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quinta-feira, 21 de junho de 2012

2169 - aprender alemão

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3969                                       Data: 16 de junho de 2012
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84ª VISITA À MINHA CASA

-Um gênio me visita. - disse, embevecido, quando vi Goethe à minha frente.
-Apenas estudei muito.
-A transpiração contribui muito com a sua genialidade, porém a sua inspiração foi maior, se é que as duas podem ser medidas, Goethe.
-Goethe com “oe”.- frisou.
-Se os alemães se confundiam na pronúncia do seu sobrenome, imagine eu.
-Meu nome é Johann Wolfgang von Goethe, mas chamavam-me de Goethe.
-Você nascem em 1749, na Alemanha?
-Em Frankfurt am Main. Eu era o filho mais velho de Johann Gaspar Goethe e Catharina Elizabeth Goethe. Meu pai era jurista, mas vivia dos rendimentos da fortuna dela; minha mãe pertencia a uma família abastada, Ela estava com 18 anos de idade quando eu nasci, teve outros filhos, só eu cheguei à idade adulta.
-E como se deu o início da sua formidável cultura?
-Fui educado inicialmente pelo meu pai, depois, vieram os tutores bem remunerados.  Estudei francês, inglês, italiano, latim, grego, ciências religião, desenho e equitação.
-Você também estudou música a ponto de, anos depois, desfrutar da amizade de Beethoven, e do menino-prodígio Mendelssohn tocar para você.
-Aprendi a tocar piano e violoncelo.
-E o aprendizado de literatura?
-Começou na minha infância com as histórias que a minha mãe me contava e da leitura da Bíblia.
-Seu pai possuía uma biblioteca que impressionava.
-Estava longe de dez mil livros.
-E quando você partiu para enfrentar o mundo?
-Com 16 anos de idade, meu pai me enviou para a Faculdade de Direito de Leipzig. Lá, mostrei pouco interesse nos estudos jurídicos, e dediquei-me ao desenho, xilogravura e gravura em metal. Jovem e longe de casa, frequentei os teatros e as noites de boemia. Caí doente e tive de voltar para casa.
Parecia que a sua saúde era frágil, haja vista que nenhum dos seus irmãos vingou, mas você era possuidor de uma grande energia criativa e viveu 83 anos, clamando por luz, mais luz.
Retornei à casa dos meus pais para recuperar a saúde. Enquanto isso, interessei-me por alquimia e astrologia. Em 1769, com 20 anos, publiquei minha primeira antologia, Neue Lieder e escrevi minha primeira comédia, Die Mitschuldigen.
-E os estudos de direito?
-Não foram abandonados, retornei às aulas, mas agora em Estrasburgo, na Alsácia. Lá, conheci Johann Gottfried Herder, teólogo e conhecedor das artes e da literatura.
 -Ele enriqueceu o seu conhecimento.
-Sim, pois me conduziu às leituras de Homero, Shakespeare, Ossian, e ainda me colocou em contato com a volkspoesie.
-A volkspoesie?- estranhei.
-A poesia popular.
-Ah, sim.- entendi, reportando-me ao volkswagen, o carro do povo.
-Com 20 anos de idade, ainda não nutria paixão alguma por uma bela moça?
-Claro que sim, mantive um romance com Friederike Brion, a quem dediquei muitos versos líricos que foram enfeixados num pequeno volume chamado Sesenheimer Lieder.
-E os estudos jurídicos tão cobrados pelo seu pai?
-Em 1771, obtive a licenciatura na faculdade de direito.
-Não tinha mais motivo para ficar em Estrasburgo?
-Retornei à minha cidade natal, Frankfurt am Main para trabalhar num escritório de advocacia, mas minha atenção convergia para os poemas. Escrevi, nesse mesmo ano, a peça de teatro “Geschichte Gottfriedens von Berlichingen mit der eisernen Hand.”
-Por favor, Goethe, qual o nome dessa peça no meu idioma?
-”O Cavaleiro da Mão de Ferro”, abreviando; essa peça foi importante.
-Teve a importância de ser a primeira obra do movimento Sturm und Drang, que significa Tempestade e Ímpeto.
-Os livros escolares de literatura ensinam que o movimento surgido nas terras de língua alemã, Sturm und Drang, deflagraram o movimento romântico nas artes em todo o mundo.
-E o que diziam os livros escolares?
-Dizem que, no fim do século XVIII, surgiu na Alemanha e no Reino Unido, um movimento que será uma reação à tirania do classicismo, que foi conhecido como Romantismo. Com o romantismo, o “eu”, como entidade autônoma, é alçado além dos estereótipos e das regras universais classicistas. O  romantismo  destaca o sentimento e a aventura da imaginação, e faz do poeta um explorador de mundos diferentes e exóticos. O romântico opõe à razão os sentimentos, o sentir profundo e arrebatado.
-Os livros didáticos fizeram uma resenha razoável. Mas não falaram no amor para o romantismo.
-Falaram sim; disseram que o amor, para os românticos, tinha um papel fundamental, que o amor é como uma tormenta, torna-se logo impossível, faz sofrer. Para os românticos, o amor é impossível.
-Realmente.
-Quando o amor o fez penar, Goethe?
-Primeiramente, devo contar que, a pedido do meu pai, mudei-me para Wetzlar e fui trabalhar na sede da corte da justiça imperial. Lá, conheci Charlotte Buff, uma linda moça, que se identificava inteiramente comigo; gostava de poesia lírica e de música, cantava no coro da igreja, numa posição de destaque. Recitei versos para ela e tocamos piano juntos, no meio da criançada, ou seja, dos seus irmãos.
-E ela era noiva de Albert?
-Ela era noiva de Johann Christian Kestner, que trabalhava com as leis, juntamente comigo, com a diferença que ele nasceu para o mundo jurídico.
-Quando falei Albert, eu me referia à ópera de Massenet que foi baseada na história desse amor.
-Charlotte vivia numa família numerosa e o seu pai lutava com duras dificuldades financeiras para manter todos bem. O casamento da filha com um pretendente que traria segurança financeira era uma dádiva do céu para ele.
-E Charlotte? Creio que era impossível que ela, sendo inteligente, resistisse à sedução de um poeta, músico, desenhista...
-Ela gostava de mim, mas preferiu a estabilidade da família e a manutenção da palavra dada.
-Você se desesperou com a separação?
-Escrevi um livro epistolar, “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, e sublimei o meu desespero com o suicídio de Werther.
-O seu livro provocou mais suicídios do que a mais bela mulher do mundo, é o que dizem os estudiosos.
-Havia muitas pessoas sofrendo com um amor impossível, deveriam, como eu, escrever o seu “Werther” e superar essa fase tenebrosa das suas vidas.
-O seu livro se tornou um sucesso em toda a Europa e a vestimenta de Werther, descrita no livro, se tornou moda entre os enamorados.
-Fiquei conhecido em todo canto, mas o importante, para mim, é que o meu pai se convenceu que eu não nasci para ser jurista.
-Depois que conheci a ópera, que muitos tenores adoram interpretar, procurei saber tudo, ou quase tudo, sobre o verdadeiro Werther, aquele que não se matou.
-Parti, depois desse amor contrariado, para Weimar. - disse Goethe.


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