O BISCOITO MOLHADO
Edição 5308 FM
Data: 03 de julho de 2017
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO: XXXIV
ASSUNTO
PESSOAL
Peço licença aos fregueses desta ilustre fábrica de produtos
destinados ao prazer do intelecto, como o biscoito molhado, para o qual,
modestamente eu também contribuo com algum fermento - sou o FM, que, com prazer, falo das coisas do Ceará, embora
também trate de outros assuntos, uns relevantes, outros que dão ânsia de vômito
citá-los, pois tratam daqueles que se aproveitaram para roubar do poder público
bilhões, transformados cinicamente em propina ou Caixa 2. Simplesmente
revelaram ser uns canalhas sem caráter. São personagens que deveriam ser ilustres, pelos cargos que ocupam, mas
são apenas ladrões chinfrins, vergonha da raça humana. Urgh! Estão sendo
merecidamente condenados a prisão.
Volto ao
propósito inicial: falar de um assunto pessoal, de um parente pelo qual devoto
muito afeto, por ser ele meu primo, cunhado (sou casado com uma de suas irmãs),
meu irmão e meu amigo, que está gravemente enfermo. Uma pessoa encantadora, amado
por quantos o admiram como um dos maiores cantores populares do país:
Gilberto Milfont.
Dele falo com orgulho e prazer, pois, ainda na
pré-adolescência, nos idos anos de 1935/36, por indicação de um tio, fomos à
emissora de rádio de Fortaleza, a única existente, ainda modesta, que estava
nos seus começos. Ao se apresentar ao proprietário, bastou que cantasse uma
única música, com voz semelhante à da cantora da época, Carmen Miranda. O dono
da emissora deu-se por encantado e mandou prepara o estúdio, para uma
apresentação especial.
Com isso, começava uma longa e exitosa carreira artística,
como abrira as portas para a criação de um programa infantil, que revelou
muitos novos artistas, ente os quais os conjuntos “Quatro ases e um coringa” e
“Vocalistas tropicais.” Anos depois, o “Trio Nagô” e muitos outros, quando a emissora já havia sido
adquirida pelos Diários Associados, e se transformava em poderosa organização,
com a participação de profissionais vindos do Rio de Janeiro e de estados
vizinhos. O Menino Prodígio, de nome João, foi rebatizado em 1944/45 pelo
produtor Antônio Maria, pernambucano que foi contratado para dirigir a
emissora, ou por Dermeval Costa Lima, que o substituiu no cargo. Já nem me lembro o autor, que
considerou “Gilberto” nome mais radiofônico. E, como Gilberto, já com voz
possante de rapaz, o rádio brasileiro ganhou um notável artista, que decidiu
viajar para o Rio, de “Mala e cuia”, com um só propósito, enfrentar uma
verdadeira selva, onde brilhavam os grandes nomes da MPB: Francisco Alves,
Orlando Silva, Carlos Galhardo e muitos outros, que formavam o elenco da
poderosa Rádio Nacional, que contratou o Gilberto, já iniciado na Rádio Globo. Logo o cantor cearense estava
brilhando ao lado daqueles grandes astros, dos quais era um fervoroso
admirador. Seu primeiro disco (78rpm, pois não existia o LP), foi gravado em
1946, com duas belas canções do médico e compositor famoso Joubert de
Carvalho: “Geremoabo” e “Maringá.”
Foi uma sucessão de êxitos, mais de 100 músicas gravadas, algumas de grande
sucesso, como “Eu não queria de perder”, “Esmagando rosas” e, a mais famosa,
“Senhora”, um bolero mexicano de Orestes Santos, versão de Lourival Faissal. A música dominou as ondas de
rádio em todo o Brasil. Ao longo do ano, Gilberto participava da programação da
RN cantando músicas românticas, era comumente escolhido para cantar canções de outros repertórios, por
solicitação dos grandes maestros da emissora, pois tinha ele imensa facilidade de decorar as letras para o mais famoso e
importante programa da emissora,
“Um milhão de melodias”.
Durante o carnaval, contudo, era o preferido dos principais
compositores, que participavam dos concursos para escolha das campeãs. E Gilberto ganhou pelo menos cinco
desses famosos campeonatos carnavalescos nos anos de 1950, a mais famosa, “Pra
seu governo”, ainda hoje lembrada nos bailes populares.
Com o advento da TV, o rádio caiu em declínio. Gilberto
passou a cantar na TV Record, de São Paulo, para onde ia uma vez por semana.
Com a crise política, veio o golpe de 64, o rádio esfacelou-se, a Nacional
perdeu seus melhores artistas e alguns, por serem efetivos, foram transferidos
para repartições públicas federais. Gilberto foi mandado para a Rádio MEC, onde
trabalhou como burocrata de programação, até que se aposentou. Terá perdido o prazer de cantar, só o
fazendo por insistência dos produtores de eventos populares, durante o
carnaval.
