Total de visualizações de página

terça-feira, 21 de maio de 2013

2379 - cimentos, concretos e engenhos

-------------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4179                                     Data:  28 de  Abril de 2013
-----------------------------------------------------------------

MENSAGENS ELETRÔNICAS COMENTADAS

Fischberg me remete inúmeras fotografias dos Estados Unidos de cem anos atrás, numa delas “banhistas” numa praia de Atlantic City, datada de 1915. Banhistas aqui vão aspados porque muitos parecem que estão em plena Wall Street, num momento de folga, palestrando sobre as altas e baixas das ações.
Entendo agora outro e-mail que recebi poucos dias antes. Trata-se de uma fotografia, de 1922, que mostra mulheres sendo presas em Chicago por desafiarem a proibição do uso de trajes de banho em público. Era vetado o uso de roupas que mostrassem a barriga e as pernas. As mulheres também tinham de se cobrir nas praias quando não estivessem dentro da água.
O que vemos na fotografia são mulheres levadas para um veículo da polícia (bem mais alto que os nossos camburões e igualmente estreitos). Lembrei-me das prostitutas francesas embarcando à força, em Le Havre, num navio que ia para a América, no segundo ato da ópera Manon Lescault, de Puccini. Não sei o porquê dessa lembrança, talvez porque uma delas, num gesto de deboche, curvou-se e jogou a saia para cima, mostrando o traseiro para as autoridades.
Veio-me também à lembrança, no caso da primeira foto, um filme de um documentário em que aparece o então presidente Richard Nixon, numa praia, em que o seu terno escuro contrastava com a areia branca e o  comentário do narrador: “Ele era uma figura lúgubre.”
Se alguém hoje, nas praias do Rio de Janeiro, principalmente, aparecesse vestida como essas jovens de Chicago, em 1924, diriam que elas usam paraquedas em vez de biquíni.

Recebi da Alba, correspondente do Biscoito Molhado em Porto Alegre e repassei imediatamente aos meus amigos, a carta de Vespasiano ao seu filho Tito Flavio.  Devido à atualidade da mesma, no Brasil, em que rios amazônicos de dinheiro são gastos na construção de estádios de futebol, alguns desses amigos me perguntaram: “Mas essa carta é verdadeira?”
Se non é vero é bene  trovato.
Aqui vão uns trechos dela, datada de 79 d.C, um dia antes da sua morte:
“Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, Imperador. (...) De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um conselho: não pare a construção do Colosseum. Em menos de um ano ele ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória. Alguns Senadores o criticarão, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos a esses poucos. Pensa: onde o povo prefere pousar seu clunis: numa privada, num banco de escola ou num estádio? Num estádio, é claro. Será uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma por “omnia saecula saeculorum” e sempre que o olharem dirá: Estás vendo este colosso? Foi Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou.”
“Outra vantagem do Colosseum: ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores que tanto nos ajudam nos momentos de precisão. Moralistas e loucos dirão que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas novas que remendadas, “Vel caeco appareat” (Até um cego vê isso). Portanto, deves construir esse estádio em Roma.”
“Enfim, meu filho, desejo-te sorte e deixo-te uma frase: “Ad captandum vulgus, panem et circenses” (Para seduzir o povo, pão e circo).”
Não custa relermos a história do Coliseu, também conhecido por Anfiteatro Flavio. 
O nome Coliseu se origina do vocábulo latino Colosseum, que se refere à colossal estátua do imperador Nero, erguida nas proximidades, mas a intenção dos idealizadores não era homenagear o matricida, como veremos depois.
Edificado entre 70 e 90 d.C., foi iniciado por Vespasiano, inaugurado por Tito Flavio, em 81 d.C, ano do seu falecimento e concluído por Domiciano, seu irmão mais novo, que governou de  81 a 96 a.C.
O local escolhido por Vespasiano para a construção se achava no fundo de um vale entre colinas. O lugar fora devastado pelo Grande Incêndio de Roma, em 64 d.C. que, como sabemos, serviu para que Nero chacinasse os cristãos. Pouco tempo, depois, o Imperador Nero o reurbanizou  com um enorme lago artificial, “Casa Dourada”, situada num complexo de construções, para seu prazer pessoal. E lá mandou, ególatra como era, que fizessem a colossal estátua de si mesmo de que já falamos.
Acredita-se  que o imperador Vespasiano optou pelo levantamento da sua grande obra no lago do “Palácio Dourado de Nero”, com o objetivo de que os males causados pelo seu antecessor fossem esquecidos. Além de agradar o povo, Vespasiano colocou o símbolo do poder da sua dinastia no coração de Roma.  Infelizmente, não pulverizou a estátua de Nero.
A edificação foi financiada com os tesouros conseguidos depois da vitória romana na Grande Revolta Judaica, no ano 70. Drenou-se o lago, e os homens puseram mãos à obra.
A sua arquitetura é extraordinária. A sua planta elíptica mede dois eixos que se estendem aproximadamente de 190 por 155 metros. É construído em mármore. Pedra travertina, ladrilho e pedra calcária com grandes poros, chamada tufo. A fachada é composta de arcadas decoradas com colunas dóricas, jônicas e coríntias, de acordo com o pavimento em que se encontravam. Subdivisão possível porque a construção, sendo essencialmente vertical, cria uma diversificação do espaço.
Formado por cinco anéis concêntricos de arcos abóbadas, o Coliseu representa o avanço introduzido pelos romanos à engenharia de estruturas. Esses arcos são de concreto (de cimento natural), revestidos por alvenaria. A alvenaria era, na realidade, construída simultaneamente e servia de forma para a concretagem.
A entrada e saída dos espectadores, que alcançavam 50 mil, se dava em tempo curtíssimo o que faz os engenheiros de hoje babarem, de admiração.
O Coliseu foi utilizado durante 500 anos aproximadamente. Deixou de ser frequentado  para entretenimento no começo da Idade Média, mas foi, posteriormente, usado como habitação, oficina, forte, pedreira, sede de ordens religiosas e templo cristão.
Vem-me à mente o estádio de futebol do Engenhão, cuja obra se iniciou em 2003 d.C., e foi interditado 10 anos depois devido o risco de desabamento...  As construtoras embolsaram todo o seu dinheiro, como pregava Vespasiano e pior: o povo não teve o seu circo por muito tempo.
É melhor parar por aqui.


Nenhum comentário:

Postar um comentário