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terça-feira, 16 de outubro de 2012

2241 - dia de eleição

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4041                              Data: 11  de outubro de 2012
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ELEIÇÕES DE 7 DE OUTUBRO

Chamou a minha intenção para a escolha do prefeito do Rio de Janeiro nesse 7 de outubro, primeiramente, uma crônica dominical do Caetano Veloso no Globo.
O nosso compositor se reportava a um artigo de clareza meridiana, segundo sua ênfase, da atriz Fernanda Torres, que enaltecia o Marcelo Freixo como candidato a prefeito. Na ocasião, Caetano Veloso expressou a sua inveja pela certeza demonstrada no texto da sua amiga. Ele, provavelmente, fazia charme, para usar uma expressão popular de influência francesa. Caetano Veloso é filosófico, por isso, não expõe certezas absolutas, a tese e a antítese se chocam nas suas  verbalizações ou escritos para que a síntese brote.
Resumindo: ele se convenceu que o Marcelo Freixo era, de fato, o melhor candidato e bandeou inúmeros artistas para o seu lado, inclusive o Chico Buarque de Holanda.
Embora a minha ideologia não se harmonize com o PSOL, partido do candidato em questão, aceitei, a princípio, dar-lhe meu voto, afinal, um prefeito cuida da cidade e não de ideias que combateram o capitalismo selvagem do século XIX e por lá ficaram.
As semanas e até um mês ou dois transcorreram e a minha convicção em votar no Marcelo Freixo aumentou.
-Marcelo Freixo enfrentou as milícias. - ouvia eu de um e outro eleitor.
Meu irmão mais novo, nas poucas vezes em que eu tocava no assunto com ele, revelava-me que ele é um dos heróis do filme Tropa de Elite 2 pelo fato de ter enfrentado o poderio das milícias.
Por que ele não fugiu do país como Serpico? - foi a pergunta que se calou dentro de mim porque, na realidade, eu não estava muito entusiasmado com essas eleições. Para ser sincero: eu, que gosto dos dias de eleição, do vai e vem cívico das pessoas, considerava essa eleição, para empregar uma palavra corriqueira aos portugueses, uma estopada.
Meu irmão insistia em tecer elogios à fita Tropa Elite 2, alertando-me que já estava na programação do telecine da TV a cabo, mas eu não me animava a assistir-lhe. Vira o Tropa de Elite 1, gostei da denúncia à hipocrisia das classes socais mais abastadas que consomem  drogas e depois se agrupam em passeata contra a violência. Acredito que o meu pouco ânimo para atender a recomendação de ver o segundo filme residia no fato de ele me cheirar a algo requentado.
Resumindo: não me interessei pelo Marcelo Freixo glamourizado pelo cinema.
Com os taxistas da cooperativa Metrô Táxi, que a Rosa Grieco não leva muito a sério, mas que nos pode surpreender com uma sabedoria, ouvia críticas ao Eduardo Paes, candidato à reeleição, porque só sabia recolher dinheiro.
-E o Freixo?
-Foi bom porque conduzi um passageiro até àquele comício que houve no Centro naquela sexta-feira de chuva e me rendeu um dinheirinho. - respondeu um deles.
Surpreendi-me, então, rumo à estação Carioca do metrô com o Marcelo Freixo, no meio da multidão, distribuindo santinhos.  Nesse exato momento, senti uma picada de pulga atrás da orelha, e me perguntei:
-”Ele não corre risco de vida por contrariar os interesses dos milicianos?”...
Seguranças por perto para protegê-lo?... Não, ninguém primava por um corpo musculoso nas proximidades e nem portava óculos escuros. Nem mesmo um gorducho, murmurei quando me veio à mente o “Segurança do homem”, personagem do Jô Soares na época em que o homem era o presidente João Batista de Figueiredo.
Dias depois, conversando com uma colega de trabalho, as eleições vieram à baila.
-Vou votar mesmo no Eduardo Paes. - afirmou sem muito entusiasmo.
-Ele, por todos os institutos de pesquisa, ganha no 1º turno, assim, não precisamos nos incomodar mais, por este ano.
-Não é isso, os outros candidatos não são grande coisa. - retrucou.
-Não melhorou, para você, que mora em Campo Grande, depois da atuação do Deputado Estadual Marcelo Freixo, como presidente da CPI que apurou os crimes dos milicianos?
-Carlinhos, milícias não faltam em Campo Grande e um suspeito foi fotografado belo e fagueiro no meio de um comício do Freixo.
Quando li uma reportagem sobre os candidatos a prefeito em que o político multimencionado declarava a sua aprovação aos bailes funks, meu voto nele foi enterrado definitivamente.
-Eu voto nulo, e fim. - declara sempre o Cláudio, meu outro irmão.
O meu problema é esse, eu nunca voto nulo, mas não existe um só candidato à prefeitura do Rio de Janeiro que me dê forças para digitar dois algarismos e, depois, a tecla, verde, da urna eletrônica.
E com o passar dos dias, eu me inteirava das notícias:
“Será impedida a entrada do eleitor na cabine de votação com celular.”
A razão desse impedimento se devia ao fato de os bandidos obrigarem as vítimas a fotografarem o candidato do seu voto, na urna eletrônica, provando, assim, que a quadrilha não está sendo enganada.
Eu também não tinha preferido para vereador. Aliás, assustei-me, quando me deparei, na esquina da Sete de Setembro com a Avenida Rio Branco, com um enorme cartaz do Wilson Leite Passos. Perguntei-me se ele ainda estava vivo, pois na década de 40 ou 50, entrou no meio de um tumulto provocado por uma peça do Nélson Rodrigues dando tiros no teatro. O teatrólogo afirmou que o vereador queria balear o seu texto. Mais tarde, tornaram-se amigos.
Não, não votarei no longevo Wilson Leite Passos para vereador, apesar de não ter enriquecido nessas décadas de exercício da política.
Dia 7 de outubro de 2012. Iniciei a minha caminhadas às 5h 30min da manhã e, como de costume, testemunhei a chegada dos primeiros eleitores ao Colégio Manoel Bomfim, às 6h.
Às 10 h da manhã, fui à casa do meu sobrinho porque pretendia passar as fotos do meu aniversário-surpresa da máquina fotográfica para um pendrive. No meio desse processo, eu me decidi: votaria na Aspásia Camargo e na legenda do PSDB para o legislativo.
-Vai para casa, agora, Carlão? - quis saber meu sobrinho.
-Daniel, vou pegar um táxi para votar.
E assim fiz. O taxista, um jovem falante, confessou-me que ainda não votara.
-Ninguém enfrentou fila e eu espero encontrar a mesma tranquilidade.
Tomei a palavra:
-No lugar onde voto, só mofei uma vez na fila: mais de vinte candidatos pretendiam ser presidente da República: Eneias, Marronzinho, Aureliano Chaves, Ronaldo Caiado....
-É naquela rua que sobe onde você vota?... - interrompeu-me.
-Naquela mesma. - confirmei.
A dois metros da urna eletrônica, o marasmo era tamanho que nenhum mesário quis saber o que eu carregava na pochete: um celular e uma máquina fotográfica.
  


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