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sexta-feira, 1 de junho de 2012

2158 - atitudes inéditas e repetitivas


O BISCOITO MOLHADO
Edição 3858                                  Data: 24 de maio de 2012
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CARTAS DOS LEITORES

-”Na discussão travada entre o redator e o distribuidor do BM sobre os feitos do Botafogo e do Flamengo, o Dieckmann se recusou a escrever o glorioso nome do Botafogo. Além de esquecer os times do glorioso, escreveu que, do bairro, evita até a praia. Ele vai ficar sem resposta?” Nero
BM: Nero, há botafoguenses que confundem as coisas e agem como piromaníacos, espero que não seja seu caso. Nessa altura do campeonato, eu não vou discutir futebol. Pelo amor de Deus! A minha inteligência emocional já venceu essa etapa. Alguns aspectos merecem, porém, ser abordados. Leia, caro leitor, o trecho que se segue:
“Rubião fitava a enseada, - eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metido no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa.”
Não, não foi o Dieckmann que elaborou o trecho aspado porque ele não escreve, como soubemos, o nome Botafogo, e sim Machado de Assis, na abertura do seu romance “Quincas Borba”.
Nosso querido distribuidor evita, conforme suas palavras,  a praia do Botafogo; como rubro-negro, frequenta, certamente a praia do Flamengo. Essa praia, acredito, só não esteve poluída quando os Tamoios habitavam a Baía de Guanabara e  chamavam  essa praia de Uruçu-Mirim. Depois que os franceses comandados por Nicolau Durand de Villegaignon chegaram para fundar a França Antártica, em 1555 e se aquartelaram nela, com o posterior revide dos portugueses, começou a sujeira.
Mas o Flamengo, a praia, bem entendido, transborda de história.  Pero Lopes de Souza, partícipe da expedição de Martim Afonso de Souza, construiu a primeira casa de pedra da cidade, na foz do rio Carioca, provavelmente a primeira habitação desse gênero no novo mundo. Nessa casa, morou o primeiro juiz da cidade, Pedro Martins Namorado, nomeado em 1565 por Estácio de Sá. Uma ressaca destruiu essa moradia, a reconstrução se deu no século XVII  e foi a residência do sapateiro Sebastião Gonçales de 1606 a 1620, assim, a praia Uruçu-Mirim passou a ser denominada Praia do Sapateiro.  Vale informar que o rio Carioca desembocava ali e que essa casa de pedra existiu por duzentos anos.
Como surgiu o nome Flamengo? Ninguém melhor do que o neerlandês Dieckmann, na comunidade do Biscoito Molhado, sabe que quem nasce em Flandres é flamengo.
Isso posto, um prisioneiro holandês, que morava na praia do Sapateiro, se tornou tão conhecido que o lugar passou a ser chamado de praia do Flamengo, originando o nome do bairro. Existem outras versões, uma dela remonta às invasões holandesas, quando os naturais da Holanda, também chamados de flamengos, eram transferidos de Pernambuco para a então praia do Sapateiro; outra versão diz que eram vistos bandos de pássaros vermelhos, pernaltas, de bico forte, denominadas flamingo, de flamingo para flamengo a alteração foi de uma só letra. Bem, não acreditamos nessa versão, e o Dieckmann deve concordar comigo, pois a ave que se identifica com o Flamengo é outra.(*)

- “As brigas entre você e o Dieckmann não são semelhantes àquelas entre o Carlos Imperial e o Erasmo Carlos, que só visava o Ibope?” Otávius Augusto
BM: Lembremos-nos também da “briga” entre o Carlos Imperial e o Juca Chaves, quando este escreveu uma canção que dizia “Muitos falam, poucos ouvem, mas a verdade é uma só: existe um só Beethoven para mil Carlos Imperial.”
Como registrei uma vez, eu tecia muitos elogios a ele; por exemplo, quando Dieckmann viajou à China para encomendar um pórtico para o Estaleiro Rio Grande, comparei-o a Marco Polo (o ex-presidente Lula o compararia a Napoleão Bonaparte). Para quê?... Elio Fischberg disse que escorria mel do meu teclado, outros se queixaram do tratamento que eu dava ao popular “Troglodieck”. Vi-me, assim, obrigado a baixar o sarrafo no holandês para não perder leitores. (**)
Mas confesso que sigo o ensinamento do grande sábio da política brasileira Santiago Dantas: brigas depois dos 50 anos só as combinadas.

