Total de visualizações de página

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

2770 - Música, divina música


 

 

------------------------------------------------------------------

O BISCOITO MOLHADO

Edição 5020                               Data: 07  de  janeiro de 2014

------------------------------------------------------------------

 

SABADOIDO DA VOZ DA  BILLIE HOLLIDAY AO TECLADO DO DANIEL

PARTE II

 

-Não é só o Daniel que filma os seus concertos no aconchego do lar e, depois, posta no Facebook. - falei em tom de brincadeira.

-Carlão, antes de o Mark Zuckerberg pegar as ideias dele e as dos outros para criar o Facebook, eu já filmava os meus concertos.

-Isso é verdade. - interpôs-se a Gina.

-Quando surgiu o Facebook? - perguntei.

-Em 2004. - respondeu ele.

-Uma colega minha mostrou, no smartphone dela, para todos do nosso trabalho verem o seu neto tocando piano no Colégio Santo Agostinho.

-Deve ser uma dessas festas de fim de ano escolar. - manifestou-se a Gina com alguma displicência.

-Ela mesma filmou? - interessou-se o Claudio.

-Estou chegando a conclusão que as avós são mais corujas do que as mães. - comentei.

Em seguida a essas minhas palavras, fui em frente.

-Ele tocou uma música conhecida, mas o nome já me escapou e, depois, uma música da sua lavra.

-Era mesmo?- duvidou a Gina.

-Creio que sim, pois ele tocou um tema, sem desenvolvê-lo, muito curto e passou logo para o segundo. Não foi além de um minuto.

-Eu componho, mas o mundo ainda não entendeu a minha música.

-Daniel, você é como Villa Lobos que considerava a música dele cartas que escrevia à posteridade sem esperar resposta. - disse-lhe.

-Carlão, mesmo na minha casa, não me incentivam.

-Daniel, você, na verdade, joga um acorde em cima do outro, uma composição não é só isso.

-Mas o que tem esse menino de que você estava falando? - interessou-se a Gina.

-No meio dos elogios dos meus colegas de trabalho à apresentação dele, pedi que todos esperassem e coloquei, no meu computador, o vídeo do Daniel tocando “It's a Wonderful World”.

-Tocando e cantando. - manifestou-se o seu pai.

-Carlão, você não fez uma coisa dessas...

-Daniel, esse vídeo é bem anterior ao surgimento do Facebook, devia ser do ano 2000.

-Mas eu já era grandinho, Carlão.

-Seus amigos, Carlinhos, devem ter achado a voz do seu sobrinho um pouco rouca. - aludiu a Gina à mimica que ele fez do Louis Armstrong.

-Pena que não encontrei, nos meus arquivos internéticos, o Daniel tocando “We are The Champions”, em homenagem aos dez anos da morte do Freddie Mercury.

-Você iria mostrar? - assustou-se ele.

-Claro. Outra amiga minha lamentou não ter trazido o filme da sobrinha dela, de sete anos de idade, saltitando no balé “Quebra-Nozes” numa apresentação escolar.

-Vocês não trabalham não?! - bradou meu irmão.

-Claudio, nessa época de fim de ano, a carga de serviço cai muito, só não cai para os que apuram as corrupções no Brasil.- respondi.

-Carlão, você está estragando a minha imagem.

-Ri com a observação dele e voltei-me para a minha cunhada:

-Por que você diz que aquela menina que aparece tocando piano, violino e um instrumento indiano é filha do Daniel com a Yoko Ono?

-Primeiramente, porque ela é japonesa e, depois, porque antes de ela acionar a filmadora, olha fixamente para a câmera e faz uma expressão engraçada para a plateia do Facebook.

-Nessa questão de ela ser minha filha com a Yoko Ono, discordo completamente, agora, esses gestos antes do início dos concertos, são invenções minhas. Vou processá-la por plágio.

-Se precisar de um advogado... meus honorários são de pai para filho. - ofereceu-se o Claudio.

-Não sei se vocês se lembram...

-De que, Carlinhos? - apressou-me a Gina.

-Postaram no Facebook, poucos anos atrás, um menino de menos de três anos regendo, com uma batuta,  uma sinfonia de Beethoven cujo som vinha de uma caixa de som. Jônathas!... esse era o nome dele, recordo-me agora.

-O que tem o Jônathas, Carlão?

-Ele regia, enquanto se ouvia, ao fundo, os risos da mãe. No final, o vídeo tem uns três minutos, a batuta voa da mão dele e o garoto vai ao chão de tanto rir. O espantoso é que, acompanhando a música do Beethoven e a gesticulação do Jônatas, se constata que ele acerta a marcação dos compassos.

-É... - expressou o Daniel seu ceticismo monossilabicamente.

-Uma prima minha, a Marisa, comentou que, vendo isso, acredita mais ainda no espiritismo. Um, mais gozador, leu esse comentário e fez o dele em que dizia que o Jônathas estava bem vivo.

-Ele não entendeu, Carlinhos. Um garoto de três anos, como você disse, não tem condições de reger uma sinfonia, no entanto, mostrou  conhecimento musical, então, há alguma coisa além. - falou a Gina, agora, seriamente.

Procurei mudar de assunto.

-Está difícil aturar este calor. Como dizia o papai: “O caldeirão do diabo fica no Méier”.

-Parece que fica mais quente a cada ano. - disse a Gina.

Meu irmão tomou a palavra:

-O calor aumenta porque asfaltam ou cimentam tudo. Veja o terreno da igreja Nossa Senhora do Rosário onde a mamãe assistia às missas: tinha até campo de futebol-society; asfaltaram aquilo tudo para aumentar o espaço para estacionamento. Antes, a terra absorvia o calor, agora, não, o asfalto reflete o calor e ele se torna pior. E, assim, é por quase toda a cidade.

-O meu maior sofrimento com o calor, Claudio, ocorreu numa fiscalização do Terminal Marítimo da Brasfels em Angra dos Reis.

-Brasfels?!... - estranhou.

-Era o antigo Estaleiro Verolme, que até ações na Bolsa de Valores teve. Quando a empresa faliu, o pessoal que tinha ações, segundo os gozadores, cantaram “Entrei de gaiato no navio”.

-Essa música dos “Paralamas do Sucesso” eu conheço. - interpôs-se a Gina.

-Enquanto falávamos o som do teclado do Daniel vinha do seu quarto até nós na cozinha.

-Caminhamos no sol do meio-dia de fevereiro, pelo terminal,  eu e mais dois fiscais, por volta de uma hora. O sol reverberava naquelas chapas de aço, e a sensação era que estávamos no inferno.

-Pensa na vitamina D, no lado bom. - pilheriou a Gina.

-Na empresa, tivemos de vestir um casaco igual a dos nossos acompanhantes, grosso, onde não ficava um pingo de suor. Suávamos por dentro; quanto tirei aquele casaco, no banheiro, não havia um milímetro quadrado da minha camisa que não estivesse suada.

-Imagina os operários. - interveio o Claudio.

-Nossos acompanhantes disseram que colocam centenas de garrafas com soro caseiro para os operários beberem sempre que necessário.

-Não é difícil fazer soro caseiro, é só saber a quantidade certa de açúcar e sal que se vai misturar na água.

Com essas palavras, Gina se levantou e foi para o interior da casa. Voltei-me para o meu irmão.

-Sabia, Claudio, que o Dave Brubeck lutou no 3º Exército do General Patton?

-E voltamos a falar de Jazz.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário