--------------------------------------------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 5088 Data: 18 de abril de 2015
-----------------------------------------------------------------------------------------------
CARTAS DOS LEITORES
-Eu fui um dos ouvintes contumazes do
programa “Noturno” da Rádio Jornal do Brasil que, como o irmão do redator do
Biscoito Molhado, acertou a charada proposta pelo programa e ganhou uma viagem
no ônibus Espacial Challenger que explodiu. Só me restou uma dúvida: foi mesmo o Simon
Khoury que pregou essa peça na gente? Osvaldo
BM: Meu caro Osvaldo, nós, do Biscoito Molhado, escutamos alguns anos
antes, um programa com o mesmíssimo nome, na Rádio Ministério da Educação, cujo
início era à meia-noite e a música que abria e conduzia o programa era a
encantadora “Fantasia Greensleeves”, arranjada por Vaughan Williams – era uma
canção de autor desconhecido do período do reinado dos Tudor na Inglaterra,
citada até pelos Beatles na canção “All You Need Is Love”.
Quanto ao “Noturno” da carta, cujo
início se dava uma hora antes e se restringia à música popular, embora a Rádio
Jornal do Brasil reservasse a maior parte da sua programação da noite à chamada
música clássica, nós o escutamos algumas vezes na década de 70. Lembro a
entrevista com o Vinícius de Moraes e da pergunta que lhe fizeram sobre seus
casamentos, e a resposta dele que a sua atual mulher (a sexta, parece) seria a sua
viúva; não foi, vieram mais duas ou três.
Isso foi em 1975 ou 1976 e eu não tenho
a menor dúvida de que o Simon Khoury participava desse programa, apesar de a
voz ser do Eliakim Araújo. Depois de citar essa piada da Challenger umas três
vezes neste periódico, não tive a mesma certeza: teria sido mesmo o amigo de
cinquenta anos de briga do Jonas Vieira o autor da brincadeira com aqueles que
acertaram a charada proposta pelo Noturno em 1986? Para confirmar ou não o que
venho escrevendo, procurei uma das vítimas, a que estava mais próxima de mim:
meu irmão.
Ele se lembrou, naturalmente, do Simon
Khoury, mas desse programa, propriamente dito, só lhe vinha à mente o
radialista Luiz Carlos Saroldi. Como a resposta ficou incompleta, o Biscoito
Molhado acionou o seu Departamento de Pesquisas e colheu os dados que se seguem
em alguns parágrafos abaixo.
O Noturno nasceu em 1972, e o Luiz
Carlos Saroldi chegou em outubro de 1974 e o produziu até 1983 – ele mesmo não
garante o ano exato. Quanto ao Simon Khoury, foi diretor artístico da Rádio
Jornal do Brasil entre 1968 e 1977, quando criou e produziu esse programa que
muitas pessoas de meia-idade, hoje, consideram inesquecível. A apresentação
ficava a cargo do Eliakim Araújo, que possuía uma das mais apreciadas locuções
da mídia. Noturno era transmitido diariamente às 23 horas e as terças-feiras
estavam dedicadas às entrevistas conduzidas pelo hoje apresentador bissexto do
Rádio Memória da Rádio Roquette Pinto, Simon Khoury. Essas entrevistas, que foram incontáveis,
deram origem ao livro, com vários volumes, “Bastidores”, seu trabalho de
biógrafo das personalidades brasileiras, que se encontra esgotado.
Resumindo: a pergunta ao Vinícius de
Moraes sobre as suas esposas foi do Simon Khoury, mas quanto ao idealizador da
piada da viagem no Challenger, ônibus que explodiu nas nuvens, há
controvérsias. Porém, o estilo da piada é do Simon Khoury, convenhamos.
-Ouvi o Rádio Memória em que o Sérgio
Fortes anunciou “Komm Mit Mir Zum Souper”, dueto para tenor e barítono
da opereta “O Morcego”.Na ocasião, ele se referiu a uma esposa do compositor.
Como foi mesmo essa história? - Gérson dos Santos.
BM: Depois das esposas do Vinícius de Moraes, passemos
para as do Johann Strauss Jr, que foram em número bem menor, apenas três.
Johann Strauss Jr casou com a cantora
Henrietta Traftz, em 1862, contrariando a sua mãe dominadora. Eles viveram
juntos até a morte dela em 1878. O compositor, que já estava enrabichado pela
atriz Angelika Dittrich, bem mais nova do que ele, só suportou a viuvez por
seis semanas. O seu segundo casamento foi catastrófico para ele; sem estrutura
orgânica para acompanhar o ritmo da mulher, acrescido do fato de ela não ser
confiável, só viu o divórcio como saída.
O rei das valsas, a terceira
personalidade mais popular do mundo, segundo uma pesquisa de um jornal alemão –
a Data Folha da época – só perdeu para a Rainha Vitória e o Chanceler Otto von
Bismarck – Johann Strauss Jr viu o seu iluminado mundo valsante desmoronar. A
Igreja Católica não admitia o divórcio e ele se viu, então, obrigado a mudar de
religião e de nacionalidade, tornando-se cidadão de Saxe-Coburg-Gotha em
janeiro de 1887. Com isso, perdeu também uma fortuna.
Como dizia o escritor irlandês Bernard
Shaw sobre as pessoas que se casam mais de uma vez - “É a vitória da
insistência sobre a experiência” - Johann Strauss Jr insistiu se casou pela
terceira vez, ela se chamava Adele Deutsch. Dessa vez, acertou: a sua terceira
esposa o incentivou, fez com que a sua autoestima fosse recuperada e o talento
criativo do compositor fluiu mais uma vez, resultando em obras que ganharam a
Europa, primeiramente e, depois o mundo.
-No Minidicionário Autobiográfico que
continha o verbete “cooper”, não foram citadas as figuras que se tornaram
folclóricas correndo pelas ruas. Nilton Santos
BM: Cito, agora, meu caro Nílton Santos, aquela que mais se destacou para
mim: o Pinguim.
Ele enchia uma carroça, tamanho médio,
de refrigerantes, num depósito da Abolição e, correndo, o empurrava até a porta
do Colégio Pedro II, no Campo de São Cristóvão, onde encontrava seus fregueses
entrando e saindo da escola.
Década de 70: eu o via na Avenida
Suburbana; a sua vasta cabeleira grisalha subia e descia em consonância com as
suas pernas aligeiradas.
Sumiu; e fui encontrá-lo em 1988,
quando eu saía do Norte Shopping com o meu sobrinho Daniel. Parecia que o
Pinguim acabara de emergir de uma piscina de suor; as suas pernas pareciam dois
troncos de árvore. No ponto defronte ao Shopping, ele aguardava o ônibus.
Por volta de 2001, quando eu troquei o
metrô pelo ônibus Castelo-Irajá, no retorno do trabalho para casa e o avistei
por diversas vezes. Pinguim tinha um ponto de encontro com amigos na Rua São
Luiz Gonzaga. Vestia sempre uma bermuda e uma camiseta regata com a figura de
um pinguim nas costas. Sua cabeleira grisalha continuava vasta e, com toda
certeza, subindo e descendo em consonância com as suas pernas aligeiradas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário