua vez, também era filha de padre.

-Minha mãe era por demais talentosa; embora analfabeta, memorizou uma miríade de poemas épicos. Creio que herdei o seu talento e a sua memória.

-O seu poder de memorização, Nikola Tesla, é lendário, afirmam que você decorava livros inteiros. E como foi você na escola?

-Estudei engenharia elétrica no Politécnico Austríaco na cidade de Graz, mas não concluí o curso. Tive dificuldades de adaptação. Quando garoto, deixaram-me fazer um curso de quatro anos em três, adulto, não. No terceiro ano, deixei de assistir às aulas e sumi, imaginaram que eu tivesse me afogado no rio. Reapareci, arrumei o meu primeiro emprego como engenheiro assistente, mas meu pai me convenceu a frequentar uma universidade na cidade de Praga. Fui, depois, para Budapeste, creio que em 1880.

-Lá você inventou o amplificador de telefone?

-Ou alto-falante.

-Tesla, falam que você era misofóbico.

-De fato, eu queria tudo limpo e higienizado. Já que vamos falar das minhas idiossincrasias, eu não suportava o número 3 e seus múltiplos. Não aguentava olhar para uma pessoa obesa, principalmente mulher.

-Mas amava os animais.

-Sim, nunca me esqueci do “Magnífico Macak”, o gato que tive quando garoto. Como eu adorava os pombos do Central Park, que eu alimentava diariamente, eles me adoravam também.

-Você teve uma doença rara na sua infância; clarões de luz o cegavam e você tinha alucinações.

-Eu visualizava, no meu cérebro, as invenções na sua forma exata antes de elas se tornarem concretas.

-Pensamento visual.

-Também, desde garoto, tinha visões de acontecimentos anteriores ao meu nascimento.

-Não se casou?

-Não daria certo eu viver intimamente com outra pessoa. Vivi meus últimos anos num quarto de hotel com o pouco dinheiro que me restou. Viam-me como um cientista maluco. Bem, hora de ir.

Antes de partir, disse espirituosamente:

-Espero que o caminho esteja iluminado.

 

 

 

 

 

 

 

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