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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

2244 - chuva de empadas

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4044                              Data: 15  de outubro de 2012
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SABADOIDO CONECTADO COM O CEARÁ

Chuviscava? Olhei pela janela do meu quarto e vi o chão tão molhado quanto na hora em que caminhei, resolvi, então, ir ao Sabadoido sem guarda-chuva. Não fui adiante 200 metros e desceu uma garoa. Segui em frente, pois vencidos mais 200 metros e eu poderia seguir sob as marquises da Avenida Suburbana.
-Vamos pra dentro, filho, para não se molhar. - disse a dona do bazar do lado da barbearia do Fonseca, que levara seu cachorro para passear.
Nesse momento, eu já estava rente às paredes para me manter seco.
-Terei de parar em frente à casa da Gina, mas lá existe uma frondosa árvore para não deixar os pingos d' água caírem sobre mim.
Fui traído pela memória. Dez dias atrás, o forte vento jogou os galhos dessa árvore sobre as telhas da sua casa e da vizinha quebrando-as. Convocadas as autoridades, constatou-se que vários pontos da dita cuja se esfarelavam a um simples espremer de dedos, assim, ela foi podada a meio metro da raiz.
Recebendo a chuva em cheio, gritei pelo Claudio, no portão. Ainda bem que o meu sobrinho não demorou mais do que um minuto para me abrigar.
- Daniel, que você chegou com a presteza dos beques do Fluminense para afastar o perigo.
-Vamos ver o Fluminense amanhã. - disse meio apreensivo.
-O Claudio lê o jornal?
-O velho saiu, mas a minha mãe está em casa.
Na cozinha, eu e ele conversamos sobre os dois jogos a que assisti em São Januário. Num deles, o Fluminense derrotou o Bonsucesso por 4 a 2, com o quarto  gol feito pelo Escurinho num contra-ataque; no outro, ocorrido no início da década de 60, a partida foi transferida do estádio de Caio Martins para lá, com portões abertos.
Nesse instante, a Gina apareceu e o Daniel adentrou os outros compartimentos da casa. Relembramos os áureos tempos do Colégio Estadual Visconde de Cairu, embora eu estivesse três anos adiantados sobre ela por ser mais velho.
-A bateria do Daniel está arriada. - mudou ela de assunto.
-A máquina pede movimento e o Daniel fica muito parado. - diagnostiquei.
-Daqui a pouco, espero, um funcionário da Bradesco Seguros vem ver o carro dele. - informou.
Nesse instante, meu sobrinho reapareceu e anunciou que o cybercafé estava à minha disposição.
-Obrigado Daniel, há um filme do Dieckmann que eu ainda não vi.
-Ele é bom de cinema? - mostrou-se curioso.
-Nesta semana mesmo, usou de ironia porque escrevi que rotulou “Era uma vez no oeste” e “Três homens em conflito” como western spaghetti, dizendo que a expressão não era dele. O que eu quis dizer era que filmes como Trinity e outros meio cômicos se ajustam na expressão depreciativa western spaghetti, não os dois que citei, de Sergio Leone, duas autênticas obras-primas, haja vista os artistas envolvidos, Clint Eastwood, Henry Fonda, Eli Wallach, mais o músico Ennio Morricone. (*)
-E foram os italianos, ou ítalo-americanos que realizaram os melhores filmes de gangsters de Hollywood. - enfatizou o Claudio, que chegava com algumas sacolas do Wal Mart.
-Bem, vou assistir ao filme do nosso polemista Dieckmann.
Diante do computador, acessei o filme da Triumpho 30 Produções “Empadaria de Olinda”.  O título já me deixou intrigado; por que empadaria e não frevo? É verdade que o cineasta de Santa Teresa se aborrece com as manifestações carnavalescas porque dificultam a circulação dos seus carros clássicos, no bairro, enfartando as vias públicas.
Empadaria?... Certamente se trata de mais um dos seus filmes gastronômicos em que mostra o filho Fred preparando empadas de nos deixar salivando mais do que o cachorro de Pavlov.
