Total de visualizações de página

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

2768 - Cem anos de atuação


 

 

 

                                                                                                                                                                       ------------------------------------------------------------

O BISCOITO MOLHADO

Edição 5018                                 Data: 05  de  janeiro de 2014

---------------------------------------------

 

CARTAS DOS LEITORES SOBRE LILLIAN GISH

 

Na visita da Lillian Gish à redação do Biscoito Molhado, falou-se pouco da infância da atriz. Ela também foi uma criança sofrida como nos filmes do Griffith, principalmente. Donatelo

BM: É verdade. O seu pai, abandonou a família quando ela era muito criança; sua mãe, então, se tornou o arrimo da família. Elas se mudaram, em consequência, para uma cidade de Illinois, onde viveram algum tempo com Henry e Rose McConnell, tio e tia da Lillian. Lá, sua mãe abriu um estabelecimento com o pomposo nome de Majestic Candy Kitchen, onde Lillian e sua irmã Dorothy vendiam pipocas e doces para os donos do Majestic Theater localizado na vizinhança.  Enquanto isso, as duas irmãs frequentaram o St. Henry's School onde atuaram em peças escolares

As meninas voltaram para Ohio, mas a cidade, agora, era Massilon, e foram viver com outros tios. Lillian soube, então, pela sua tia Emily, que o pai se encontrava gravemente doente em Shawnee, cidade de Oklahoma. Ela, que mal o conhecera, não guardou ranror, e viajou para lá, onde o reviu no Oklahoma City Hospital. Lillian passou a viver, dessa vez,  com outros tios, Alfred Grant e Maude Gish, em Shawnee, e frequentou a escola de lá. Lillian, sempre muito ligada à irmã Dorothy, escreveu-lhe que pretendia prosseguir os estudos por lá. Seu pai, no entanto, não viveu muito, e ela teve de sair de Oklahoma e retornar a Ohio. Daí, foram para Nova York. Sua mãe se tornaria atriz, ela e Dorothy também... Essa parte foi bem resumida por ela quando nos visitou.

 

-O redator do Biscoito Molhado disse que o filme falado, com a Lillian Gish, que mais o marcou foi “O Mensageiro do Diabo”, de 1955, dirigido pelo Charles Laughton e protagonizado pelo Robert Mitchum. Concordo com ele; eu não esqueço aquele pastor assassino com os nós dos dedos tatuados com as palavras “amor” e “ódio” e da velhinha, que era a Lilian Gish, com uma Bíblia e uma espingarda, defendendo a vida das crianças. Num evento em que a legendária atriz foi homenageada, Robert Mitchum fez um depoimento que deixou todos emocionados, inclusive ela, que continuava bonita perto dos 80 anos. Rafael

BM: Nós temos esse depoimento nos nossos alfarrábios e vamos transcrevê-lo. 

-”Há uns 30 anos, quando eu estava sem fazer nada em casa, em um domingo à tarde, o telefone tocou, eu atendi e uma voz disse: “Robert, é Charles Laugton; vou mandar um livro para você ler que tem um personagem desprezível, um vilão completo. Era um presente para mim, e me envolvi na produção. Na discussão, perguntei sobre Rachel, a árvore com muitos galhos para muitas pessoas. Eu imaginei uma mulher grandalhona que estávamos acostumados a ver em muitos faroestes americanos. Ele disse: “Lillian Gish”.  Eu respondi: “Mas ela é como a decoração no alto de uma árvore de Natal. Ela tem certa fragilidade e sorri como um anjo”. Charles Laughton disse: “Vou mostrar a fragilidade dela”.  Ele me levou até o estúdio e exibiu “Horizonte Sombrio”. Ela estava em uma placa de gelo. Pelo que me lembro, me parecia o Rio Niágara. Na cena seguinte, apareceram as cataratas e ela estava lá. Não havia nenhum efeito especial. A menos que a puxassem com uma corda pelo pescoço, ela ia cair. Não é o tipo de coisa que eu faria. Fiquei impressionado, e ela chegou para as filmagens. Ela era a essência da graciosidade e sorria como um anjo. Lillian Gish era a cola que segurava a coisa toda. É um filme com uma cena que será lembrada para sempre, e isso se deve, em grande parte, à chama interna e a determinação que está na personagem da Senhorita Gish. É um prazer e um orgulho estar aqui e poder falar da minha admiração por ela.”

 

-Como foi Lillian Gish do cinema mudo ao falado passando pelo teatro? Leonardo

BM: Aqui vai uma rápida pincelada. Lillian Gish atuou em vinte e cinco curtas-metragens nos dois primeiros anos da sua carreira no cinema. Ela logo se tornaria uma grande estrela, ficando conhecida como “A Primeira Dama da Tela Silenciosa - “The First Lady of the Silent Screen”. Ela apareceu em pródigas produções, frequentemente baseadas em obras literárias como “Scarlet Letter”, filme de 1926 que receberia nova versão em 1995, com Demi Moore no lugar da Lillian Gish. A MGM lançou, com ela, em 1928, o filme “The Wind” que fracassou nas bilheterias, mas, com o passar dos anos, recebeu o destaque merecido, além de ela ser reconhecida como uma das suas melhores atuações.

 Quando ainda fazia dupla com David Griffith, ela dirigiu, em 1920, “Remodeling Her Husband”, “Aperfeiçoando Seu Marido”, seria a tradução mais correta, ao novo ver. Griffith disse a ela que pensava que um elenco dirigido por uma mulher trabalharia mais duro, mas não foi o que aconteceu, e ela decidiu nunca mais dirigir um filme. “Dirigir fitas é trabalho de homem” - disse ela em 1920.

Com o advento do cinema falado, o sucesso de Lillian Gish passou a ser discreto. Ela foi, então, para o teatro, onde trabalhou de 1930 até os primeiros anos da década de 1940. Lá, atuou em variados papéis, foi Ofélia, em Hamlet, uma produção de 1936, que contou com John Gielgud e Judith Anderson. Também personificou “Marguerite” em “A Dama das Camélias”. Orgulhava-se da sua atuação como Ofélia dizendo que representou uma Ofélia lasciva.

Em 1946, voltando ao cinema, Lillian Gish foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo sua atuação no filme “Duelo ao Sol”. Ela faz uma personagem doente que, mais tarde, morre; parece que a intenção era evocar a memória dos filmes silenciosos em que Lillian Guish tanto se destacou.

Até o resto da sua vida quase centenária, atuou esporadicamente no cinema, como, em 1955, “Night oh de Hunter”, “O Mensageiro do Diabo” a que já nos referimos.

Lillian Gish, depois de representar no cinema e teatro, rumou a sua carreira para a televisão, onde ficou, grosso modo, da década de 1950 a 1980. Obteve sucesso nessa nova fase, principalmente na produção de 1953, “Trip to Bountiful”.

Na Broadway, foi aclamada no musical “Anya”, de 1965.

Incansável, viajou e fez palestas sobre as grandes obras do cinema que surgia com a sétima arte.

Em 1980, Lillian Gish foi entrevista para o documentário televisivo, de 1980, “Uma Celebração do Filme Silencioso Mudo”.

A sua última aparição no cinema se deu em 1987, “The Whales of August” - As Baleias de Agosto”, com Vincent Price, Bette Davis e Ann Sothern; tinha 93 anos de idade. E, como artista no teatro, a sua última aparição foi na produção de 1988 de “Show Boat” de Jerome Kern, estrelado por Frederica von Stade e Jerry Hadley.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário