O BISCOITO MOLHADO
Edição 5316 SX
Data: 26 de julho de 2017
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO: XXXIV
VOCÊ COLECIONA DINKY TOYS?
Promessa é dívida. E elas são levadas muito a
sério pelos alunos dos colégios jesuítas.
Na minha última crônica para o
“Biscoito Molhado”, em que abordei as idiossincrasias dos colecionadores,
declarei que meu texto seguinte iria tratar da minha coleção de miniaturas de
automóveis.
O título, “Você coleciona Dinky Toys?”, foi
escolhido a dedo. Poucas indagações foram tão repetidas quanto essa pelos
garotos da minha geração.
Todo mundo colecionava. Na realidade, chamávamos
de Dinky Toys qualquer miniatura de automóvel na escala 1/43 que chegasse às
nossas mãos. Possivelmente porque a Dinky era o maior fabricante, o mais
popular, o que chegou primeiro ao Rio de Janeiro...quem sabe?
O certo é que as miniaturas faziam um enorme sucesso entre a
garotada. O preço era alto e somente podiam ser encontradas em um número
reduzido de lojas. Uma delas era a Bebê Conforto, na Praça General Osório, em
Ipanema. Outra era o Bazar Francês, no Centro. Alguém ainda se lembra da
musiquinha? Rua da Carioca, número cinco...É com esse que eu
brinco...Definitivamente, estou ficando velho. Havia ainda o Bazar Enigma, na
Rua Barão da Torre, a Feira de Leipzig, na Sete de Setembro...Mais tarde os
Dinky Toys começaram a ser vendidos na Hobby Center, na galeria do cinema Bruni
Copacabana.
O jeito era economizar a semanada até juntar o dinheiro
suficiente para visitar um desses endereços e comprar o carrinho desejado. Foi
assim que compareci um sem número de vezes à Bebê Conforto acompanhado de minha
mãe, para adquirir miniaturas francesas da Solido. Como o nome indica, a Bebê
Conforto era uma loja especializada em roupas e apetrechos para bebês. Nos
sábados pela manhã, quando eu lá aparecia, enfrentava um grande
congestionamento de grávidas antes de chegar até a vitrine onde ficavam
expostos os Solido, uma especialidade da casa. Na época, impaciente e ansioso,
eu achava que aquela profusão de futuras mamães circulando no local tinha como
único objetivo atrapalhar minhas compras.
Mas, no final, tudo dava certo. Um de
cada vez, meu precioso acervo foi crescendo: Jaguar Tipo “D”, Porsche 1.500
R.S., Maserati 250 F, Renault Floride, Simca Oceane, Mercedes 190 SL, Cabriolet
Peugeot 403, D.B. Panhard, Ford Thunderbird, Rolls Royce Silver Cloud...estes
dois últimos incluídos até hoje entre os meus favoritos. O catálogo declarava,
solenemente: “ La précision et la qualité des fabrications Solido vous
permettent de constituer la plus homogène et la plus vivante des collections de
miniatures”.
Na época, eu e meus amigos não pensávamos em coleção. Nossos
carrinhos não ficavam em cima de cavaletes. Rodavam à bessa. Na mureta que
cercava a piscina do Santo Inácio, minha Ferrari Testa Rossa deve ter “andado”
mais de cem mil quilômetros...
Admito minha preferência pelas miniaturas Solido.
Principalmente aquelas fabricadas entre 1959 e 1965, a chamada “Nouvelle
Serie”. Isso aprendi mais tarde, consultando a literatura especializada.
Descobri, também posteriormente, que o número de fabricantes
de miniaturas na escala 1/43 já era grande, naquela época. Poucas marcas, no
entanto, chegavam às lojas especializadas. Elas eram cinco, basicamente: Dinky
Toys, Solido, Corgi Toys, Tekno ( maravilhosas miniaturas procedentes da
Dinamarca ) e Marklin ( tradicionalíssimas, um pouco rústicas, mas altamente
colecionáveis ).
Alguns lançamentos causavam furor. Em comparação com a
concorrência, a Corgi Toys era um fabricante relativamente novo, tendo lançado
seus primeiros produtos na British Industries Fair de 1956. No entanto, já na
metade dos anos 60 a Corgi batia records sucessivos de produção, ao lançar com
extraordinário sucesso o Batmóvel, o Oldsmobile do Agente da U.N.C.L.E. (
alguém ainda se lembra da dupla Napoleon Solo e Illya Kuryakin? ) e,
finalmente, o Aston Martin DB 5 de James Bond, com direito a metralhadoras,
chapa de proteção contra balas na traseira, assento ejetor de bandidos e tudo o
mais. Milhões de miniaturas do Aston Martin foram vendidas em todo o mundo,
ganhando o carrinho, no ano de seu lançamento, em 1965, todos os prêmios
possíveis e imagináveis de “Toy of the Year”, “Best Boys Toy for 1965”, etc.
No meu grupo era imperdoável não possuir o carro do James
Bond. A falha transformava o sujeitinho em cidadão de segunda classe. Perder o
boneco que fazia o papel de bandido, isso sim, não chegava a ser um pecado
mortal. O sumiço acontecia com frequência nas operações em que Bond acionava o
assento ejetor do Aston Martin. No meu caso, acredito que o desafiante do
famoso agente secreto repouse até hoje no fundo da piscina da casa de minha
tia, em Petrópolis.
Acabei falando pouco dos Dinky Toys propriamente ditos,
justamente a mais tradicional das miniaturas. Que isso não seja interpretado de
forma alguma como desprezo pela marca. Na realidade, os Dinky merecem um artigo
dedicado somente a eles, o que este escriba promete para um próximo número do
“Biscoito Molhado”.
E você, coleciona Dinky Toys?
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