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sexta-feira, 3 de maio de 2013

2371 - um Henrietta chamado Brasil


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4171                                  Data:  13 de  Abril de 2013
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BISCOITOS SORTIDOS

Nesse dia, a corrida se deu no táxi do Bob Esponja.
-Só se vê cracudo. - disse ele, depois de quebrar o ritmo do seu carro para não atropelar um.
-Ainda mais com a favela Bandeira 2 por perto.- acrescentei.
-Sabe que tem colega da nossa cooperativa que pega cracuda?
-Como?!...
-Eles rodam de madrugada e pensam que não são vistos por gente conhecida...
-Mas essas cracudas são um poço de doenças.
-Apenas são. - enfatizou essas palavras e prosseguiu:
-Esquecem que alguns da nossa cooperativa começam a trabalhar quando eles ainda rodam na praça. Não adianta levar a cracuda para uma rua menos movimentada, na madrugada, que serão, mais cedo ou mais tarde, descobertos.
-Pagam o quê para uma dessas infelizes?... Cinco reais, que é o preço de uma pedra de craque?  - manifestei-me.
-As mulheres estão fáceis e, de tão carentes, você recebe mais delas do que dá; e essas são higiênicas.
E gabou-se, o que já demorava:
-Pelo menos, comigo é assim. Três já me telefonaram hoje, dispensei todas, pois vou dedicar a noite de hoje à minha noiva.
-As cracudas são anti-higiênicas, eles também. O pior desses seus colegas é passar AIDS para a esposa. - assinalei.
-E eles pensam nisso?
Apesar da sua garrulice, deixou-me no meu destino sem citar os nomes desses taxistas, o que me fez agradecer ao saltar do seu táxi, pois seria difícil entrar nos carros deles.

Li, algures, a edição do Biscoito Molhado sobre a visita que Jules Verne fez à redação deste periódico. Escrevo, por isso, que o economista da PUC, Rogério Furquim Werneck, num artigo para o Globo, comparou um episódio de “A volta ao mundo em oitenta dias” com a atual politica da presidente Dilma Rousseff para se reeleger. S.F.
BM: Tomamos conhecimento desse artigo, caro leitor. O economista, depois de dizer que era da época em que as crianças liam Júlio Verne (aportuguesando), fixa-se na necessidade premente do Sr. Phileas Fogg, um solteirão inglês rico e excêntrico de viajar de Nova York às Ilhas Britânicas e, assim, ainda poder nutrir esperanças de dar a volta ao mundo no tempo estipulado e vencer a aposta que fizera com os outros sócios do clube a que pertencia (problema que não aconteceria com Groucho Marx, considerando a sua celebrada frase).
Após seguir pela linha férrea de São Francisco a Nova York, o Senhor Fogg, ao chegar, constata, com desespero, que já havia zarpado o navio em que embarcaria.
Ele recorre então, então, a um cargueiro que ficara entre a transição da navegação a vela e a vapor, o Henrietta. Com exceção do casco, da caldeira e da máquina a vapor, o navio era de madeira. (*)
As emoções de uma boa aventura de Jules Verne começam a pulular: uma tempestade se forma, o que prejudica a travessia, além disso, o estoque de carvão foi previsto até Bordeaux (**), o destino da viagem, que seria alterado para a Inglaterra devido ao “poder de persuasão do excêntrico Sr Fogg.
Como alcançar terras britânicas com pouco carvão? Aqui, o economista da PUC cita o capítulo 33 do livro e nele se detém. O Sr. Fogg convence o capitão do Henrietta a lhe vender a embarcação e toma o comando. Ordena à marujada que a pressão da caldeira deve ser mantida a todo custo. Exige, em seguida, que todo o madeirame do navio tem de ser retirado e lançado na fornalha para que o seu objetivo fosse alcançado.
E foi, mas o Henrietta aporta nas Ilhas Britânicas como um monstrengo, restando-lhe apenas o casco, a caldeira e a máquina a vapor.
Esse episódio elaborado pelo grande escritor de Nantes é uma excelente metáfora e o economista da PUC, Rogério Furquim Werneck o aproveita exemplarmente para ilustrar a atual política posta em prática no Brasil.
Com as palavras que se seguem, ele apresenta o desfecho do seu lúcido artigo:
-“Não há espaço aqui para um balanço de tudo o que já foi desmantelado para avivar a fornalha da reeleição. Mas uma lista curta teria de incluir o controle da inflação, a credibilidade do Banco Central e previsibilidade da política fiscal. Num quadro em que o dispêndio público continua a mostrar rápida expansão, já não se tem mais ideia do que será o resultado fiscal de 2013, deixado agora ao sabor de pacotes de desoneração anunciados de improviso, a cada mês, em desesperada tentativa de mascarar a inflação com medidas que implicam inflação mais alta no futuro.”
“Merecem ainda destaque o abandono cada vez mais escancarado da ideia de realismo tarifário – como bem ilustra a insistência na política de preços de derivados de petróleo – e a decisão populista de não repassar, aos consumidores, o custo mais alto da energia elétrica proveniente das térmicas. E há, também, outras conquistas valiosas, como a solidez dos bancos federais, sendo consumidas na fornalha da reeleição. A inconsequência na gestão da Petrobras e do pré-sal não pode deixar de ser mencionada. Mas tem mais a ver com o vale-tudo anterior, que marcou a travessia do biênio eleitoral de 2009-2010.”
“Faltam hoje 560 dias para o segundo turno das eleições presidenciais. Uma travessia de 80 semanas. E ainda há muito o que queimar a bordo. Mas em que estado estará o nosso Henrietta no fim de outubro do ano que vem?”
É a versão macabra de “A volta do mundo em 80 dias”.

