O BISCOITO MOLHADO
Edição 5291 FF
Data: 30 de maio de 2017
FUNDADOR: CARLOS EDUARDO
NASCIMENTO - ANO: XXXIV
A VIDA É UM CADARÇO
Meu cadarço está invariavelmente desamarrado. Estou sempre
abaixando para amarrá-lo e nesse curto intervalo de tempo em que dou o nó
penso: minha vida é um cadarço desamarrado.
Por mais que eu tente, capriche, mude as técnicas, a
postura, o jeito, ele vai desamarrar. Desamarrado ele me fará tropeçar; E assim
caminho e tropeço, abaixo e penso, mas todo dia sei que terei de amarrar meu
cadarço.
O cadarço é como a vida. Algumas pessoas, nas quais me
incluo, estão sempre tentando dar o nó definitivo. Aquele que não desatará. Que
não o fará mais abaixar, repensar e rememorar.
Outras pessoas caminham longos
períodos com os mesmos nós. Suas vidas são sem percalços, uma função linear com
poucas curvaturas. Existem ainda as pessoas que nem cadarço tem. Não querem
emoções, alegrias ou tristezas. Querem o óbvio. Não querem iguarias, surpresas
ou imprevistos. Querem o gosto conhecido. Uma maneira de viver morrendo ou de
morrer vivendo.
Olho para meu cadarço com rabo de olho. Feio, lambuzado, com
marcas, nós mal dados e pedaços faltando. Estou sempre num abaixar e levantar.
Até o dia em que não levantarei mais. Cansarei disso. Deixarei assim, como
aquelas doenças que não tratamos. Um dia ela aumenta, evolui e nos mata. Farei
assim, não mais o amarrarei. Chega de decepções e de tropeços. Meu nó nunca
será perfeito, pois a vida é imperfeita demais. Se eu
souber que está desamarrado, tudo será mais fácil. Acabarei com o imprevisível.
É ele que nos mata. Vou para a turma dos sem cadarço. Não
mais me curvarei, pois abaixar pressupõe poder levantar.
Tomo essa decisão amarrando meu cadarço. Desvio meu olhar e
meus olhos vão ao encontro de uma criança. Reparo em seus pequeninos tênis
também desamarrados e no sorriso do seu rosto. Ela tenta amarrar de forma
atabalhoada e sorri para mim. Eu retribuo, olho para o cadarço e penso. Ainda
posso levantar mais vezes.
https://www.youtube.com/watch?v=F8rANgLkilk
ResponderExcluir"O vento do norte não movem moinhos"
Desculpe,
Excluir"Os ventos ..."
Correção anotada. Não sabíamos desta característica moageira, especialmente nós, que dependemos de boa farinha para resistir à umidade sem virar cola de figurinha.
ExcluirGosto muito de alguns dos nossos artistas. Um deles é o Ney. Gosto da frase que citei. Quando ventos do sul encontram os ventos quentes do norte transformam-se em chuva, perdendo a força com que poderiam mover moinhos. Temos que moer a nossa própria farinha. A nossa vida "do lado debaixo" do Equador é um constante abaixa, levanta.
ResponderExcluirMinha neta e eu amamos a "A vida é um cadarço"
O redator desta edição parece neto, mas não é. Talvez venha daí a conexão com sua neta. De minha parte, esclareço que cadarço não tem vez.
ExcluirA conexão é com a literatura. rs
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