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quarta-feira, 22 de abril de 2015

2834 - reflexões do usuário sistemático


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5084                                   Data:  11  de abril de 2015

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199ª CONVERSA COM OS TAXISTAS

 

Depois de um algum tempo, peguei o táxi do Albino.

Já reproduzi, neste periódico, o apreço que o Albino nutre pelo Paizão, pela experiência de vida a que ele chegou, aos 80 anos e que devemos, insiste o Albino, reverenciar e aproveitar. Por ela, desentendeu-se com colegas do ponto do táxi que pretendiam passar para trás o respeitável senhor.

Mesmo daqueles que estão ainda longe dessa idade, o meu caso, Albino procura colher conhecimentos da experiência acumulada e por isso, ele, que só se locomove de carro, seja o do trabalho, seja o do lazer, quer saber tudo sobre o metrô e, sempre que me recebe no seu táxi,  na saída da estação Maria da Graça, faz-me a pergunta:

-Como está o metrô?

-Melhorou.

-Eu imagino como era o metrô antes da privatização... ou melhor, antes da concessão. -disse-me.

-O Consórcio Opportrans ganhou o direito de explorar o serviço metroviário durante 20 anos. - lembrei.

-Isso foi antes do ano 2000, não foi?- indagou.

-Sim, 1997.

-Daqui a 2 anos se encerra a concessão.- calculou rapidamente e acrescentou:

-Certamente, será renovada.

-Quando os operadores do metrô eram os funcionários do estado, nós, os passageiros, sofremos muito.

-Vocês faziam duas baldeações para ir ao Centro: Maria da Graça e Estácio, não era isso?

Sem responder a sua pergunta, exemplifiquei com um transtorno.

-Eu sou funcionário público e posso falar de cadeira; quando havia eleições com coletas de votos de papel urna a urna, meus colegas mexiam os pauzinhos para trabalhar na apuração.

-Por que eles teriam direito a alguns dias de folga no trabalho. - viu logo o motivo.

-Os funcionários do estado, no caso, do metrô, não eram diferentes. Assim, quando havia apuração de votos, várias estações eram desativadas por causa dos muitos funcionários do metrô que estavam de folga.

-Os passageiros do metrô que se danassem. - criticou.

-Certa vez, a estação de Del Castilho, onde eu saltaria, estava ativada, mas o condutor se esqueceu e passou direto, tive de esticar meu caminho até Inhaúma.

-Mas como você disse, melhorou com a concessão à Opportrans.

-Melhorou no que diz respeito à expansão do metrô que, no governo do Marcelo Alencar, chegou à Pavuna e à estação Arcoverde, em Copacabana, mas o sofrimento dos passageiros não amainou, pelo contrário.

-Sim, agora era muito mais gente demandando o metrô. - disse ele.

-Para você ter uma ideia, o trem do metrô, ao chegar a uma estação, as portas se abrem para a entrada e saída dos passageiros. O toque da sirene significa a sua partida. O que fazia sistematicamente o condutor? Mal as portas se abriam, ele acionava a sirene, então, os cidadãos que iriam embarcar se apavoravam e o mesmo acontecia com os que pretendiam desembarcar. Resultado: uma balbúrdia dos diabos nas portas.

-Mas isso é tratar os passageiros como gado humano.

-Essa comparação expressa a pura realidade. - concordei com ele.

-Esse desrespeito ao ser humano ainda existe?

-Não; acredito que a estação da Cidade Nova, um tempo depois de inaugurada, foi um divisor de águas.

-Isso foi há pouco, não foi?

-A inauguração foi em 2010.

-Mas por que você disse que foi um divisor de águas? - demonstrou curiosidade.

-No início, ninguém se entendia, passageiros e funcionários do metrô. Todos estavam erráticos.

-Mas os funcionários do metrô têm obrigação de se entender, ou então, devolvam a concessão ao estado. - afirmou o Albino.

-A minha primeira viagem sem baldeação no Estácio, com parada na Cidade Nova, aconteceu sem que soubéssemos eu, os demais passageiros e, não duvido, o próprio condutor.

-Foi assim?

-O trem do metrô estava superlotado. Logo depois que partiu de São Cristóvão parou e nada de sair do lugar. Eu me achava espremido no vagão dianteiro na agonia da espera. Um sujeito perdeu a paciência e esmurrou a lataria do trem na parte em que ficava a cabine do condutor. Nada, nenhuma reação, permanecemos parados. Quando o trem, finalmente, saiu do lugar, para a surpresa e alegria geral, não rumou para a estação do Estácio e sim para a da Cidade Nova. Nada de baldeação; o caminho para o Centro e Zona Sul ficava, para nós, mais curto.

-Tudo se acertou, então? - manifestou-se o Albino.

-Que nada! A desinformação ainda imperava. Muitos passageiros, vindos da zona sul ou do Centro, que pretendiam ir à Tijuca, se viram na estação da Cidade Nova, rumo à Pavuna e tiveram de desembarcar para pegar a composição do outro lado da plataforma e voltar para a estação da Central do Brasil.

-Que transtorno! Não havia nenhum som nos alto-falantes para orientar os passageiros?

-Não.

-Há uma agência, a Agetransp, para intervir e colocar as coisas nos eixos. Ah, sim: a mulher do ex-governador era advogada do metrô. - comentou o Albino.

-O próprio metrô se autopuniu, já que a Agetransp era um zero à esquerda e distribuiu bilhetes gratuitamente. Mas eles mereciam, mesmo, era uma multa de valor bem elevado.    

-Depois disso tudo, o metrô melhorou, como você disse antes, foi um divisor de águas?

-Melhorou, sim. Mas, por vias das dúvidas, vou e volto do trabalho fora da hora da correria. Pego o metrô, às 5h 40min da manhã e antes da 4h da tarde.

-Não pensa em pegar na hora do rush?

-Um amigo meu, o Dieckmann, certa vez, postou, através do celular, no facebook, instantâneos dele e de demais passageiros numa composição do metrô enguiçada na hora do rush. Caramba, a expressão de desalento do Dieckmann!...

-Postou no facebook, vêm logo os comentários. - disse-me.

-Ah, sim. Um deles dizia: “Saia daí logo que vão te acochar”.

-Os engraçadinhos sempre aparecem e o facebook está cheio deles. - observou com um sorriso.

-O facebook está cheio de tudo, principalmente de narcisos, gente que só falta fotografar o próprio umbigo e postar para todos verem, o que não é o caso do meu amigo. Descobri até que ele é reservado comparado com essa gente,

-Dieckmann, esse nome não me é estranho.

-Deve ser pela locução dele, não fica nada a dever aos locutores que há por aí, Ele já esteve em programas de rádio e de televisão falando de carros.

-Mas viaja de metrô?... Eu não.

-Viaja, mas não sistematicamente (*) como eu.

-Chegamos. - disse-me ele parando o seu táxi.

 

(*) Consultado, Dieckmann informou a este Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO que o redator entende muito de motorista de táxi e nada de usuários de metrô. E confirma que usa o metrô de segunda a sábado, o que o torna usuário sistemático.

É dura a vida de Distribuidor.

 

 

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