“Caetano Veloso escreveu na crônica dele de domingo, no Globo, que os seus maus imitadores escrevem “ou não”. Você não considera que ele erra quando encerra as suas argumentações com esse “ou não”? Marco Aurélio.
BM: De jeito nenhum; há compositores da música popular que ativam nosso cérebro com as suas ideias, mas ninguém supera o Caetano Veloso. O “ou não” dos encerramentos das ponderações do Caetano Veloso significa que ele fala em tese, que ele está abrindo as portas para quem quer apresentar a antítese.
A tese é uma afirmação ou situação inicialmente dada. A antítese é uma oposição à tese. Do confronto entre tese e antítese surge a síntese, que é uma situação nova que carrega dentro de si elementos resultantes desse embate.   Aí está, de maneira simples, o método dialético.
E o que é a dialética? Surgida com Sócrates, a dialética é um método de diálogo cuja base é a contraposição e contradição de ideias que leva a outras ideias e que tem sido um tema central na filosofia ocidental e oriental desde os tempos antigo. A tradução literal de dialética significa “caminho entre as ideias”.
São, por isso, bem vindos os textos e falas do Caetano Veloso  também  encerrados por   “ou não”.
Evitemos, por outro lado, os donos da verdade, aqueles que querem exterminar com as ideias diferentes das suas.

-”Sei cinco ou seis obras do Lawrence além da peripatética correspondência. O Livro que lhe remeto me deixou abismada com a ferocidade que demonstra em relação aos americanos e às mulheres urbe et orbe. A tuberculose causa mau humor? O Thomas de Quincey, citado logo no início, me deleitou como ensaio “On Murder Considered as on of the Fine Arts”, inté (sic) que o opiômano me tirou o sono. No 86, havia uma escada em caracol, diretamente ligada à frágil maçaneta do meu quarto, eu sozinha garantindo três casas cheias de livros pós-embarque do velho Agrippa, surdinha de montão. O Quincey descreve um assassino subindo uma escada com um machado para fazer estragos no andar de cima. Socorro! Encostei o grabato na porta e empilhei tudo que pude na supracitada maçaneta, se a forçassem viria tudo na minha cabeça.
Voltando ao tuberculino: baixou o sarrafo (aprendi há pouco essa expressão) até no pobre Benjamin Franklin, devidamente esfolado e assado no espeto. (…) “Rosa Grieco
BM: A remetente se refere aos “Ensaios sobre a Literatura Clássica Americana”, de D.H. Lawrence. O opiômano a que ela se refere, o escritor escocês Thomas de Qincey (1785-1859), viciou-se em ópio que, a princípio tomava para mitigar as frequentes dores da nevralgia. Essa experiência o levou a escrever “Confissões de um comedor de ópio” (The Confessions of an English Opium-Eater).
A cena do assassino com um machado, narrado pela Rosa, me remeteu ao filme “O Iluminado” de Stanley Kubrick.

(*) A versão mais aceita pelos historiadores é a do holandês que habitou a Praia do Sapateiro. Se o nome fosse derivado dos prisioneiros da invasão holandesa o nome da Praia seria dos Flamengos e, ainda mais, dificilmente os portugueses os deixariam numa praia tão próxima do Centro da cidade. O mesmo caso se aplicaria aos pássaros, que jamais voaram, ou pousaram, por aqui. Essa dos pássaros, só mesmo na cabeça gloriosa do Senhor Redator.

(**) O Distribuidor não esteve presente nesse episódio de teclado melado, mas apresenta duas informações: uma, é que não foi a primeira vez em que baixar o sarrafo no Dieckmann foi pedido ao Redator – explico: no tempo do Departamento de Marinha Mercante, o texto de O Biscoito Molhado estava tão chapa branca que o Dieckmann conclamou: pau na Administração, ou você perderá seus leitores!
A segunda é que a versão do Elio deva ter crédito, pois essa repetida tendência de defender os fortes e opressores parece ser uma espécie de leitmotif do Redator.


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