Recebi um e-mail que lista, em PDF, os dez piores alimentos em ordem alfabética. Os dois mais calamitosos, para a saúde, eu risquei do meu cardápio há mais de dois anos: o refrigerante (2º da lista) e o refrigerante light ou diet (o vencedor às avessas).
Confesso à minha tristeza com a inclusão da pizza (***). Já deixei registrado, em algum  BM, que a primeira vez que provei uma pizza, que era de mussarela, no início dos anos 60, na Confeitaria Méier, fez-me sentir  um deus do Olimpo que prova um manjar.  Isso ficou entesourado na minha memória, além do fato de a pizza cair inteira no meu colo devido à minha pouca experiência em cortar com a faca a elástica mussarela cozida; peguei-a, sem afetações, pela mão e a devolvi ao prato.
Foi amor à primeira mordida. Nunca abandonei a pizza e tive esperanças nos benefícios que ela trazia quando soube que os nutricionistas enalteciam a dieta mediterrânea. Afinal, os povos do Mediterrâneo se fartam de pizzas.
Estranhei a ausência do miojo nessa lista dos dez piores. Falando nele, quando leio as cartas da hipertensa Rosa Grieco, sempre me preocupo quando ela se refere ao seu miojo de cada dia.
-É puro sódio. Troca por macarrão natural, Rosa, que até eu sei cozinhar.
E, com esse apelo, encerro este BM.

(*) Não temos notícia de ser o casco de aço. O fato de não ter sido queimado deveu-se a ser o casco imprescindível à navegação. Lembramos ainda da figura de proa do Henrietta, em madeira requintadamente pintada e que o capitão não queria deixar queimar. Os navios de aço aboliram as figuras de proa, o que é mais uma evidência do casco ser de madeira.

(**) A questão não era a distância, visto que Bordeaux não fica mais longe de Nova Iorque do que a Inglaterra. A questão era a velocidade que Fogg necessitava e que exigia pressão máxima na caldeira, enquanto a viagem original previa o uso misto de vela e motor, com economia do carvão. Obviamente, o percurso a vela demanda cursos nem sempre otimizados e o tempo de percurso seria forçosamente maior e incompatível com a aposta de Fogg.

(***) Há pizzas e pizzas. De pacote, nenhuma presta. Pizza barata leva ingredientes idem, não pode ser boa para a saúde. Mas a boa pizza, com ingredientes de primeira qualidade, sem gordura em excesso só traz benefícios, especialmente se repartida em convívio (todo convívio é social, juntar as palavras apresenta pleonasmo).
Que o digam os sócios do Clube do Bondinho, que saboreiam a Pizza do Gagau, cuja permanência à mesa (da pizza) raramente ultrapassa a marca de 2 minutos após a saída do forno.
   




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