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sexta-feira, 17 de maio de 2013

2377 - Bomba! bomba!


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4177                                      Data:  23 de  Abril de 2013
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EU  E  DIECKMANN  FUGINDO DAS BOMBAS VOADORAS

Meados de 1943, estávamos em Londres.
Olhei para o céu e nada vi que assustasse, nem mesmo nuvens negras anunciando chuva. (*)
-Os dias tumultuados de bombas despejadas pela Luftwaffe sobre a cidade passaram. - disse.
Dieckmann ouviu e olhou-me com a expressão preocupada.
-Os alemães estão ocupados na Rússia, mas não se esqueceram da Inglaterra. - afirmou.
-Sim, depois de serem atacados por mais de mil aeronaves de Hitler abastecidas por combustível de Stalin, os ingleses dormem agora mais sossegados. - comentei.
-Feita essa comparação com os anos iniciais da guerra, sim, está melhor hoje. A Luftwaffe bombardeou até o Palácio de Buckingham...
-E Churchill sugeriu que a família real se protegesse nos Estados Unidos, ou no Canadá, mas eles preferiram continuar junto do seu povo. -  interrompi o Dieckmann.
-Dobrar o soldado da Inglaterra é praticamente impossível. - afirmou o Dieckmann.
-A Inglaterra deve muito ao morcego a vitória sobre a Alemanha nos ares.
Antes que o Dieckmann me interpelasse, prossegui:
-O invento do radar surgiu da observação dos voos do morcego e, com essa invenção, a RAF pode localizar os aviões inimigos, que tinham a superioridade numérica e derrubar muitos deles.
-A batalha da Inglaterra foi um inferno de máquinas no céu que durou o dia inteiro, no final, prevaleceram não só a eficiência dos radares britânicos como a competência dos pilotos da RAF. - comentou o Dieckmann.(**)
--Quando foi mesmo que Churchill fez aquele célebre discurso em que disse: “Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos”? - indaguei.
-Em 20 de agosto de 1940, na Câmara dos Comuns. - respondeu.
-Depois disso, passou a haver escaramuças nos céus da Grã-Bretanha. - comentei.
-Se você chama o que veio depois de escaramuças... - disse com um tom crítico na voz.
-Claro que não chamo; só nas três primeiras semanas de agosto de 1942, a RAF colocou 420 aviões da Luftwaffe fora de combate. - manifestei-me.
-Não os derrubou todos aqui, pois os radares permitiam que a RAF localizasse as aeronaves inimigas logo que decolavam, evitando, com isso,  que perdessem tempo e combustível em rondas aéreas. - observou.
-O comandante da Luftwaffe, Goering, com  aquele corpo gordo, que logo me lembra o burguês-bunda do poema do Oswald de Andrade, não me convence como comandante da Luftwaffe.
-No entanto, ele foi um dos maiores pilotos alemães da Primeira Guerra Mundial. - retorquiu o Dieckmann.
-Os observadores bélicos disseram que os aviões de ataque nazistas não tiveram muita autonomia de voo.
-Hitler, com seus subordinados, diminuiu os tanques dos aviões para que coubessem mais armamentos, assim, eles tinham de voltar logo para a França, depois de rasgar o céu de Londres, para abastecer. - esclareceu-me o Dieckmann.
E foi enfático, em seguida:
-A Lutwaffe chegou a reunir 2669 aeronaves operacionais, com 1015 bombardeiros, 346 caças de mergulho, 933 caças e 375 caças com armamento pesados.
-Mas depois de enfrentar o heroísmo britânico e invadir a Rússia, a força aérea de Hitler caiu acentuadamente e nós podemos agora, em meados de 1943, prosear por horas, sem sobressaltos, em pleno Hyde Park.  Eles não furam, como antes, as defesas antiaéreas londrinas. - observei.
-A guerra ainda está indefinida. - afirmou.
-Atualmente, a RAF irrompe pelos céus da Alemanha e reduz a escombros bairros e mais bairros das cidades desse país. Caem as bombas e o moral alemão.
-Os alemães sofreram com as brutais reparações de guerra do Tratado de Versalhes, atravessaram uma das maiores hiperinflações da história, estão, portanto, escarmentados para superar maus momentos. - frisou o Dieckmann.
Nesse momento, convergi minha atenção  para cima, e vi alguns aviões da RAF.
-Vão arrasar mais cidades.
-Parece-me que a função deles é de reconhecimento.
Subitamente, eu e Dieckmann fomos engolidos por um turbilhão. Quando acordamos, estávamos em outro lugar e as vozes que chegavam aos nossos ouvidos indicavam que o idioma também era outro. Depois de uma hora, descobrimos que estávamos um pouco além das praias do Báltico, a 96 quilômetros do nordeste da cidade de Stettin, num local cercado por arames farpados eletrificados.
 -Estamos na estação de pesquisas da Luftwaffe em Peenemünde. - localizou-nos o Dieckmann.
-Um e outro avião da RAF passam, mas parece que os alemães não dão muita atenção a eles e continuam trabalhando.
-Os ingleses já sabem o que se faz aqui.
-E o que se faz aqui, Dieckmann?
-As armas secretas com que Hitler pretende arrasar com 80% da Londres e, em seguida, virar o rumo da guerra para o lado dele.
-As bombas-voadoras V1 e V2?
-Sonderwaffen. - como diria o meu avô alemão que arrefeceu o seu entusiasmo ariano depois que o meu pai quase o prendeu.
Do assunto familiar, meu amigo passou para o bélico.
-Concentram-se aqui os melhores técnicos da Luftwaffe e os mais capacitados homens da ciência alemã.
-E quem comanda isso tudo? - quis saber.
-O General de Divisão Wolfgang von Chamier-Glisezenski, que também é cientista. Sob as suas ordens, está uma miríade de professores, engenheiros e peritos em propulsão por meio de expansão de gases e em foguetes de longo alcance.
-Os ingleses já estão informados de tudo.
-Tanto estão que temos de sair daqui antes que o fogo amigo nos pegue.
Para mais de 600 quadrimotores carregados de bombas arrasa-quarteirão, algumas incendiárias, decolaram das bases aliadas com a missão de destruir Peenemünde.  Os Pathfinders foram os primeiros a aparecer, seus voos a pouca altura indicaram os alvos para os bombardeiros que atacaram com todo o poder de destruição.
Na manhã seguinte, um Spitfire de reconhecimento fotografou os danos causados; metade das 45 barracas, onde os especialistas e cientistas estavam, foram arrasadas. 40 edifícios, inclusive as oficinas de montagem e os laboratórios foram destruídos e outros 50 danificados.
-O êxito dessa missão não só salvou Londres, como antecipou o Dia de desembarque na Normandia. - afirmou o Dieckmann.
-Mas as Sonderwaffen, como você gosta de falar, caíram sobre Londres. (***)
-Mas as primeiras V-1 só começaram a ser lançadas em 13 de junho de 1944; seu combustível era de avião a jato. O Messerchmidt 262 foi o primeiro caça a jato do mundo. (4*)
-E eles ainda lançaram a V-2. - interrompi o Dieckmann.
-O foguete V-2 foi o primeiro objeto feito pelo homem a alcançar o voo espacial sub-orbital. Ele viajava a 4 000 quilômetros por hora e alcançava o alvo mais rápido do que o som.
-Dieckmann, ainda bem que Peenemünde foi arrasada.
-A corrida espacial foi, na verdade, travada entre os alemães que foram aprisionados pelos americanos e pelos alemães aprisionados pelos russos. - afirmou.

(*) Desta vez, não há dúvida, confirmou o Dieckmann a este Distribuidor, era mesmo eu! Dia sem nuvem na capital do fog, só comigo a bordo!

(**) piloto por piloto, no começo da guerra não daria para fazer diferença. O que pegou foi a dificuldade logística de decolar e  atravessar um canal antes de entrar em combate e a necessidade nazista de escurecer o céu, fosse com o que fosse, até com Stuka, uma aeronave que já estava obsoleta ainda nos céus da França. O resultado foi a perda de centenas de bons pilotos tripulando aviões que não eram páreo para os excelentes Hurricanes e Spitfires, enviados aos céus na hora certa e na direção certa, a partir das informações de radar. Dieckmann ainda iria acrescentar mais aviônicas, mas este Distribuidor interrompeu a longa digressão.

(***) Sonderwaffen era o nome usado para armas secretas, que incluíam muito mais coisas do que V-1 e V-2. O Dieckmann leu esta edição antes da Distribuição e gostou de saber que existia o termo, bem como de tantos detalhes que o redator pesquisou para os leitores. É óbvio que, se ele assim se expressou em 1943, já tinha se esquecido, logo ele que para saber se fez a barba de manhã, passa a mão na bochecha ao meio-dia.

(4*) O Me-262 merece muito mais que uma linha. Faz de conta que não li. A V-1 era uma bomba voadora, não era foguete. Ela tinha um motor a jato em cima da fuselagem e duas pequenas asas. Não tinha controle remoto. O alemão apontava na direção da Inglaterra e ligava o motor. Se falhasse qualquer coisa, o artefato poderia até explodir no pé do alemão, pois nada podia ser feito depois da decolagem.
A V-1 andou aterrorizando, mas logo os ingleses perceberam que a velocidade delas era inferior a de seus caças e voavam lado a lado com elas ainda sobre o mar e, de repente, provocavam um vácuo sob as pequenas asas da V-1, o que era suficiente para fazê-las cair imediatamente,





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