Além de excelente intérprete, Gilberto Milfont se tornou um
notável e inspirado compositor, tendo produzido umas duas dezenas de músicas,
entre as quais “Reverso”, gravada por Silvio Caldas, Lúcio Alves, Elizeth
Cardoso e Tito Madi, e “Esquece”, gravado (entre outros) por Dick Farney.
Músicas modernas, estilizando a nascente Bossa Nova.
Um pequeno detalhe de sua adorável companhia, ocorreu em
Porto Alegre, logo no início de sua carreira. Acabara de cantar na emissora
local. Já no hotel, foi procurado por um modesto cidadão, que disse ser
compositor, pedindo para apresentar algumas de suas “musiquinhas”.
Gilberto concordou, ouviu, prometeu gravá-las, com as quais
fez grande sucesso em todo o Brasil: “Castigo”, “Remorso” e “As aparências
enganam” foram algumas. Seu autor, fã e amigo do cantor: Lupicínio Rodrigues.
Eis um pequeno perfil de uma pessoa generosa, que só fez amigos
ao longo de sua carreira artística de grande sucesso. Agora vivendo momentos de
grande padecer, gravemente enfermo, internado em hospital, esperando, quem
sabe, ainda poder atravessar uma longa e difícil estrada, de curvas perigosas.
Enternecido e comungando de seu padecer, peço a Deus que ilumine o seu caminho
e lhe proporcione mais tempo para ainda poder usufruir alguns momentos de vida.
Ele está com 94 anos.
Mamãe cantava suas músicas e meu primo português chegou da Santa Terrinha no auge do sucesso de Prá seu governo, aprendeu a cantar e nunca mais parou. Desde que vi seu nome pensei nele e fiquei inquieta mas com muita vergonha de perguntar.
ResponderExcluirFeliz por ter tomado conhecimento de sua vida, emocionada e solidária, junto aos meus os seus pedidos.
Desculpe,
ResponderExcluir... junto aos seus os meus pedidos.
Um abraço fraterno.
Belíssima homenagem do Fernando Milfont. No país em que prevalece de forma avassaladora uma trágica inversão de valores nossos jovens tendem a acreditar que as porcarias com que somos bombardeados diariamente pelo Multishow tem alguma coisa a ver com a música popular brasileira. Viva Gilberto Milfont ! Viva Chico Alves ! Orlando Silva ! Jorge Goulart ! Elizeth Cardoso ! Angela Maria !
ResponderExcluirObrigado, Fernando Milfont!!!
Nossa música estava para o nosso povo como estava a ópera para os
ResponderExcluiritalianos. Todos a cantavam! Não havia cantor preferido. Amávamos a todos. Não havia música de gente velha, rica ou pobre. Mal sabíamos a região de origem de cada um. Aprendida a letra, jamais a esqueceríamos como tb junto à lembrança nos chegam as vozes e a alegria com que eram cantadas pela família, amigos e até empregados.
Ontem lendo uma crônica (...) senti na pele o que é a injustiça neste país, parece que para o autor só existe um cantor em uma terra que é celeiro de grandes artistas, vozes, interpretações e dos mais diversos estilos.
Além do endeusamento em detrimento de tantos outros o mesmo parece ter sido alçado a Deus, um Salvador da Terra, pois o lançamento do seu disco se "assemelha a um Natal, um Ano Novo, um Carnaval, um dia da Independência".
O mais triste de tudo é ver nosso povo separado por sotaques, regionalismos, cores, estilos, propriedades culturais e uma dezena de coisas mais.
Para minha mãe, que amava esta terra e sua cultura, o Brasil de hoje e suas gentes seria motivo de grande tristeza e estranhamento.
Viva Gilberto Milfont!
Viva Carlos Galhardo!, Viva Silvio Caldas!, Viva Dalva! Viva Ellen de Lima!, Viva Dolores Duran!, Viva Maísa!, nossos trios Nagô e Irakitan e nossos maravilhosos Cantores de Ébano!
Mas sua filha gosta. Cacá Diegues
ResponderExcluirFolha 15, jornal O Globo, Domingo - 02.07.2017.
Bom dia,
ResponderExcluirGostaria de saber notícias. Fico triste com o silêncio da mídia.
Um abraço.
CARA ELVIRA, OBRIGADO PELO COMENTÁRIO SOBRE O GILBERTO MILFONT, MEU QUERIDO PRIMO, CUNHADO, IRMÃO E AMIGO. FM
ResponderExcluirO GILBERTO CONTINUA HOSPITALIZAD.O ESTADO AINDA INSPIRA CUIDADOS FM
ResponderExcluirMuito obrigada pela resposta. Impossível esquecer pessoas que fizeram nosso passado melhor e que ainda hoje, ao recordar por meio de sua música a minha família já falecida há mais de 50 anos encheram meu coração de ternura.
ResponderExcluirMuito grata.