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terça-feira, 28 de abril de 2015

2838 - O Pinguim na Challenger


 

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      O BISCOITO MOLHADO

                      Edição 5088                                       Data:  18  de abril de 2015

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CARTAS DOS LEITORES

 

-Eu fui um dos ouvintes contumazes do programa “Noturno” da Rádio Jornal do Brasil que, como o irmão do redator do Biscoito Molhado, acertou a charada proposta pelo programa e ganhou uma viagem no ônibus Espacial Challenger que explodiu.  Só me restou uma dúvida: foi mesmo o Simon Khoury que pregou essa peça na gente? Osvaldo

BM: Meu caro Osvaldo, nós, do Biscoito Molhado, escutamos alguns anos antes, um programa com o mesmíssimo nome, na Rádio Ministério da Educação, cujo início era à meia-noite e a música que abria e conduzia o programa era a encantadora “Fantasia Greensleeves”, arranjada por Vaughan Williams – era uma canção de autor desconhecido do período do reinado dos Tudor na Inglaterra, citada até pelos Beatles na canção “All You Need Is Love”.

Quanto ao “Noturno” da carta, cujo início se dava uma hora antes e se restringia à música popular, embora a Rádio Jornal do Brasil reservasse a maior parte da sua programação da noite à chamada música clássica, nós o escutamos algumas vezes na década de 70. Lembro a entrevista com o Vinícius de Moraes e da pergunta que lhe fizeram sobre seus casamentos, e a resposta dele que a sua atual mulher (a sexta, parece) seria a sua viúva; não foi, vieram mais duas ou três.

Isso foi em 1975 ou 1976 e eu não tenho a menor dúvida de que o Simon Khoury participava desse programa, apesar de a voz ser do Eliakim Araújo. Depois de citar essa piada da Challenger umas três vezes neste periódico, não tive a mesma certeza: teria sido mesmo o amigo de cinquenta anos de briga do Jonas Vieira o autor da brincadeira com aqueles que acertaram a charada proposta pelo Noturno em 1986? Para confirmar ou não o que venho escrevendo, procurei uma das vítimas, a que estava mais próxima de mim: meu irmão.

Ele se lembrou, naturalmente, do Simon Khoury, mas desse programa, propriamente dito, só lhe vinha à mente o radialista Luiz Carlos Saroldi. Como a resposta ficou incompleta, o Biscoito Molhado acionou o seu Departamento de Pesquisas e colheu os dados que se seguem em alguns parágrafos abaixo.

O Noturno nasceu em 1972, e o Luiz Carlos Saroldi chegou em outubro de 1974 e o produziu até 1983 – ele mesmo não garante o ano exato. Quanto ao Simon Khoury, foi diretor artístico da Rádio Jornal do Brasil entre 1968 e 1977, quando criou e produziu esse programa que muitas pessoas de meia-idade, hoje, consideram inesquecível. A apresentação ficava a cargo do Eliakim Araújo, que possuía uma das mais apreciadas locuções da mídia. Noturno era transmitido diariamente às 23 horas e as terças-feiras estavam dedicadas às entrevistas conduzidas pelo hoje apresentador bissexto do Rádio Memória da Rádio Roquette Pinto, Simon Khoury.  Essas entrevistas, que foram incontáveis, deram origem ao livro, com vários volumes, “Bastidores”, seu trabalho de biógrafo das personalidades brasileiras, que se encontra esgotado.

Resumindo: a pergunta ao Vinícius de Moraes sobre as suas esposas foi do Simon Khoury, mas quanto ao idealizador da piada da viagem no Challenger, ônibus que explodiu nas nuvens, há controvérsias. Porém, o estilo da piada é do Simon Khoury, convenhamos.

 

-Ouvi o Rádio Memória em que o Sérgio Fortes anunciou “Komm Mit Mir Zum Souper”, dueto para tenor e barítono da opereta “O Morcego”.Na ocasião, ele se referiu a uma esposa do compositor. Como foi mesmo essa história? - Gérson dos Santos.

BM: Depois das esposas do Vinícius de Moraes, passemos para as do Johann Strauss Jr, que foram em número bem menor, apenas três.

Johann Strauss Jr casou com a cantora Henrietta Traftz, em 1862, contrariando a sua mãe dominadora. Eles viveram juntos até a morte dela em 1878. O compositor, que já estava enrabichado pela atriz Angelika Dittrich, bem mais nova do que ele, só suportou a viuvez por seis semanas. O seu segundo casamento foi catastrófico para ele; sem estrutura orgânica para acompanhar o ritmo da mulher, acrescido do fato de ela não ser confiável, só viu o divórcio como saída.

O rei das valsas, a terceira personalidade mais popular do mundo, segundo uma pesquisa de um jornal alemão – a Data Folha da época – só perdeu para a Rainha Vitória e o Chanceler Otto von Bismarck – Johann Strauss Jr viu o seu iluminado mundo valsante desmoronar. A Igreja Católica não admitia o divórcio e ele se viu, então, obrigado a mudar de religião e de nacionalidade, tornando-se cidadão de Saxe-Coburg-Gotha em janeiro de 1887. Com isso, perdeu também uma fortuna.

Como dizia o escritor irlandês Bernard Shaw sobre as pessoas que se casam mais de uma vez - “É a vitória da insistência sobre a experiência” - Johann Strauss Jr insistiu se casou pela terceira vez, ela se chamava Adele Deutsch. Dessa vez, acertou: a sua terceira esposa o incentivou, fez com que a sua autoestima fosse recuperada e o talento criativo do compositor fluiu mais uma vez, resultando em obras que ganharam a Europa, primeiramente e, depois o mundo.

 

-No Minidicionário Autobiográfico que continha o verbete “cooper”, não foram citadas as figuras que se tornaram folclóricas correndo pelas ruas. Nilton Santos

BM: Cito, agora, meu caro Nílton Santos, aquela que mais se destacou para mim: o Pinguim.

Ele enchia uma carroça, tamanho médio, de refrigerantes, num depósito da Abolição e, correndo, o empurrava até a porta do Colégio Pedro II, no Campo de São Cristóvão, onde encontrava seus fregueses entrando e saindo da escola.

Década de 70: eu o via na Avenida Suburbana; a sua vasta cabeleira grisalha subia e descia em consonância com as suas pernas aligeiradas.

Sumiu; e fui encontrá-lo em 1988, quando eu saía do Norte Shopping com o meu sobrinho Daniel. Parecia que o Pinguim acabara de emergir de uma piscina de suor; as suas pernas pareciam dois troncos de árvore. No ponto defronte ao Shopping, ele aguardava o ônibus.

Por volta de 2001, quando eu troquei o metrô pelo ônibus Castelo-Irajá, no retorno do trabalho para casa e o avistei por diversas vezes. Pinguim tinha um ponto de encontro com amigos na Rua São Luiz Gonzaga. Vestia sempre uma bermuda e uma camiseta regata com a figura de um pinguim nas costas. Sua cabeleira grisalha continuava vasta e, com toda certeza, subindo e descendo em consonância com as suas pernas aligeiradas.

 

 

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