Chega de especulações! Cliquei o play do vídeo e a câmera foi toda tomada por um ventilador de teto elaborado com tanta arte que não deve fazer vento,
-Deus do céu, o que é isso? - aumentou o enigma.
Parece o monolito do filme “2001, Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, que ninguém soube explicar.
Num travelling de câmera, digno de Orson Welles do Cidadão Kane, chegamos a uma exposição de carro, e eu pensei se aquele “ventilador de teto” não era, na realidade, uma ventoinha.
Viu-se, então, um Corvete 1963 Split Window; em seguida, um Porsche 914 – 1974. Depois, belo e fagueiro, brilhando mais do que o Fernando Henrique Cardoso numa palestra, lá estava o Jaguar XK 120 – 1950, de propriedade do Dieckmann. E pensar que eu não sei onde se encontra, aqui em casa, a fita VHS com os 40 minutos de entrevista que o Dieckmann concedeu à Renata Vasconcelos da TV Globo  que culminou numa carona nesse Jaguar  pelas ruas de Santa Teresa...
Admirando esses carros do vídeo, veio a pergunta que não queria calar:
-E o Puma do Vicente da Petrobras?
Em seguida, apareceram o Sergio Strongs, a Branca, o próprio cineasta, que tem a mania do Alfred Hitchcock de se mostrar nos próprios filmes e uma personalidade que foi anunciada com nome e sobrenome, mas que me escaparam da memória.
A trilha sonora foi constituída de clássicos da bossa nova com exceção de Palpite Infeliz, de Noel Rosa que, no entanto, foi interpretado pelo João Gilberto.
Corte, e outra cena foi filmada.
-Aqui, neste tupperware, temos as famosas empadinhas da Dona Olinda. - afirmou o Dieckmann.
-A Dona Olinda de São Cristóvão? - perguntaram em off.
-Sim.
-Aquela perto da delegacia?...
Em seguida, a câmera exibe a empadaria da Dona Olinda, uma senhora sorridente, e a sua maestria na confecção das empadas.
Com mais um sucesso do gênero bossa nova, os créditos correram pela tela do computador e a fita chegou ao fim.
Segundo o crítico de cinema deste periódico, trata-se de um filme gastroautomobilístico e a sua cotação é bonequinho comendo.
-Vagner está vindo para cá, Claudio. - anunciou a Gina.
-Parece que a chuva  parou. - manifestou-se meu irmão.
Procurei, em seguida, as mensagens eletrônicas enviadas pelo Elio Fischberg e me deparei com o comentarista da Rádio Band News, Salomão Schartzman, que se reportava ao Yom Kippur. Falou do pai e de uma das mais significativas demonstrações da religiosidade judaica. Depois, anunciou Al Jolson, que eu conhecia somente pelo primeiro filme sonoro do cinema e pela canções de Gerswhin, cantor de voz de timbre grave impressionante. Salomão Schartzman, também falou de Barbra Streisand, e a maviosa voz dela seguiu a do “Cantor de Jazz”.
Estava tudo muito belo naquele ritual do Dia do Perdão, quando vozes vindas de longe anunciaram o início do Sabadoido.

(*) Westernspaghetti não se aplica ao triniti. Foi mesmo o rótulo dado aos filmes western feitos fora de Hollywood, principalmente na Espanha e na Itália. Isto não quer dizer que sejam todos ruins, como a expressão Bollywood, aplicada ao cinema indiano, também não é pejorativa. Quanto às produções do Sergio Leone, mencionadas pelo redator do seu O BISCOITO MOLHADO, cabe dizer que muita gente as aprecia. Não é o caso do Distribuidor deste periódico, que as considera chatíssimas, a ponto de não conseguir vê-las. Há muitos outros westerns do mesmo período, com artistas de renome, feitos aqui e ali que também não despertaram a sua atenção. Parece ser mais um problema decorrente da época do que da geografia.




Um comentário:



  1. É isso aí Carlinhos!!!Estou sempre lendo o Biscoito molhado e com isso, mato um pouco da grande saudades dos amigos do Cachambi.Saudações aos confrades do SABADOIDO.

    Forte abraço

    Chico

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